quarta-feira, 7 de outubro de 2009

I - Parte - Cobertura do evento na UERJ: Suicídio: vamos prevenir?

A Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ fez seu marco histórico ao programar o 1º Ciclo de Palestras: “Suicídio: vamos prevenir?”

O estimulo para tal acontecimento, teve como o cenário a própria UERJ. E, através de esforços de um grupo de profissionais da universidade, dentre eles a Professora Christiane Maioli, médica hematologista, Vice-Reitora, o Dr. Jorge Fagim, do DESSAUDE (UERJ), a Equipe de Segurança e outros nomes da academia, que se reúnem acerca de aproximadamente um ano, para a elaboração do evento e de saídas nas quais se impeça a prática do suicídio na universidade.

A profª Christiane quando assumiu o seu cargo, na UERJ, há dois anos, aponta que corria um “imaginário” de que o campus Maracanã era o local procurado por pessoas de fora da comunidade acadêmica, para a prática de tal ato. Isto implicava que para cada novo caso, este se transformava em dez novos casos. Através desta atenuante, ela buscou a estatística onde se comprovasse tais fatos. Não havia dados comprobatórios a respeito, a não serem os dados de registros do setor de segurança.

Pode-se comprovar que os números de suicídios, no contexto da UERJ, estavam dentro dos parâmetros estatísticos apontados por pesquisadores, como não excedentes da "normalidade". Mesmo assim, não se falava sobre o assunto nos diversos departamentos da universidade. Era comprovadamente um “tabu”.

A partir daí se processou o movimento para se mudar a história, pois de fato, aconteceram três casos, em 2008. As três pessoas que praticaram tinham ligações com a universidade. Dois tinham vínculos acadêmicos e a outra uma frágil relação de trabalho. Um dos casos marcou a chegada do Dr. Fagim, para o Campus da universidade, médico especialista em assistência a adolescentes. Após esse caso ele descobriu através da internet vários sites que estimulavam a prática do suicídio; assim como o Orkut que tratava do suicídio praticado em sua chegada à instituição, como uma significativa postagem: mais de 500 mensagens.

Neste ano de 2009, aconteceram cinco novas tentativas de se cometer a prática de violência interpessoal. Com o trabalho de persuasão em primeira linha da Equipe de Segurança, que está na ponta do atendimento, seguido de outros profissionais, da UERJ, os casos não se efetivaram.

Um dos vieses para dar continuidade a prevenção das tentativas de suicídios no campus universitário, foi criar condições espaciais para que se fosse instalado um escritório do Centro de Valorização da Vida, o C.V.V., com o intuito de atendimento ao público da universidade, entre alunos e funcionários, além da comunidade no em torno.

Também está se estruturando um Centro de Atendimento, aos alunos e funcionários através do Serviço de Psicologia Médica do Hospital Universitário Pedro Ernesto e do serviço que já é prestado pela Faculdade de Medicina Social aos alunos, o PAP.

O evento se constituiu em dois módulos. No primeiro: a discussão dos Centros de Interesse. No segundo foram expostas a experiência da UnB, com a fala da professora Beatriz Montenegro e da Avaliação do risco e manejo da crise suicida com a professora Júlia Camarotti; a Pesquisa prioridade Rio em curso com o professor da Fiocruz, Carlos Estellita-Lins e por último a fala do jornalista André Trigueiro, Âncora do Jornal das Dez da GloboNews, comentarista da rádio CBN e professor da PUC-RJ, que abordou o tema: Mídia: qual o seu papel?

No evento através dos “Centros de interesse”, se discutiu os assuntos ligados ao:

1 – O Suicídio na UERJ, com Jorge Fagim e Mariana Bteshe;
2 – Família e suicídio, com Ana Maria Ferrara e Isadora Ramos;
3 – Prevenção e suicídio, com Otília Azevedo e Claudia Aguiar.

Cada grupo apresentou suas considerações. Particularmente, observou-se no grupo “Família e suicídio”, além de psiquiatras, psicólogos, voluntários do C.V.V., um espírita, um técnico de enfermagem, uma professora de Educação Física, uma estudante de Serviço Social e mais três assistentes sociais, presentes.

Nas falas da psiquiatra Ana Maria Ferrara e da psicóloga Isadora Ramos, responsáveis pela coordenação das discussões no grupo, cada caso de suicídio, atinge seriamente, entre cinco ou seis pessoas ligadas afetivamente ao suicida, as quais são tidas como “vítimas ocultas da violência”.

Nem sempre uma pessoa que pensa nesse ato extremo de desespero quer de fato morrer. Ele que sinalizar a busca de ajuda e apoio, sem que muitas vezes expresse com clareza o seu intento. A família desempenha uma peça-chave na prevenção de tal ato e recuperação do indivíduo.

Durante o segundo módulo, foram contextualizados os fatos.

“O suicídio é considerado um transtorno multidimensional, que resulta de uma interação complexa entre fatores ambientais, sociais, fisiológicos, genéticos e biológicos”. (OMS, 2000).

