domingo, 29 de janeiro de 2012

Editoria Equipe Mídia e Questão Social

21 de janeiro Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa

Por uma cultura ecumênica: um sonho da democracia




O Brasil do século XXI encontra-se em pleno processo de transformação econômica, tecnológica e educacional. Parece, porém, que ainda falta muito para galgarmos alguns degraus emancipadores – em âmbito político, cultural e social - na desafiante pirâmide dos direitos humanos. Nossa história recente, infelizmente, tem reatualizado com folga o velho drama da corrupção e seu par indispensável, o cinismo quanto à dilapidação do patrimônio público.

Uma nova chaga é a da questão ecológica. Não sabemos se por ignorância, ingenuidade ou puro desleixo, desmatamos, inundamos, deixamos desabar, ameaçamos especies e dizimamos grupos étnicos. Cedemos à cultura voraz da máquina e à pressão do dinheiro. Não podemos parar. Não podemos planejar. Logo, não podemos fazer diferente, como bem sinalizava a professora Nobuco Kameyama, em suas aulas magistrais sobre « Análise de Políticas Sociais ». Não podemos, assim, imprimir nosso ritmo nem nossa bela marca no futuro da humanidade. Preferimos nos deixar arrastar pelos receituários e torrentes econômicas globalizantes.


Eles passarão, eu passarinho… 

No terreno dos movimentos sociais e da cultura, 2011 foi um ano atravessado por denúncias e avanços na mobilização nacional contra a homofobia. No entanto, crimes continuam a ser perpetrados. O machismo latino-americano vitima mulheres e também homossexuais, vide o recente caso do professor de Tocantins, Cleides Amorim. Não há, pois, por que tergiversar: o nome disso é intolerância. Modelos arraigados de gênero debatem-se nutridos por ódio e conservadorismo. Relações sexuais e de gênero mais libertárias são vistas como ameaçadoras, logo, segundo o tacanho ponto de vista do nosso Brasil profundo, precisam ser eliminadas. Felizmente, a resistência existe. Professores e jovens tem se sensibilizado aos dramas de outros jovens país afora, abrindo-se ao diálogo e a uma convivência mais diversa e plural. « Eles passarão, eu passarinho… », como inspiradamente brincava o poeta Mario Quintana.


Bate macumba …

Outra grave expressão do fenômeno da intolerância encontra-se no terreno das religiões. De uma convivência histórica e matreira com nosso catolicismo bonachão e pouco exigente, e de umas querelas pontuais entre vizinhos pouco afeitos aos batuques espirituais africanos, o Brasil passou a ser açodado, intensivamente, a partir dos anos 80 e 90, por vagas petencostais e evangélicas que mudaram as coisas de figura. Como instituem rígidos modelos de comportamento aos seus fiéis, ressuscitam conjuntamente todo um cardápio moralista obsoleto e precisam erigir «bodes espiatórios ».

Cultos afrobrasileiros, candomblé e umbanda, tornam-se, assim, vítima fácil do preconceito homogeneizante e cinza do evangelismo anglosaxão, em suas expressões mais medíocres e comerciais, que usa do direito de concessão pública de transmissão em emissoras de rádio e televisão para pregar o ódio e a intolerância religiosa.

Por uma fé viva e sã…

Pode-se « andar com fé », como canta Gilberto Gil, mas ciente de que cada cidadão tem o direito de professar a sua religião e fé. Ninguém é igual. Nesse território, somos positivamente desigualmente diferentes.

Foram, todavia, exemplos concretos e reiterados de intolerância religiosa, mais precisamente uma sucessão de ataques e desrespeitos às comunidades e adeptos do Candomblé e Umbanda, que levaram várias entidades, mais o Ministério Público Federal, a entrar na justiça contra a TV Record. A Justiça concedeu o direito de resposta, mas ao final uma liminar recorreu da decisão, protelando a ida ao ar de um programa de entrevistas em vídeo com várias personalidades, militantes e intelectuais do mundo da cultura, movimentos sociais e entidades religiosas, pronunciando-se a respeito do repudiável fenômeno da intolerância religiosa.

