sábado, 27 de fevereiro de 2010

Editoria Volta do Mundo, Mundo dá Volta

Muito barulho por nada
Uma candidata do Novo Partido Anticapitalista é alvo de polêmica na França por portar um véu


« Amam-me com a única verdade dos seus evangelhos (…)
E enchem-me de sons que não sinto
Das canções das suas terras
Que não conheço.
E dão-me
a única permitida grandeza dos seus heróis (…)
Aprendo que os homens que inventaram
a confortável cadeira elétrica (…)
criaram Al Capone, Hollywood, Harlem (…)
e emprenharam o pássaro que fez o choco
sobre os ninhos mornos de Hiroshima e Nagasaki ».

« África »,
do poeta moçambicano José Craveirinha
Xigubo, 1964.

Quando até mesmo a esquerda radical deixa-se levar ou fica aturdida pela pressão do sensacionalismo midiático, há que se pensar seriamente sobre o que se passa em tal sociedade. Na verdade, a França sarkozista vê-se cada vez mais obcecada pelo tema da identidade nacional. Um longo e polêmico debate acaba de ter lugar nos fóruns políticos governamentais a esse respeito, com profunda repercussão social. O que já tivemos oportunidade de saudar recentemente aqui mesmo na editoria « Volta do Mundo » (VM) como cosmopolitismo, em função da presença de inúmeras nacionalidades estrangeiras em Paris, é visto por setores nacionalistas e reacionários, quando se trata de trabalhadores e pobres, como uma ameaça às origens « francas » e « gaulesas » dos franceses.

O leitor do M&QS está agora mesmo a se perguntar sobre o que teria toda essa esparrela a ver com um partido de esquerda, ligado à IV Internacional. Poderíamos resumir provocativamente a questão dirigida a alguns dos militantes do NPA como: uma vez descendente do « racionalismo cartesiano »* francês, para sempre cartesiano! Mas seria simplificar as coisas, até porque nesse caso envolve-se também o tema das mulheres e consequentemente as conquistas do movimento feminista, a partir da segunda metade do século XX.

Apenas para situar o leitor - visto que o nosso blog coletivo nasceu no ano passado e sendo toda essa polêmica bem mais antiga -, recomendamos ler os trechos da entrevista de Daniel Bensaid (também membro fundador desse partido falecido recentemente), divulgada, no mês de janeiro, em homenagem póstuma na VM. Ele situa, por exemplo, o apoio à luta pela Independência da Argélia associada à onda política e cultural que vai desaguar no Maio de 1968. Isto remete ao processo colonial, pois vários dos descendentes de magrebinos* que aqui moram provêm das antigas colônias da África do Norte, dominada durante muito tempo pela França. Trata-se, portanto, da lei do « eterno retorno ». Os povos ex-colonizados buscam abrigo na Velha Mãe européia. Até os anos 50, essa mão de obra era bem-vinda, mas, a partir do começo do declínio da dita « sociedade industrial », o que era uma solução começou a virar problema. Assim, hoje, os imigrantes argelinos, marroquinos e tunisianos, mesmo naturalizados, incomodam e prejudicam a « identidade nacional » francesa que não quer se misturar com sangue árabe nem africano, da mesma forma que Sarkozy opõe-se ardentemente à entrada da Turquia na Comunidade Econômica Europeia.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Editoria Web@Tecno

Já estou “Saindo das ruas”... Foi uma possibilidade através da Revista OCAS


Nelma Espíndola


Minha abordagem hoje não será especificamente sobre sites, portais e blogs, embora cite os devidos endereços necessários para quem quiser se aprofundar num assunto que merece atenção e é pouco divulgado pela mídia. Ela não deixa de ser uma mídia, pois é uma revista, mas alternativa, e tem um viés social respeitável.

Falarei da Revista OCAS, que faz da disseminação da informação uma possibilidade de “romper estigmas e preconceitos” de um contingente expressivo nas grandes capitais de nosso país: a população em situação de rua e em risco social. Este fenômeno, vale saber, embora pouco repercutido, acontece em proporções também significativas noutras partes do mundo.

