O suicídio é um dos assuntos de saúde pública aqui no Brasil que demanda nossa atenção e tempo para falar sobre ele. É preciso que se tenha a mídia “esclarecida” e consciente de sua função social como aliada para a divulgação das formas de prevenção desse auto-extermínio.
Até que ponto falar em suicídio é uma possibilidade na mídia nos dias atuais? Quais as razões específicas que a faz colocar o “assunto para debaixo do tapete?”, segundo André Trigueiro*, jornalista, um dos palestrantes no evento promovido pela UERJ – “Suicídio: vamos prevenir?”, em 01 de outubro.
Será por que o assunto é “pesado”, não agrada o público do rádio, do jornal, da televisão e da internet? Ou talvez porque se noticiando sobre o suicídio, no entendimento da maioria dos veículos de comunicação de massa, existirá a possibilidade de se despertar e estimular novos casos a partir da imitação ou mimetismo, cuja definição seria “o processo através do qual a notícia serve de inspiração a repetição do ato”.
O jornalista expõe que cada veículo de comunicação dispõe de seu manual de redação. É nele que se define a sua linha editorial, com regras do uso correto da língua portuguesa e do modo como se abordar determinados assuntos, dentre eles o suicídio. Há uma indicação de que é preciso que se tenha cautela em abordá-lo. Quando muito, se disponibiliza a notícia se não for irremediável. A verdade que se apresenta mesmo é que não se “fale em suicido”.
E como mudar tal situação? É preciso que se fale a respeito. Asseguram os profissionais da Saúde Mental, psiquiatras e psicólogos; que é necessário que a mídia traga o assunto à tona. Ampliar a discussão, mas dentro de parâmetros de bom senso, de forma apropriada, com cuidado para se noticiar acerca do suicídio.
A mídia tem meios de espraiar as possibilidades acerca de sua prevenção, porque ele é previnível. É preciso que se faça com os veículos midiáticos parcerias que são estratégias, do mesmo modo em que se busca a prevenção, tratamento e cura de outras doenças que são menos letais que o tema, como Dengue, AIDS/HIV, Doenças Cardiovasculares, Câncer de Mama, Hipertensão, Diabetes, Tabagismo, “Gripe Suína” etc. e outras campanhas importantes como o aleitamento materno, vacinação infantil e exames preventivos por exemplo, acrescenta Trigueiro.
No seu olhar, um dos pontos significativos é o de que em sua maioria, os profissionais da mídia brasileira ignoram que de acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS, o suicídio é um caso de saúde pública mundial. O que perpassa também para a maioria de nossa sociedade, ou seja, não sendo um profissional da área de saúde mental, as chances de se ignorar tal questão é enorme. Daí uma série de mitos e tabus se estabelecem sobre este processo de violência interpessoal, configurado por várias expressões da questão social.
Para ele a omissão que os veículos midiáticos fazem sobre o suicídio e sua prevenção é “preconceito sim” e “é um preconceito que nos custa caro”. Aponta a necessidade que essa comunicação se efetive, pois assim, é possível que para a sociedade se aponte um “norte magnético”, através do qual se poderá proporcionar uma diminuição nas estatísticas, cada vez mais alarmantes dos casos e tentativas e, como conseqüência mudando o quadro em que a sociedade não fale sobre o assunto.
Dez de setembro é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Seguindo sua postura de falar sobre o assunto com responsabilidade, Trigueiro fez, na véspera, na rádio CBN, na coluna Mundo Sustentável seu comentário, onde trouxe a fala de Dr. Enio Resmini, uma das mais conceituadas autoridades sobre o assunto, professor da PUC-RS. Um adendo, o estado do Rio Grande do Sul, segundo as estatísticas, é o estado que ocupa a primeira posição em incidência de suicídios.
Vivemos num mundo em que se perpetua o individualismo, a concorrência no emprego, a disputa do primeiro lugar em todos os níveis da vida. Isto implica na falta de tempo para que as relações sociais e afetivas se estabeleçam na base de trocas. Esse pode ser um ponto a ser levado em conta.
André Trigueiro enfatiza uma das sugestões da OMS em divulgar locais em que se prestam serviços de saúde mental e linhas de “ajuda”. Aponta o Centro de Valorização da Vida, a instituição na qual é voluntário e colaborador, que nos 47 anos de existência tem tido um papel importante de prevenção do suicídio, mesmo sem o espaço necessário na mídia para a divulgação dos cursos de voluntários, porque o assunto é estigmatizante, é um tabu. Mesmo que seja em nível de prevenção o C.V.V. é tão procurado por tanta gente. É onde se estabelece o diálogo, com empatia e atenção através do telefone 141, onde “ quem liga é quem determina a hora de desligar”.
O enfoque dado à questão midiática aqui sobre o suicídio tem o propósito de se espraiar o assunto; o interesse em não ignorá-lo.
Em 1999, a OMS lançou uma iniciativa mundial sobre a prevenção do suicido, o SUPRE (Suicide Prevention Program). Como parte do SUPRE foram elaborados alguns materiais disponibilizado a partir do ano de 2000. Foram guias, manuais destinados a grupos sociais, profissionais específicos que lidam com a questão e que tem um norte de serem relevantes para preveni-lo.
A linguagem do material é de modo acessível a quem se interesse pelo assunto e que queiram fazer o papel de formadores de opinião de modo pedagógico.
O interessante que especificamente, há o manual que atinge a médicos generalistas, os quais muitas vezes têm dificuldades, de pronto, perceber em seus atendimentos, os pacientes que precisam de atendimento específico na área de saúde mental. Outros profissionais que receberam também o material específico foram os professores e educadores. Por lidarem com adolescentes, na faixa etária entre 15 a 19 anos, cuja incidência de morte por suicídio está entre as cinco maiores causas no mundo e, em alguns países a primeira ou segunda causa de morte de meninos ou meninas, segundo dados do ano de 2000. A mídia também foi contemplada com o seu manual, que numa década, conclui-se que poucos jornalistas tiveram conhecimento e acesso.
No encerramento de sua fala, André Trigueiro destaca o pioneirismo e coragem da UERJ, em falar sobre o suicídio e sua prevenção. Classifica o fato como um marco histórico. Faz a sugestão de como acontece em algumas instituições, como por exemplo, a Fundação Getúlio Vargas, veiculada a economia e, outras que tratam de outros científicos, preparar mais os profissionais da mídia, para falar de corretamente e com precisão, os assuntos que são matérias a serem veiculadas. O seu olhar é de a mídia que tem uma dívida com a sociedade.
**Nelma Espíndola.
Assistente Social.
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*André Trigueiro, jornalista, âncora do Jornal das Dez da GloboNews; comentarista da rádio CBN, professor da PUC-RJ.
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