Nós, equipe do Blog Mídia e Questão Social – de orientações confessionais diversas, incluído o ateísmo -, solidarizamo-nos à população brasileira que tem vinculações com as práticas religiosas ofendidas e emprestamos nosso espaço virtual para contribuir para transmitir esse vídeo-resposta: importante eco de um grande grito por liberdade ecumênica. Confiram também os esclarecedores depoimentos de nossos articulistas: Claudia Correia, Nelma Espíndola e Leandro Rocha.


Equipe Blog Mídia e Questão Social
::::::::::::::::::


Vídeo gravado para ser exibido na TV Record, como direito de resposta das religiões afrobrasileiras contra ataque sofrido na programação da emissora.


:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Salve 21 de janeiro!

O combate à intolerância religiosa e a resistência política
afrobrasileira em solo baiano




 Claudia Correia*


Temos aqui na Bahia um cenário rico, onde a diversidade cultural e religiosa compõe o nosso patrimônio, a nossa identidade e a nossa visão de mundo. Mas os episódios de discriminação racial e religiosa são comuns. A maioria deles envolve o povo de santo e os terreiros de candomblé e de umbanda.

O terreiro Zogbodo Male Bogum Seja Unde, a Roça do Ventura, em Cachoeira, foi invadido e teve parte de seu acervo destruído, numa disputa fundiária com um grupo empresarial. Em 2011, a Casa obteve uma liminar que sustou o processo de agressão, mas ainda não tem garantido o pleno direito ao seu território, nem a paz para manter sua tradição centenária.

Em 21 de janeiro de 2000, a Ialorixá Gildásia Santos, do Terreiro Abassá de Ogum, em Salvador, faleceu de um infarto, após viver dias de muita angústia e perseguição. Ela teve sua imagem depreciada na capa do jornal da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Sua filha, Mãe Jaciara, finalmente ganhou uma ação judicial contra a IURD e conseguiu o apoio do movimento negro e muitos segmentos sociais de toda a Bahia.

Para homenagear Mãe Gilda, como era conhecida, o dia de seu falecimento foi escolhido para ser o Dia Municipal de Combate à Intolerância Religiosa (Lei 6.464/04 de autoria da vereadora Olivia Santana, do PC do B) e Salvador foi a primeira capital a celebrar a data. Em seguida foi criada a Lei 11.635/07, de autoria do deputado federal Daniel Almeida (PC do B-Ba), que institui o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, incluído no calendário cívico nacional.

Mas afinal para que serve este dia? Para refletir, homenagear líderes e grupos que resistem, articular aliados políticos e difundir os princípios da liberdade de expressão, da democracia, da cultura da paz.

Segundo a Declaração de Durban, aprovada em 2001, na III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, “o Estado é responsável pela garantia de igualdade de direitos entre todos os cidadão, o que inclui as liberdades de expressão e de culto religioso .Laicidade não significa omissão. Todos os indivíduos tem o direito de adotar uma crença, de mudar de crença, ou de não ter nenhuma. A laicidade do Estado não é, portanto, uma convicção de crença entre outras, mas a condição primária da coexistência, entre todas as convicções no espaço público”.

Assim, vamos disseminar o respeito a todas as expressões religiosas, a convivência pacifica entre todos os credos e construir uma nação plural e democrática, sem discriminação !

:::::::::::::::::::::::::::::::::::

Direito de resposta
uma estratégia contra o preconceito e por uma cultura da paz




“As religiões são caminhos diferentes convergindo para o mesmo ponto.
 Que importância faz se seguimos por caminhos diferentes,
desde que alcancemos o mesmo objetivo ?          
MAHATMA GANDHI
Nelma Espíndola**


A “Cultura da Paz” é um dos viéses do exercício da liberdade de expressão, quando se traz ao debate o tema da tolerância religiosa. Muitas vezes, para que isto se efetive, é preciso que o malhete [martelo do juiz] soe forte, assegurando o direito e a liberdade de todo os sujeitos sociais na escolha da religião a que mais lhe apeteça a fé.