Quem me instigou a escrever sobre isto foi Jefferson Ruiz, através de seu último post, na editoria Estranha Semelhança com a Utopia: “Liberdade de imprensa: do que estamos falando?” Ele me trouxe à memória o primeiro e único contato que tive com essa revista. Isto aconteceu em 2006, nas imediações da ESS/UFRJ, num dos dias em que frequentei o curso de extensão “Antropologia e Serviço Social”, no período de agosto a novembro daquele ano. Não me lembro qual dia foi. A única coisa que recordo é da abordagem de uma mulher de aproximadamente 30 anos, frágil fisicamente e de olhar sofrido, que expôs a mim e às minhas colegas a importância da venda daquela revista. Eu e algumas colegas a compramos. Depois desse dia, porém, não tive mais acesso a ela. E, hoje confesso o meu olhar falho na importância do que ela traz em seu bojo.

Um rápido histórico

Antes de dar um panorama geral sobre a revista, seu conteúdo e objetivos, falarei um pouco da responsável por sua publicação, a qual foi instituída em 21 de abril de 2001.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Editoria Estranha Semelhança com a Utopia

Liberdade de imprensa: do que estamos falando?

                                        
                   “Sofri  um boicote cultural nos EUA com um projeto (...), o documentário
                          Comandante, no qual filmei Fidel Castro. Ele não foi lançado nos cinemas
                          americanos, e os canais de TV daqui se recusam a exibi-lo. E ainda dizem
                          que este país não tem censura.”
                                                                                   Oliver Stone, cineasta americano


Jefferson Ruiz
                                 
A imprensa nacional tem por hábito publicar, de tempos em tempos, críticas contundentes e pretensamente avassaladoras contra governos latinoamericanos. Não por acaso, seus alvos são aqueles que, de uma forma ou de outra, apresentam publicamente questionamentos às políticas desenvolvidas pelos países capitalistas, especialmente os Estados Unidos. Bolívia, Equador e Venezuela têm sido alvos prioritários, por utilizarem uma palavra que faz arrepiar o “mercado” e incomoda os mais comedidos defensores do capital: socialismo. Registre-se que sequer na esquerda que mantém como objetivo uma revolução social em busca de uma sociedade justa há acordo sobre o quão socialistas sejam ou não estes países.

Nas últimas semanas o alvo voltou a ser a Venezuela e seu presidente, Hugo Chávez. Inúmeras matérias divulgavam a existência de uma “crise social” no país latino. A grande maioria das reportagens, no entanto, se queixava especialmente do fechamento da rede de televisão local. Como de costume, mantiveram o leitor sem informações das razões de tal fechamento. Não disseram, por exemplo, que outras televisões sofreram a mesma ameaça, mas cumpriram as legislações nacionais para as concessões de instrumentos de comunicação, ou assinaram compromissos de fazê-lo em determinados prazos, e retomaram autorização para funcionamento.

O cineasta Oliver Stone (dos premiados filmes “Platoon”, “Nascido a 4 de Julho”, “O expresso da meia-noite”, “Nixon”, “JFK”, dentre outros) vem relatando as dificuldades que encontra nos EUA para produzir qualquer discurso que ouse apresentar versões alternativas de fatos que a mídia local (infelizmente quase sempre seguida pela imprensa brasileira) quer nos fazer acreditar serem inquestionáveis. Prestes a lançar “Wall Street: money never sleeps”, inspirado na crise internacional gerada pela especulação financeira no mercado imobiliário americano, Stone comentou em entrevista para o jornal O Globo a respeito de outro filme recente por ele dirigido: “South of the border”, lançado em 2009 no Festival de Veneza. Vamos a suas palavras:

“Tenho muito carinho por esse documentário. Ele foi feito no espírito de flagrar a cobertura hipócrita que a mídia americana deu a Chávez, chamando-o de ditador. A América Latina hoje tem um time de governantes, Lula entre eles, que se preocupam em ouvir quem passa fome. Como cineasta, eu não posso competir com a notícia. Só posso acrescentar memória à história.”

