terça-feira, 15 de maio de 2012

Editoria O Efeito Quixote

De olho no Serviço Social



Leandro Rocha*


         Neste mês de maio, mais especificamente no dia 15, comemoramos o dia do Assistente Social. É neste período que as entidades representativas da categoria tradicionalmente realizam uma série de atividades sistematizadas com o intuito de propiciar junto aos assistentes sociais reflexões sobre a prática profissional, políticas sociais e demais temas pertinentes ao nosso desenvolvimento ético-político-teórico-prático (uma vez que estes fatores se complementam e fortalecem no exercício profissional).
           Também vale a pena aproveitar este período para refletir sobre a visibilidade da profissão, as formas como ela tem se evidenciado, seus prós e contras e as estratégias para obtê-la.
Quando falamos em visibilidade do Serviço Social podemos nos referir a duas esferas onde a mesma se dá: a macro esfera e a micro esfera. Sendo a macro correspondente à visibilidade buscando junto à população com ações globais, coletivas, com o intuito de atingir a grupos/segmentos da população. A micro-esfera corresponderia então às ações que realizamos na nossa intervenção cotidiana, ao “trabalho de formiguinha” que realizamos em nosso espaço de trabalho junto a colegas, usuários de nossos serviços e parceiros institucionais.
Fica claro que, se a esfera micro é realizada por cada um de nós em nossas equipes e locais de trabalho, a macro exige uma organização coletiva geralmente organizada pelas entidades representativas através de campanhas, entrevistas, confecção de material sobre a profissão, representações em espaços políticos e midiáticos, dentre outras coisas.
Convém ressaltar que esta divisão não é estanque e que nada impede que as ações alternem entre estas esferas, de acordo com a articulação dos atores envolvidos. No entanto, podemos utilizar esta distinção para fins didáticos.
Ao longo dos últimos anos, em especial dos últimos oito anos, têm se observado um crescente investimento da categoria dos Assistentes Sociais na busca por uma visibilidade correta da profissão e das políticas sociais que são instrumentos de sua ação, condizente com seu momento atual, bem como o projeto ético-político ao qual ela está vinculada. Mais do que um avanço, isso é fundamental quando pensamos que esta é uma categoria que tem como norte a luta pela garantia de direitos e o enfrentamento à desigualdade social.
Esta é uma categoria comprometida com um projeto ético-político, que mais do que um conjunto de regras a serem seguidas, é um projeto de transformação societária. Transformação essa que só será alcançada através da coletividade, não só entre os profissionais pertencentes a esta categoria, como entre as demais categorias profissionais, a população usuária de nossos serviços, os movimentos sociais e demais sujeitos da história. Para que esta coletividade seja real, é preciso que aqueles a quem pretendemos nos aliar nos compreendam e consigam discutir conosco nossas idéias e propostas. Isso implica em nos prepararmos para falar entre os “iguais” (nossa própria categoria) e os “diferentes” (os demais atores sociais). Isso implica em sair das nossas zonas de conforto e dialogar com categorias filosóficas diferentes das nossas, com pessoas com histórias de vida e concepções distintas e, em alguns momentos, confrontar alguns dos nossos conceitos.
Enfim, trabalhar visibilidade é, acima de tudo, disputar ideologia e para tal investir em estratégias, técnicas e tecnologias de comunicação (Isto serve tanto para o macro quanto o microcosmo social em que estamos inseridos).
Quando analisamos a imagem historicamente propagada da profissão, temos que ter em mente que a gênese de nossa profissão remete às damas de caridade, cujo intento era mediar as relações entre trabalhadores e os ditos donos dos meios de produção, atuando de forma moralizadora de forma a evitar conflitos que ameaçassem a “ordem”.
Também é necessário lembrar que o processo de ruptura com esta concepção e construção da hegemonia da atual concepção defendida pela categoria é relativamente recente e encontra seu ápice em meados da década de 1980, estando ainda em um processo de assimilação por parte dos diversos segmentos da sociedade.
O processo de substituição da hegemonia da concepção da “moça boazinha” para o profissional técnico-operativo com uma intervenção teoricamente embasada e politicamente direcionada não é instantâneo e tampouco se dá sem risco de distorções e críticas.
Pleitear visibilidade requer autocrítica; conhecimento profundo de nosso papel, limitações e potencialidades; disponibilidade para nos colocarmos como referência e para explicar várias vezes quem somos e o que fazemos.
Visibilidade correta, coerente e positiva tem que ser batalhada no dia a dia e estimulada. Não se obtém apenas pelo desejo, mas também com muito trabalho e com o reconhecimento do trabalho desta categoria e da possibilidade de sua contribuição na análise e intervenção na realidade social.
Nós temos uma estrada longa ainda a percorrer, mas muito também já foi alcançado. Já estamos nas páginas de jornais e revistas, nos sites e blogs, nos programas de rádio e televisão. Somos personagens nas obras de ficção e nas histórias da vida real. Somos sujeitos, atores da história e não meros expectadores.
Então, deixo aqui a minha homenagem a todos e todas as assistentes sociais que lutam a cada dia não só por visibilidade, mas também por reais condições de trabalho no atendimento aos nossos usuários.
Como diria o grande poeta: “Canta, que o teu canto é minha força pra cantar!”

Feliz dia do Assistente Social!

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*Leandro Rocha, assistente e "insistente" social, pós-graduado em Psicologia Jurídica pela UCAM, integrante da Comissão de Comunicação e Cultura do CRESS-RJ. Contato: e-mail: leorochas@hotmail.com.