Todo o suicida tem características de ambivalência; de impulsividade e rigidez. Nem sempre um suicida está doente, ou tem necessariamente a manifestação de uma doença, muito embora em sua maior parte, os transtornos mentais e de humor, constituem-se em sua maioria, um fator associado ao suicido.

A OMS no ano de 2000 apontou que naquele ano, aproximadamente 1 milhão de pessoas estiveram em risco de cometer o suicídio. O suicídio configura-se entre umas das dez primeiras causas de letalidade em todos os países do mundo e, uma das três primeiras maiores causas de morte na faixa etária entre 15 a 35 anos. Há também uma incidência em idosos com mais de 65 anos.

Os transtornos de humor, como a depressão, que incide no maior número de casos de suicídios; o alcoolismo; a esquizofrenia, os transtornos de personalidade; os transtornos de ansiedade; as doenças neurológicas como o AVC; as neoplasias; o HIV/AIDS, são causas associadas ao cometimento do ato.

É importante, que se tenha um olhar sobre o suicídio, como algo que ocorre dentro de uma determinada sociedade, onde os fatores sociodemográficos estão associados:

- Sexo: os homens cometem mais suicídios que as mulheres, embora as tentativas de mulheres são em número maior sem letalidade;

- Idade: Os idosos (mais de 65 anos) e os mais novos (15 a 35 anos) são grupos etários de maior risco do suicídio. Embora haja aumento em homens de meia idade e menores que 15 anos;

- Estado marital: Pessoas solteiras, viúvas ou divorciadas. O casamento parece ser protetor para homens, não sendo da mesma forma para mulheres. Separação e morar sozinho aumentam os riscos de suicídios.

- Ocupação: Alguns grupos ocupacionais como veterinários, médicos, farmacêuticos, dentistas, químicos e fazendeiros são os que apresentam altas taxas de suicídios. Não há uma explicação óbvia sobre isto, mas pensa-se que seja pelo acesso aos meios letais, por pressões no trabalho, isolamento social e dificuldades financeiras podem ser as razões.

- Residência urbana e, ou, rural: Depende de cada país. Alguns a freqüência do suicídio é na zona urbana, noutros nas áreas rurais.

Muitos outros atenuantes sobre as causas e conseqüências dos suicídios e para-suicídios devem ser postos à discussão pela sociedade, sendo visto com amplo posicionamento da mídia na divulgação responsável e ética, da prevenção. Isto pode combater as "idéias e mitos" a respeito do suicídio.

Não é mais possível que sejamos mais testemunhas do que foi contabilizado em 2000 pela OMS: um milhão de suicídios no planeta, o que significa que a cada 40 segundos no mundo, uma pessoa cometa o suicídio, enquanto que a cada 3 segundos, outra pessoa atenta pela própria vida.

Faremos deste espaço um lugar de discussão e de outros olhares a respeito do tema suicídio e os meios de prevenção. Mione Sales, em Volta do Mundo, Mundo dá volta, trará o contexto europeu sobre o assunto.

*Nelma Espíndola.
Assistente Social.

4 comentários:

  1. Impressionante como um ambiente em que as pessoas se preparam para o futuro como a universidade, seja também o de suicídios. 5 tentativas somente este ano é um número considerável. Não entendo de suicídio, mas nunca ouvi falar que isso acontecesse em universidades.
    Nelma, que surpresa ao final do texto ver que foi você quem escreveu. Um abraço.

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  2. Seja bem-vindo Humberto.
    Fico feliz por você lançar o seu olhar por esse novo espaço, que é coletivo e formado por alguns dos autores do livro "Mídia, Questão Social e Serviço Social".
    É verdade, infelizmente, na Uerj aconteceram tais fatos. Mas de uma forma corajosa e responsável foi posto à sociedade estes acontecimentos. O suicídio é um caso de saúde pública conforme a OMS. A maioria da sociedade não sabe disso e nem alguns jornalistas. Ele é um tabu, está carregado de mitos e estigmas,que precisam ser esclarecidos e consequentemente, prevenidos. Leia por favor a II parte.
    Um abraço.

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  3. Convidamos vc para o 4º Seminário de prevenção do suicídio da UERJ, dias 10 e 11 de setembro de 2012 na Capela Ecumênica da UERJ.

    Atenciosamente,

    Projeto Uerj pela Vida/NACE

    Núcleo de Acolhida ao Estudante

    (21) 2334-0983/(21) 2334-0987

    uerjpelavida@gmail.com

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    1. Prezado Dr. Jorge Fagim, nós do Blog Mídia e Questão Social agradecemos-lhes o convite. É um evento importante e ficamos felizes, pela 4ª edição. Estaremos disponibilizando em nossa agenda esta divulgação.
      Desejamos-lhes grande êxito!
      Um abraço,

      Nelma Espíndola
      Blog Mídia e Questão Social

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