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Editoria Web@Tecno

A transmissão televisiva do desfile da Sapucaí entrou numa encruzilhada: não há mais nenhuma “novidade” a ser revelada?


Nelma Espíndola


Depois de algumas reflexões, vitaminadas com a sabedoria de um sambista tradicional da Portela, Sidney Rezende fez alguns apontamentos interessantes referentes aos dois dias de desfiles no Sambódromo, no Rio de Janeiro. Nessa análise, pelo menos três fatores, em princípio, contam pontos: sua experiência profissional como jornalista e de quem faz a cobertura dos desfiles na Sapucaí já há alguns anos, sua sensibilidade na valorização do que são os genes de fato de toda escola de samba: os passistas, os sambistas, as comunidades nas quais foram geradas as grandes “marcas” do carnaval carioca e, por último, sua crítica ao olhar o carnaval como uma “pasta geral e não uma festa de detalhes”.

Em relação a algumas de suas observações, destaco as que foram feitas às transmissões dos desfiles das escolas do grupo especial, pela TV que tem a sua concessão. Faltam em sua opinião, tanto em quem dirige a transmissão do espetáculo, quanto nos repórteres cinematográficos responsáveis pela captação das imagens a “sensibilidade” para que através delas ou de “palavras” se explique o contexto do enredo defendido por cada escola. Sem esse “toque”, o resultado que fica é essa “pasta geral” que o telespectador digere e muitas das vezes não compreende.

E, mesmo que alguns dos que o acompanham jornalisticamente em suas análises e opiniões, não concordem com elas, o seu blog é um espaço livre, onde está mais à amostra o seu lado de contestação expressa em relação a alguns dos vieses utilizados pelos media, isso, contudo, com alguma subjetividade, que entendamos muitas vezes se faz necessário. O que é salutar, pois seja qual for o cenário onde se desenvolva uma atividade profissional, esses questionamentos acabam surgindo e é a partir deles que se pode chegar a um modo próximo à perfeição ao trabalho individual e coletivo, no caso midiático.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Editoria Caleidoscópio Baiano

Mudança do Garcia”: na contramão do carnaval oficial
Especial de Carnaval Salvador 2010

Claudia Correia

O tradicional desfile da “Mudança do Garcia’ sai toda segunda-feira no carnaval de Salvador há 80 anos. Não há cordas, trio elétrico ou seguranças. O percurso vai do fim de linha do bairro do Garcia ao Campo Grande, no início do circuito oficial da folia. Nos moldes do carnaval baiano, não podemos chamá-lo de “bloco”. Ninguém paga para sair, nem tem abadá vendido a preço de ouro por empresários e cambistas.

É um grande cortejo formado por carroças com jegues e cavalos, batucadas, veículos enfeitados, foliões fantasiados, e grupos animados. Para o jornalista André Santana “é um espaço de preservação da liberdade e democracia da folia momesca. A irreverência ganha contornos políticos, graças aos cartazes e faixas de protestos que acompanham o desfile”.

Com o tempo, a Mudança virou o principal palco para o movimento social no Carnaval baiano. Sindicatos, partidos de oposição e o movimento negro aproveitam a festa para divulgar suas bandeiras de luta. Claro que em ano eleitoral, os candidatos pegam uma carona no cortejo para distribuir abraços e sair na mídia. Este ano os Conselhos Regional de Serviço Social e de Psicologia aproveitam o desfile para levar às ruas o seu repúdio à lei que regulamenta o “ato médico” e discrimina a atuação dos demais profissionais da equipe interdisciplinar de saúde.As mulheres levam a campanha contra a violência para cima de um pequeno trio elétrico improvisado e combinam política com alegria.

A Mudança não ganha muito espaço na mídia local, exceto na TV Educativa que cobre o desfile. Os organizadores do Carnaval criam polêmica todo ano com a Mudança , que acaba quebrando o protocolo oficial com uma presença espontânea e irreverente. As emissoras que cobrem o Carnaval de Salvador não mostram com destaque o desfile escrachado e alegre da Mudança.