A TV comercial aberta é o veículo de comunicação, ainda hoje, de maior audiência, logo é também a que mais “invade” o espaço privado, de quem assim a permite, ou, dos que veem nela a possibilidade de acesso à informação, à cultura e à “educação”.  Ou simplesmente não têm outra opção. Por meio dela, muitos conceitos e preconceitos são disseminados, sem que seja percebido claramente por quem a utiliza apenas com o intuito de obter informação.

Claro que existem iniciativas pontuais de qualidade, onde há a liberdade de participação popular na construção de sua produção midiática, ou o acesso à exibição da produção independente. É fundamental, porém, que saibamos que um veículo de comunicação se torna democrático e estimula o exercício do direito à liberdade de expressão, num prisma de ética e respeito, a partir do momento em que seu controle social é feito pelos que os assistem, leem e ouvem: ou seja, nós, cidadãos! Este é um dos fatores básicos para uma qualidade de vida, numa sociedade que busca ser democrática de direitos, mas extensivos a todos, indiscriminadamente.

Vejo o direito de resposta concedido às entidades Centro de Estudos das Relações  de Trabalho e Desigualdade – CEERT, ao Instituto Nacional de Tradição e Cultura Brasileira – INTECAB e ao Ministério Público Federal, em oposiçao aos atos discriminatórios recorrentes das religiões afrobrasileiras pela TV Record, como mais um passo adiante na efetivação da Campanha Nacional  de Combate à Intolerância Religiosa.

O programa « Diálogo das Religiões » mostra-se como um ícone a ser seguido em matéria de instrumento de debate sobre a diversidade religiosa no Brasil e no mundo. Em nosso país, as culturas de matriz africana fazem parte de nossa história e nos deram a possibilidade da diversidade que muito nos enriquece social, cultural e espiritualmente.


Outro impactante fato de intolerância religiosa na TV

Em 1995, um ato de grande repercussão teve como foco a Igreja Católica, na ocasião da comemoração, em 12 de outubro, do dia da santa padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida.  No programa  “Despertar da fé” e “Palavra de Vida”, o bispo Sérgio Von Helder, da Igreja Universal do Reino de Deus, chutou e deu socos em uma imagem de Nossa Senhora Aparecida.  Houve à época ato de protesto  na Catedral de Aparecida. Alegou-se, para minimizá-lo, que o, então,ato se consistia em um protesto contra os feriados católicos, com base no preceito constitucional de que o  Brasil  é um Estado laico. 

Fazer valer o direito de resposta após um ato de agravo, depreciação e humilhação pública é agir contra  a perpetuação  de um estigma, rompendo efetivamente a “cultura do silêncio”.
Em nossa Constituição Federal  de 1988 no Título II, Dos Direitos e Garantias Fundamentais, Capítulo I – Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos,  no Art. 5º, inciso V, está dito: “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem”.

Faço destaque para o inciso VI que traz:  « é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantia, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias”.

O Código Penal Brasileiro em seu Artigo 208 afirma: “escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; expedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto reliogioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso. Pena de detenção, de 1 mês a 1 ano, ou multa. Parágrafo único – se há violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo de correspondente à violência ».

O movimento contra a intolerância religiosa vem ao longo dos últimos três anos ganhando, assim, forma e consistência.  Em 2008 foi entregue à Presidência da República o Plano Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. Em 18 setembro de 2011, aconteceu em Copacabana a IV Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, onde se reuniram umbandistas, candomblecistas, mulçumanos, católicos, judeus, protestantes, espíritas (que muitos identificam como kardecistas), além de adeptos do Santo Daime, hare krishnas, entre outros. Inicialmente, a caminhada era feita majoritariamente por adeptos da umbanda e do candomblé, hoje, se constitui num movimento em que a diversidade religiosa se faz presente.

