A jornalista Anna Politkovskaïa vira símbolo da defesa do jornalismo crítico
[Deu no Le Monde, 07/10/2009]
7 de outubro 2006. A jornalista russa da oposição Anna Politkovskaïa, 48 ans, foi assassinada no hall do edifício onde morava, em Moscou. Três anos após a sua morte, a família continua a ignorar quem foram os mandantes do seu assassinato. As reportagens da jornalista sobre as violações dos direitos humanos e a corrupção na Tchetchênia para o jornal Novaïa Gazeta [Nova Gazeta] incomodavam o Kremlin.
Seu filho Ilia se pergunta ainda hoje se certos serviços secretos especiais desempenharam um papel no assassinato de sua mãe, e se existe uma vontade política real de « colocar luzes » sobre este caso. "Nós não sabemos de nada", diz ele, quando lhe perguntamos se o processo, reaberto no começo de setembro para informações complementares, tem segundo ele chance de ir até o fim. A Corte Suprema da Rússia aceitou, em 3 de setembro, de reenviar o processo ao ministério público para complementação de informação. A pedido da família, o ministério público vai reagrupar num mesmo caso as pessoas já julgadas, o presumido atirador e o mandante do crime.
" O jornalismo crítico em vias de extinção"
A organização Repórteres sem fronteiras (RSF), situada em Paris, pretendia utilizar o aniversário da morte de Anna Politkovskaïa (07/outubro) para criticar a situação dos medias na Rússia, mas seus representantes não conseguiram obter um « visto de entrada » a tempo de estar nesta última terça-feira em Moscou. "Ficamos chocados e decepcionados por esta decisão [de não liberação do « visto » a tempo]. Ainda mais que fizemos sempre o maior esforço de transparência à em relação às autoridades russas", reagiu o RSF. Numa carta aberta ao presidente russo, Dmitri Medvedev, a Anistia Internacional (Amnesty International) solicita de sua parte às autoridades russas que se engagem em fazer todo o possível para encontrar e punir os assassinos da jornalista e de outros militantes dos direitos humanos.
Os crimes contra jornalistas permanecem totalmente impunes na Rússia, onde 22 jornalistas foram assassinados, desde março de 2000, por causa de suas atividades profissionais, indicou o representante russo da associação RSF. O Comitê para a proteção dos jornalistas, cuja sede está em New York, condenou os assassinatos não esclarecidos de jornalistas desde 2000, e advertiu que a profissão de jornalista crítico corre o risco de simplesmente "desaparecer" na Rússia. "O jornalismo crítico sofre perigo de extinção em um dos países mais importantes do mundo", deplorou o comitê. O Kremlin desmentiu toda implicação na morte da jornalista, afirmando que o caso ganhou visibilidade midiática apenas para se tentar lançar o descrédito sobre o Estado russo.
Fonte: [http://mobile.lemonde.fr/europe/article/2009/10/07/le-meurtre-d-anna-politkovskaia-n-est-toujours-pas-elucide_1250325_3214.html]
**Mione Sales
Professora da Faculdade de Serviço Social da UERJ, doutora em Sociologia e Licenciada em Literatura Comparada.
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