Nenhum político escapa das críticas dos foliões da Mudança, o prefeito é o alvo preferido

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Editoria Volta do Mundo, Mundo dá Volta

CARNAVAL EM PARIS, uma festa cosmopolita


CRÔNICA / IMAGENS
Mione Sales

Domingo de sol na cidade das Luzes, apesar do termômetro estar marcando -1°. Um verdadeiro alento para sair e registrar a folia brasileira em Paris. Vale dizer que a festa não era somente verde-e-amarela. Era também vermelha, pois comemorava-se hoje a chegada do Ano Novo Chinês. Os chineses estão sobretudo em alguns bairros, como o Chinatown no 13ème arrondissement, no Marais (3ème arr.) e em Belleville (20ème arr.).

Saí de onde estava, no Marais, e fui clicando em direção a Belleville.




 
 
 
 
 
 
 
 
 



Essa uma escola pública maternal, ainda no Marais. A bandeira francesa, símbolo da República e da laicidade, divide a cena com lanternas chinesas, em discreta e espontânea convivência diplomática.  

 
 
  
 
 
 
 
 
 





             O carnaval saiu da praça de Gambetta no 20ème. Fui ao seu encontro na popular Belleville. A paisagem quase agreste é o puro retrato do inverno europeu.


Desfilavam também em Belleville dragões vermelhos e brancos em saudação ao Ano do Tigre.

















                                  











Até agora nada de Brasil nem de sua batucada. Mas seguimos boulevard de Belleville afora atrás das « fanfares », pequenas bandas francesas com ou sem baticumbum. Próxima parada: Coronne e supresa, uma banda constituída apenas de garotas.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Editoria Caleidoscópio Baiano

CAMPANHA COMBATE VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS
Especial Carnaval Salvador 2010

Claudia Correia

Todo ano o governo e as entidades que militam na defesa dos direitos da criança e do adolescente lançam durante o carnaval a campanha contra a exploração sexual infanto juvenil. Os casos de violação dos direitos conquistados no Estatuto da Criança e do Adolescente-Eca crescem em todo o país e atingem de forma mais perversa os estados nordestinos onde a pobreza assola milhares de famílias. No carnaval, o cenário é favorável a estes crimes até por conta do turismo sexual. Apesar deste quadro, a maioria dos Conselhos Tutelares no Brasil estão desaparelhados e sem condições de atuar nesta área.

Pela 5ª vez a campanha nacional foi lançada na abertura do Carnaval de Salvador, pelo ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, na noite da última quinta-feira (11). A justificativa por esta escolha é apontada porque as autoridades do estado da Bahia “têm revelado mais atenção ao enfrentamento da exploração sexual de crianças”, segundo o ministro.

No carnaval de Salvador uma polêmica envolve os cantores Ivete Sangalo e Tatau. Ele integra, com outros artistas baianos, a Campanha estadual liderada pelo Ministério Público de combate à violência sexual contra crianças no carnaval. A música "Lobo mau" que traz o refrão "vou te comer, vou te comer", sucesso na voz da cantora, foi criticada por Tatau, em cima do trio elétrico neste sábado de carnaval, no circuito da folia. O público pedia que ele cantasse a tal música e ele se recusou, fez um discurso contra a letra alegando que incentiva a pedofilia e que assumiu um compromisso com a campanha.

Confira abaixo o vídeo da Campanha Nacional de enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes no carnaval e mais detalhes sobre a iniciativa no Portal Pró-Menino, um portal da Fundação Telefônica “que busca contribuir para a garantia dos direitos de crianças e adolescentes por meio da disseminação da informação, do apoio de organizações que lidam com essa temática e sensibilização da população em geral.”

Assistam o Vídeo da Campanha:



Essa é a campanha! Não deixem de denunciar esse tipo de violência contra crianças e adolescentes. Disque 100! 



Claudia Correia, assistente social e Jornalista, Profª da ESSUCSal, mestre em Planejamento Urbano. Contato: ccorreia6@yahoo.com.br.