Para o babalaô Ivanir dos Santos, a “intolerância é uma semente do fascismo”. Trata-se, segundo ele, de se lutar pelo respeito, pela tolerância e pela cultura da paz, bem como de se buscar a livre escolha da religiosidade, já assegurada constitucionalmente, sem que para isto seja necessário, a todo o momento, recorrer ao “Direito de Resposta”, como  resultado de uma ação de civil pública. Ainda em suas palavras:

Nós não excluímos ninguém. Somos um segmento da sociedade brasileira e tudo que nós fizermos serve para a sociedade no seu conjunto. Foi assim no samba, na cultura popular e a caminhada está se tornando uma causa cidadã porque não é um movimento religioso. É um movimento de religiosos, com cidadania, respeito, dignidade e liberdade.

E nós que lutamos pela democratização da comunicação, almejamos que essa bandeira torne-se, de fato, um princípio ético e politico atuante junto a televisões, rádios e a internet, bens tecnológicos e culturais da humanidade, capaz de fortalecer ali tanto a igualdade como o direito à diferença. Nossa militância é para que os meios de comunicação possam ser artifices e portavozes dos direitos humanos.

 ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 

Racistas? Nós?




Leandro Rocha***



“O Brasil não é um país racista”. Esta é a máxima repetida à exaustão em todos os espaços coletivos de nosso país. Nossa sociedade repete isso para si mesma na esperança de que um dia se torne uma verdade, graças ao eco dessa simples cantilena, ou de que um dia se esqueça o que realmente quer dizer o termo “racismo”.

O racismo, assim como a intolerância religiosa e o desrespeito à diversidade, tem sua gênese na ignorância, mas não na daqueles que simplesmente o desconhecem. Seu cerne é a ignorância daqueles que escolhem ignorar. Daqueles que ignoram que a sociedade é diversa e, por este mesmo motivo, rica e fecunda. Daqueles que ignoram que todas as pessoas possuem direitos e, dentre eles o de liberdade de credo. 

Falar sobre a conquista deste direito de resposta e sobre as determinantes que o ocasionaram é antes de tudo falar de racismo, de desrespeito aos direitos básicos contidos na Constituição Federal e em diversos tratados e convenções dos quais o Brasil é signatário. É falar de pessoas que contrariam a sua própria fé, ao praticarem o ódio e a intolerância em nome da mesma.

Indo além, o ataque às religiões afrobrasileiras pode ser entendido no contexto de um país que ainda não consegue mensurar a importância das contribuições dos diversos povos cuja ação neste território possibilitou que hoje tivéssemos uma nação tão diversa e tão bela em suas várias expressões. Considerar as religiões afrobrasileiras como “menores” é desvalorizar a cultura negra e desconsiderar sua contribuição para a formação da identidade deste país. É um resquício irracional de uma cultura etnocêntrica que remete ao início da aproximação dos pesquisadores europeus dos povos que consideravam à época como primitivos, pelo simples fato de não compartilharem de seus costumes. 

Divulgar esse tipo de ideias e de concepções, em uma emissora de televisão, que trabalha através de uma outorga pública torna a ação mais grave, uma vez que, contrariando sua finalidade, a emissora presta um desserviço à sociedade, ao propagar o preconceito. 

Enfim, este é mais um dos casos que nos trazem a materialização de uma demanda que a sociedade reprime por medo do que verá refletido no espelho: o Brasil infelizmente ainda é um país racista e intolerante! Apenas tem muita vergonha de assumi-lo.

::::::::::::::::::::::::::

*Claudia Correia é responsável pela Editoria Caleidoscópio Baiano. Assistente social, jornalista, profª da ESSCSal, Mestre em Planejamento Urbano e Regional. Contato:ccorreia6@yahoo.com.br

**Nelma Espíndola é responsável pela Editoria Web@Tecno. Assistente social, Webmaster do Blog Mídia & QuestãoSocial. Contato: nelmaespindola@gmail.com
***Leandro Rocha é responsável pela Editoria O Efeitor Quixote. Assistente social, pós-graduado em Psicologia Jurídica pela UCAM, integrante da Comissão de Comunicação e Cultura do CRESS-RJ. Contato: e-mail: leorochas@hotmail.com.

