sábado, 10 de outubro de 2009




I – Dia 12 de outubro – A pureza da resposta das crianças é a vida



Dia das crianças, mas também ocasão de refletir sobre a ciranda de consumismo a que muitas delas estão expostas, ao ver TV, navegar na Internet ou folhear revistas.


Você abraçou seu filho hoje? Parou para ouvi-lo? Fez um programa especial com ele ? Não duvide ! É disso que ele sente mais falta.

Contra a manipulação do afeto e da ascendência que hoje as crianças e adolescentes exercem nas compras de produtos efetuados pelos pais no Brasil e no mundo, o blog M&QS convida-o a assistir três excelentes vídeos realizados por equipes de pesquisadores e especialistas no assunto. O tema, porém, é o mesmo: a criança e o consumo.

Se você se interessa por ética e cidadania, e se preocupa com o futuro que estamos construindo individual e coletivamente, lançamos um desafio: que tal, daqui para frente, começar a fazer a sua parte e aprender a dizer « não » aos apelos que começam em casa : « compra ! » « compra ! » « compra, vai ! », e a (re)descobrir a noção de suficiente ?

II - Criança gosta mesmo é de brincar
Como já cantava Gonzaguinha, « eu fico com a pureza da resposta das crianças ! / É a vida, é bonita e é bonita, é bonita./ Viver e não ter a vergonha de ser feliz/ (…) A beleza de ser um eterno aprendiz ! ».


Como diz Muller et alii (2007), « ser criança e ter infância não são expressões sinônimas ». Há elementos em comum relacionados ao que é específico da criança, mas outros determinados pela classe social, o que corresponde a possibilidades distintas quanto à capacidade de aquisição de bens – simbólicos e materiais - de uns e de outros. A condição da infância é percebida por eles, no entanto, de modo geral como um campo de sonhos, ou seja, a vida para a criança é, a priori, uma aventura rica em possibilidades. Eles alertam para o papel dos adultos – pais e avós – nessa relação da criança com o brincar e o criar. Dizem :

Cada tempo controlado, planejado pelo adulto para ela sem sua opinião, cada espaço reduzido e cada tempo corrido vão empobrecendo a experiência corajosa, destemida, atrevida, imaginativa, desafiante, enfim, vital do ser humano que leva consigo sua história. (Muller et alii, 2007)

Brincar integra a experiência humana e o leque de direitos ligados à educação, à cultura e ao lúdico. Por isso, a criança precisa brincar, muito e bem. As crianças, porém, têm sido submetidas, muitas vezes, ao ritmo de vida dos adultos, com suas relações de trabalho, que são, é verdade, fundamentais para garantir a sobrevivência da família. O problema é que muitos pais, quando podem fazer escolhas, têm mergulhado numa corrida frenética por segurança e competição, o que acarreta situações pessoais de esgotamento, aborrecimento e falta de tempo para se dedicar à criança. Talvez os jovens adultos, muitos dos quais exercitam a maternidade ou a paternidade, já venham de uma socialização que não experimentou o « tempo dos quintais », mas apenas o pátio dos condomínios e áreas de alimentação dos shopping centers.

Müller et alii dizem que muitos adultos vivem correndo e mal humorados, portanto, já estão « mortos [em matéria] de imaginação ». Não têm assim como compreender e valorizar a linguagem infantil, que é predominantemente imaginativa e corporal, nem a sua ação, que é intensamente lúdica.

No dia 12 de outubro, devolva a infância ao seu filho. Experimente o contato com a natureza: uma ida à praia, um banho de cachoeira, um passeio num parque onde ele possa correr, pôr os pés no chão. Por que não subir numa árvore ou tomar aquele banho de chuva? Ou andar de mãos dadas, simplesmente … ? Faça uma guloseima em casa, deixe-o meter a mão na massa e lambuzar os dedos. Conte-lhe uma história, inventem brincadeiras juntos, tente ! Dê-lhe um brinquedo velho ou um livro antigo que foi seu, para lhe mostrar que as coisas têm valor.


III - Brincadeira de criança é coisa séria

« A criança deve desfrutar plenamente de jogos e brincadeiras os quais deverão estar dirigidos para educação » [Princípio VII - Direito à educação gratuita e ao lazer infantil. Declaração Universal dos Direitos das Crianças, 1959].