Fontes: Portal Pró-Menino e Agência Brasil.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Editoria Jornalismo na Correnteza

Alá, lá-ô! Ô, ô, ô… Mas que calor ?

Ana Lúcia Vaz























7h30 da manhã, o calor já faz suar apenas saída do banho. No elevador, o vizinho comenta o calor. Também está ensopado. “Está muito estranho! A gente morrendo de calor e outros congelando. Viu a reportagem ontem? Washington debaixo da neve. Está muito estranho!”
Devolvo um sorriso abobalhado. “É, eu vi...” A essa hora os neurônios ainda estão muito preguiçosos para tentar alguma braçada autônoma. Me deixo levar pela correnteza do Jornal Nacional.

Na Lagoa, os termômetros marcam apenas 29 graus, com unanimidade (coisa rara entre eles). Será que o choque de ordem do prefeito incluiu uma repressão aos termômetros? "Tem que estar todo mundo igual!" Que nem as barraquinhas e guarda-sóis da praia ? "E não pode passar de 40 graus!" Como os barraqueiros não podem ter mais de 80 guarda-sóis para alugar ?

Os termômetros marcam apenas 29 graus e eu suo como uma vaca pastando sob o sol de meio-dia. Embora esteja na sombra e o vento, na bicicleta, seja razoável. Ah, meu vizinho bem informado falou disso também. Uma tal “sensação térmica”. Não é a temperatura física mensurável, mas “sensação”. Conversa da moda. Deve estar nos jornais.

Para dar um tom de objetividade à subjetividade, o Fantástico descobriu até um “especialista em conforto térmico”...? O que seria do jornalismo sem os especialistas?!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Editoria Caleidoscópio Baiano

O CARNAVAL DA DIVERSIDADE


Claudia Correia                                                     

Salvador vive o clima de carnaval bem antes do resto do país. Os preparativos para a mega festa popular que congrega cerca de 2 milhões de turistas e nativos durante cinco dias de folia praticamente deixam parte da cidade inviável para o trânsito,funcionamento bancário e tudo mais.

Dia 10, quarta, antes da “abertura oficial” a Barra ficou tomada por foliões e pequenos grupos de samba até às 4 da manhã. Sem qualquer ação do poder público, o carnaval espontâneo, sem cordas, cortejos, normas e fiscalização não gerou nenhuma briga ou cena de violência. Nem parecia que rolava o super show de Ivete Sangalo e Beyoncé no Parque de Exposições.

Este ano, a Prefeitura adotou um novo “estatuto do carnaval” que gerou polêmica no Conselho Municipal do Carnaval. Algumas medidas tentam disciplinar o comércio ambulante e o trabalho dos “cordeiros”, contratados pelos milionários blocos de trio, apoiados por grandes empresas num esquema de exploração e violação de direitos trabalhistas. Eles já possuem Sindicato e conquistaram o direito a equipamentos de proteção individual, lanche, jornada de trabalho e diária fixa. O Ministério Público integra a ação de fiscalizar o cumprimento das normas mas, a resistência dos empresários da festa está firme.

Como expressão cultural, o nosso carnaval reflete as contradições sociais e expõe o quadro perverso de desigualdades que em Salvador ganha contornos bem característicos devido às questões étnicas.

Combate à violência

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Editoria O Efeito Quixote

Realidade ou ficção? Quando as barreiras caem, como fica a mídia?


Olá Pessoal!

Estou iniciando nesta data a minha editoria aqui no “Mídia e Questão Social”. Passamos um bom tempo discutindo qual seria o nome mais apropriado para dar conta da minha proposta e do meu tipo de escrita. De todos os nomes sugeridos, finalmente apareceu o escolhido: “O Efeito Quixote”! Mas o que seria esse tal “efeito”? Em minha humilde opinião, o Efeito Quixote é estranhar o conhecido e tornar familiar aquilo que não nos é próximo; é questionar o que já se encontra estabelecido; é buscar a utopia sem deixar de se reconhecer na realidade... Bom, ser “Quixote” no mundo moderno não é fácil, mas é extremamente importante! Então, se mais “Quixotes” e “Sanchos Panças” quiserem se juntar a nós nessa luta por um mundo diferente fiquem à vontade!