Colaboração: Mione Sales, reponsável pela Editoria Volta do Mundo, Mundo dá Volta. É doutora em Sociologia (USP), professora da FSS/Uerj e tem M1 em Literatura Comparada (Paris 3 Sorbonne). Contato : mionesales@gmail.com

::::::::::::::::::::::::::

LINKS
« Cobertura do Culto Ecumênico dia 21/01/2011 - Diário Oficial do Legislativo – Câmara Municipal de Salvador –BA

« Andar com fé », de Gilberto Gil

« Bat Macumba », Mutantes e Gilberto Gil

Caminhada contra a intolerância religiosa lota Copacabana – vídeo RJ TV

Caminhada contra a intolerância religiosa reúne milhares em Copacabana – Agência Brasil


Inrtevozes  Coletivo Brasil de Comunicação Social – Projetos: Direitos  de Resposta
[http://www.intervozes.org.br/projetos/direitos_resposta/Direitos de Resposta, nome dado a série de 30 programas produzidos em conjunto por seis entidades da sociedade civil organizada, entre elas o Intervozes, e que suspenderam por um mês programa veiculado na emissora Rede TV. Os programas foram ao ar de 12/12/2005 a 13/01/2006, das 17h às 18h. Foi o Direito de Resposta concedido pela Ação Civil Pública, movida pelo Ministério Público Federal e as seis entidades por conta das violações aos direitos humanos, em especial os dos homossexuais, no programa « Tardes Quentes », do apresentador João Kléber. Num fato histórico, pela primeira vez foi interrompido o sinal de transmissão de TV comercial aberta, antes da sentença.]

Sobre o direito de resposta aqui mesmo no Blog Mídia e Questão Social


sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Editoria Caleidoscópio Baiano

Conselho de Comunicação da Bahia:
marco histórico na luta pela democratização da comunicação


                                          Fonte: Google


Claudia Correia

Finalmente, após anos de debate, o governo estadual empossou no último dia 10, no Ministério Público Estadual, em Salvador, os membros do Conselho de Comunicação da Bahia (CCS).

Desde 2008, quando realizamos a Conferência Estadual de Comunicação, a primeira do país, a criação do colegiado é defendida pelos movimentos sociais e profissionais que militam na área. A proposta foi uma das deliberações da conferência, defendida com vigor por várias entidades, com destaque para o Sinjorba - Sindicato de Jornalistas da Bahia e pela Cipó-Comunicação Interativa, onde estagiei em Jornalismo em 2007. Os conselheiros terão mandatos de 2 anos e podem ser reconduzidos para mais um mandato. Os representantes da sociedade civil foram eleitos em novembro do ano passado.




Lembro que a proposta rendeu um debate acirrado e polêmico, já que parte dos representantes dos veículos de comunicação se opôs e votou contra, alegando que haveria uma censura de conteúdo a ser veiculado pelos produtores de informação, o que feria a democracia. Saí desta Conferência em 2008 com a nítida sensação de que a briga para implantar o conselho na Bahia tinha poucos aliados, mas que seria vitoriosa. Soubemos persistir e ampliar as alianças estratégicas dentro e fora do governo estadual, a cargo do PT, em segunda gestão, na terra onde o coronelismo de Antonio Carlos Magalhães mandou e desmandou (principalmente) por 30 anos.

Detalhe curioso: em 2007, quando o governador Jaques Wagner nomeou o engenheiro elétrico Robinson Almeida para Secretário de Comunicação, várias entidades, incluindo o combativo Sinjorba, fizeram duras críticas, por ele “não ser da área, não dominar tecnicamente o assunto”. Moral da história: este secretário, o “estranho no ninho”, enfrentou o corporativismo e ainda bancou a defesa das deliberações da Conferência de 2008. Claro que sua gestão tem alguns equívocos, a política de comunicação institucional é cara e vende ilusões, mas tivemos a vontade política de dentro do governo, para que o conselho fosse criado e assim, na Assembléia Legislativa, o projeto de lei tramitou relativamente rápido.