“Toda criança tem direito ao descanso e ao lazer, ao divertimento e às atividades recreativas próprias da idade, bem como à livre participação na vida cultural e artistica”. (Artigo 31 – Convenção dos Direitos da Criança, 1989)

« A criança tem direito a ter acesso a informações e materiais procedentes de diversas fontes nacionais e internacionais, especialmente informações e materiais que visem a promover seu bem-estar social, espiritual e moral e sua saúde física e mental.

Portanto, os meios de comunicação devem ser incentivados a difundir informações e materiais de interesse social e cultural para a criança, e, particularmente, considerar as necessidades lingüísticas da criança que pertença a um grupo minoritário ou que seja indígena;

As crianças têm o direito de ser protegidas contra toda informação e material prejudiciais ao seu bem-estar. » (Artigo 17, Convenção dos Direitos da Criança, 1989)

“A criança tem direito de ser protegida contra todas as formas de exploração que sejam prejudiciais para qualquer aspecto de seu bem-estar ». (Artigo 36 - Convenção dos Direitos da Criança, 1989)

Qual o papel das brincadeiras ?

A brincadeira possibilita que a criança mobilize positivamente – permitindo-lhe absorver criativamente - a inquietação, requisita a dinamicidade, envolve a incerteza, lida com tempos elásticos, promove ou reivindica o compartilhar. Essa experiência singular, insubstituível, é, assim, fonte geradora de diversão e prazer.


Uma das características mais importantes das brincadeiras infantis, como salientam Müller e alii (2007), é a do ser e não ser. Ou seja, a criança a todo momento (re)inventa a si própria, se transforma, bem como os materiais, as pessoas (avós, babás, irmãos, amiguinhos, etc.) e o pequeno mundo que está ao seu redor, inúmeras vezes, constantemente. Segundo eles, esse conceito de transformação presente nos jogos e brincadeiras da criança é « uma potencialidade humana extraordinariamente poderosa ». Sugerem que os adultos empenhados nas lutas sociais e que almejam construir um novo amanhã deveriam, inclusive, estar mais atentos a isso. Para finalizar nossa reflexão sobre a importância do brincar, seguimos a pista dos autores e também citamos um caso que pode, infelizmente, ter acontecido a muitos do que leem essa matéria, o que revela o quanto na sociedade contemporânea – fetichista, consumista, individualista e materialista – em que vivemos perdemos o valor das pequenas coisas e ferimos a capacidade criativa e de sonho de nossas crianças :

Eu observava na rua a mãe que arrancou e quebrou em vários pedaços, com impaciência, um pedaço de galho de árvore da mão de uma criança que chorava, implorava para levá-lo à casa. Aquele galho era tudo menos somente um galho para a criança...poderia estar sendo a espada, o mastro de um navio, um chicote domador de feras, uma corda que amarrava um dragão....tantas coisas!!! Pensei logo que se a criança estivesse querendo jogar fora uma espada comprada na loja, a mãe brigaria com ela e a impediria. (Projeto Brincadeiras, 2005)

Após essa reflexão, convidamos o conjunto dos leitores do blog M&QS a contribuir não somente no dia 12, mas todos os dias do ano, para a garantia do direito à infância.


Nossas mais alegres e brincativas saudações,
Equipe do blog M&QS
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Pequeno cardápio politico, intelectual e cultural

Para ler

· CARDOSO. S. Memórias e jogos tradicionais infantis: lembrar e brincar é só começar. EDUEL. Londrina. 2004.
· ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – Lei 8.669/1990, várias edições.
· MARCELLINO, Nelson Carvalho (org.). Políticas Públicas de Lazer. Coleção Estudos do Lazer, Editora Alínea, 2008.
· _____. Políticas públicas setoriais de lazer: o papel das prefeituras. Editora Autores Associados, 1996.
· MÜLLER, Verônica et alii. « O brincar das crianças : aproximações das culturas infantis ». Revista Digital, Buenos Aires, Año 11, N° 104 – Enero de 2007. (http://www.efdeportes.com/efd104/o-brincar-das-criancas-aproximacoes-as-culturas-infantis.htm)
· http://www.alana.org.br/banco_arquivos/arquivos/docs/educacao/palestras/Mercantilizacao%20da%20infancia_FNPJ.pdf

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