Hoje resolvi escrever um pouco sobre o tema ilustrado no título acima, por conta de uma lembrança que emergiu em minha mente quando estava assistindo a nonagésima reprise do filme “Guerra dos mundos”. Mais do que o roteiro do filme, sempre me chamou a atenção a estória por trás dele e é por ela que este texto se inicia.

Antes mesmo da primeira versão do filme (lançada em 1953), houve o livro lançado por H.G. Wells com a estória original e, nosso alvo na primeira parte deste texto, o programa de rádio que o consagrou em 1938. Neste programa, um Jovem Orson Welles trouxe o assombro e a maravilha a uma parcela da população norte-americana ao dramatizar a invasão alienígena a uma pequena cidade do país.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Editoria Volta do Mundo, Mundo dá Volta

MANDELA CÁ e o apartheid da crítica

CRITICA DO FILME
Mione Sales


« On n'est jamais à 100 %, dans le sport comme dans la vie »*.
Mandela

      Ok. « Invictus » traz um título kitsch e há momentos em que se percebe quase um esforço a mais na tentativa de comover o espectador. No entanto, apesar dos protestos de tédio de certa crítica cinematográfica especializada brasileira, enxergamos, contrariamente, nessa mais recente e trigésima produção de Clint Eastwood um excelente filme.

      Nós que integramos o blog M&QS não nos dispomos, como vocês blog-leitores bem sabem, simplesmente a nos alinharmos à correnteza do senso comum. Sondamos, espreitamos, desafiamos e até descemos corredeira abaixo, mas precisamos estar convencidos disso. Queremos, então, inspirados na nossa sensibilidade e experiência com a questão social, mas também em nossas exigências pessoais e profissionais para tratar um tema de tão grande monta como o racismo e o apartheid na África do Sul, comentar por que apreciamos e achamos importante assistir a esse filme.

       « Invictus » não constitui apenas um mero drama nem traz em seu enredo nenhuma enquete policial. Fala em amor, mas pelo ângulo do que acabou e não tem conserto. A exceção da prestimosa secretária do presidente Nelson Mandela, as demais mulheres são praticamente figurantes. Mas se a vida amorosa de Mandela – seu apelido – não tem mais jeito ou se ele não possui mais condição de nela interferir, ele vai se dedicar a reconciliar uma nação. Talvez seja esse, inclusive, um dos últimos relatos épicos de (re)fundação de uma nação, à porta que estávamos, em meados dos anos 90, da emergência espetacularizada da « globalização », com outros apelos e determinações. Entendemos que a crítica cobra de Eastwood um posicionamento heróico relativo ao passado recente da África do Sul, que ele não teria tido na ocasião, pois ainda portava sua couraça de ator «cowboy americano». No entanto, essa mesma crítica não consegue perceber a fundo a gama de nuances que o atual cineasta Eastwood põe em cena nesse filme que fala essencialmente de política. Essas são as lentes fundamentais para apreender o sentido dessa película: gostar e entender de política, pela sua margem esquerda.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Editoria Caleidoscópio Baiano

Fórum Social Mundial Temático Bahia


Claudia Correia


O FSM da Bahia, de 29 a 31 de janeiro, em Salvador, foi planejado para servir de elo entre o FSM 2010 realizado em Porto Alegre esta semana e o que acontecerá no Senegal em 2011.

O encontro terminou frustrando. A esperada presença de Lula e de mais 15 chefes de Estado não aconteceu. O público esperado era de 30 mil,chegou a uma previsão otimista de 10 mil, segundo a Comissão Organizadora. O encontro entre líderes mundiais e representantes da sociedade civil também não saiu do papel.

Pelo que se viu e se noticiou, predominou os discursos de ocasião, cheios de clichês e aproveitamento eleitoreiro. As 16 mesas redondas não empolgaram, debates frios para uma Salvador fervilhando em baixo dos 36 graus e repleta de organizações combativas que lutam pela democracia.