Agora, com orgulho, temos o primeiro Conselho de Comunicação, deliberativo (virou moda agora transformar os conselhos em consultivos, como ocorreu recentemente aqui em Salvador, com o nosso Conselho da Cidade) e que irá traçar as diretrizes, planos e programas da política pública de comunicação. E daí? Para muitos é mais um conselho, ou corre o risco de ser sabotado. O fato é histórico para nós, baianos, que sentimos na pele o poder de manipulação política dos veículos vinculados à família Magalhães como o jornal Correio da Bahia e a afiliada da Rede Globo- TV Bahia. De fato, pode parecer pouco, mas pela primeira vez a comunicação está sendo tratada como um direito humano, um patrimônio de todos, um bem essencial à democracia e não um privilégio de poucos.

A Lei 12.212 de maio de 2011 mudou ainda a estrutura organizacional do governo, transformando a antiga AGECOM – Assessoria Geral de Comunicação em Secretaria de Comunicação e formalizou a criação do conselho.Com novo status o órgão amplia seu orçamento para dar conta da política estadual de comunicação. O novo conselho atende ao artigo 277 da Constituição do Estado da Bahia e surge com muitas expectativas, como o estímulo aos veículos de comunicação comunitária, a produção de conteúdos que expressem a diversidade artística, cultural e social da Bahia, além da inclusão digital.


Opositores de plantão






Vale lembrar que a criação dos conselhos de comunicação enfrenta a resistência da Associação Nacional de Jornais (ANJ) que se opõe à criação do Conselho Nacional e em outros estados que propuseram iniciativas semelhantes como o Ceará. O diretor executivo da ANJ, Ricardo Pedreira, espera que o nosso conselho cuide apenas de “temas locais”. Como assim? Estamos falando de um sistema público de comunicação, integrado, disciplinado por normas gerais e vinculado a uma política nacional deliberada com o aval do controle social. Cada ente federativo tem sua autonomia para definir normas, mas defendemos uma política pública onde os interesses coletivos sejam considerados e não concessões como moeda de troca no jogo político. Afinal, a quem interessa a comunicação truncada, que reforça preconceitos sociais e mantém no poder grupos minoritários e empresários inescrupulosos?

Para justificar sua posição, Ricardo Pedreira retomou um velho mito deste debate. “Somos contrários aos conselhos por entendermos que há neles uma intenção de controle social da mídia. Agora que temos um exemplo prático na Bahia, vamos acompanhar o trabalho e ver como o conselho vai se portar”, pontuou. Curioso que só se teme a censura quando a sociedade protagoniza o controle, mas quando meia dúzia de famílias e líderes políticos populistas se apropriam de veículos para fazer o que querem, inclusive perseguir e caluniar movimentos sociais (temos vários casos) não é censura. De que interesse público estamos tratando? O que está sendo controlado e em nome de que princípios éticos?

Lembro tanto na Conferência Estadual em 2008, como na nacional em 2010, como os empresários do setor se articularam. Fiquei impressionada com o “exército” de empregados de operadoras de telefonia e emissoras de TV que lotaram o auditório na Conferência Nacional em Brasília. Votavam unidos contra todas as propostas de democratização e de controle social. Na Bahia a TV Bandeirantes teve uma participação mais destacada, já que as demais boicotaram a conferência, assim como na etapa nacional. Aliás, eu cobri as duas conferências para o nosso blog.

Voltando a nossa Bahia... Na posse dos conselheiros, o governador Wagner tratou de demarcar território. “A liberdade de imprensa é um direito garantido no texto constitucional. Longe de mim fazer qualquer tipo de controle. A sociedade brasileira já mostrou que é madura e não aceita barreiras à sua livre expressão”, argumentou. Wagner arrancou aplausos da platéia, que lotou o auditório do Ministério Público, ao afirmar: “Lutamos a vida inteira contra isto. Não queremos controlar, nem ser controlados”, assegurou. Ele, um ex-sindicalista do ramo petroquímico da Bahia, sabe bem o poder da mídia, quando pretende detonar líderes de movimentos sociais e manipular a opinião pública.




Expectativas 

Bom, sabemos que o conselho não pode definir sobre conteúdos a serem veiculados pelos meios de comunicação, mas poderá receber denúncias sobre abuso e violação de direitos humanos na mídia e, se preciso, encaminhá-los ao Ministério Público.

O fomento à inclusão digital e o acesso às redes digitais na Bahia estão incluídos como atribuições do CCS. Assim, espera-se que o debate sobre o Plano Nacional de Banda Larga(PNBL) ganhe força nas reuniões do colegiado por aqui. Hoje, em um universo de 417, a Bahia conta apenas com quatro municípios inscritos no programa, que oferece internet banda larga a preços populares. A OI que atua na implantação do plano no estado, promete atingir 37 municípios até o final de 2012.

Na agenda do novo conselho está ainda o debate sobre a missão do sistema público de comunicação. O coletivo Intervozes, membro do conselho, defende a criação de um órgão curador para a TV Educativa e a Rádio Educadora FM, além da implantação de um fundo independente para financiar o sistema, garantindo sua autonomia.

A repercussão da criação do nosso conselho mobilizou setores empresariais, entidades e militantes. O jornal A TARDE, que vem perdendo espaço para o Correio da Bahia (repaginado após a morte de Antonio Carlos Magalhães, o famoso “Toninho Malvadeza”) se expressou através do seu diretor executivo, Silvio Simões, que destacou o papel do CCS no combate ao apartheid entre o Estado e a sociedade.

O presidente da Associação Baiana de Imprensa e conselheiro Walter Pinheiro destacou a vigilância do conselho para defender a liberdade de expressão e a boa prática do jornalismo.

A presidente do Sinjorba, Marjorie Moura, aposta no poder do conselho em pluralizar e interiorizar o acesso à comunicação na Bahia, apoiando as iniciativas que nascem dos movimentos sociais. Detalhe: o mulherio manda bem aqui na militância sindical no jornalismo. Várias lideranças femininas têm se revelado no meio. Fui convidada a compor a chapa da última eleição do Sinjorba, mas os múltiplos compromissos que já assumo não permitiram. Certamente se fosse dirigente, eu iria disponibilizar meu nome à categoria para compor o Conselho.

Enfim, não faltam especulações, planos, esperanças, além, claro, da tradicional torcida contra a nossa pioneira experiência. Para mim, que acompanhei os debates das conferencias de comunicação e sempre torço para que os conselhos de direitos atuem efetivamente no controle das políticas públicas, a criação do CCS é motivo de comemoração. Claro que devemos nos manter mobilizados e vigilantes para que todo este nosso esforço coletivo não acabe em pizza, ou melhor em acarajé.... Mãos à obra!

Veja como ficou a composição de nosso Conselho de Comunicação da Bahia:

TITULARES:

Presidente: Robinson Almeida (Secom)
Antonio do Carmo/ Secretaria de Comunicação
Antonio Albino Rubim/ Secretaria da Cultura
Shirley Pinheiro/ Secretaria de Educação
Daniela Carvalho/Secretaria de Ciência e Tecnologia
Samuel Soares/Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos
Paulo Ribeiro/ Instituto de Radiodifusão da Bahia
Antonio Pinheiro/ Associação Baiana de Imprensa
Geovandro Ferreira/ Faculdade de Comunicação da UFBA
Nei Junior/ TV Aratu
Rafael Lomes/ Grupo Tucano Rádio Comercial
Edvaldo Boaventura/ Grupo A TARDE
Vera Dauster/ Rocha e Propaganda e Marketing
José de Lira/ SindTelebrasil
Pedro Dourado / Uranus 2 Mídia Exterior
Mauricio Xavier/ RX Espaço 30 Produtora
Edisvânio Pereira/ Rádio Comunitária Santa Luz FM (Movimento de Rádio Comunitária)
Majorie Moura/ Sindicato dos Jornalistas da Bahia
Fernando Silva / Associação Vermelho
Nilton Filho / Cipó Comunicação Interativa
Ceres Santos/ Associação Renascer
Daniele Silva/ União Brasileira de Mulheres
Ricardo Bonfim/ S2R Comunicação

:::::::::::::::::::::::::::::


Claudia Correia, Assistente social, jornalista, profª da ESSCSal, Mestre em Planejamento Urbano e Regional. Contato:ccorreia6@yahoo.com.br 

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Editoria Jornalismo na Correnteza

A farsa da confissão de Boni
ou as controvérsias acerca da manipulação jornalística


Ana Lucia Vaz*




Tirar a cabeça de dentro da correnteza significa a possibilidade de respirar com alguma liberdade. Já faz alguns anos, quase não leio mais jornais e revistas jornalísticas, nem ouço ou assisto telejornais. É claro que a gente não fica fora da correnteza. Tem TV espalhada por todos os cantos da cidade. Rádios ligadas, jornais pendurados nas bancas. Isso sem contar os amigos, parentes, vizinhos, a comentar os assuntos que acreditam que eu já conheço. E, mais avassalador: os correios eletrônicos dos colegas da contra-informação.

Acredito que esta pequena liberdade me faz perceber coisas novas no mundo de sempre. Também acho que estou um pouco menos neurotizada pela violência e indignada pela canalhice. Mas toda liberdade tem preço! Poucas vezes é preciso conhecer a notícia para compreender o enredo do comentário que me chega. As notícias mudam quase tão pouco quanto os enredos de novela. Mas, de vez em quando, sou assaltada por um debate que me coloca num lugar de estranhamente desconfortável. 

Foi o que se passou quando choveram mensagens em minha caixa de correio com o link para o trecho da entrevista[i] em que Boni, diretor da Rede Globo em 1989, “assume a manipulação” do debate entre Lula e Collor no segundo turno das eleições daquele ano.

Assisti ao trecho da entrevista e não entendi a empolgação de meus colegas da contra-informação. Boni diz que foi procurado pela assessoria do Collor e concordou em fazer alguns pequenos retoques de imagem para tornar o debate, segundo ele, mais equilibrado. Glicerina para simular suor e outras bobagens cenográficas. Se a distorção daquele debate tivesse se limitado a isso, eu não teria percebido.




A entrevista foi ao ar no dossiê Globo News. Ou seja, pela própria emissora “acusada” de manipulação. Tem algo estranho aí, né? Enquanto coçava a cabeça, em busca de algum piolho perdido, desconfiada com o que pareciam fogos de artifício, outras mensagens caíram na minha caixa. 

Desta vez, uma tentativa de explicação dos bastidores políticos da troca de âncora no Jornal Nacional. Dois bons artigos que podem ser lidos juntos no blog do Renato Rovai[ii]. A tal entrevista de Boni é mencionada no artigo de Rodrigo Vianna como parte de uma estratégia de mudança na linha editorial do jornalismo da Globo. Mudança esta que incluiria desde acordos com a presidente Dilma, até a troca da ancoragem do Jornal Nacional. Isso faz sentido! Inclusive porque, em minha cotidiana leitura das manchetes nas bancas de jornal, ando sentindo falta das bordoadas do O Globo na Presidência da República.

Se as análises de Rodrigo Vianna e Marco Aurélio Mello estão certas ou não, quem sou eu para avaliar? Como ex-jornalistas da Globo, com certeza conhecem aquilo melhor que eu. Mas também estão mais envolvidos, mais imersos na correnteza.


 Os ex-jornalistas da Globo Rodrigo Vianna,  do Blog  Escrivinhador   e  Marco Aurélio Mellodo Blog Doladodela

No mesmo dia em que Rovai publicou os artigos aqui citados (1/12), Reinaldo Azevedo, comentarista da Veja, publicou um pequeno comentário em seu blog, ao pior estilo da revista. Apoia-se no senso comum para desfazer dos autores dos artigos, sem se dar ao trabalho de discutir o conteúdo[iii]. Quer dizer, muitos indícios de que tem azeitona na empada! No mínimo, a velha estratégia da Rede Globo, de recontar a história do seu jeito. 

Então fui cutucar mais a internet. Encontrei uma entrevista com Boni, no Roda Viva, desta vez na TV Brasil[iv]. Os entrevistadores chegam mais perto da verdadeira falsificação do debate entre Collor e Lula: a edição dos trechos, em função dos interesses do editor. Mas, nem mesmo nesse, o assunto aprofunda. A história de Boni chega a ser engraçada: “O debate foi três a dois”, a favor do Collor, diz ele. Então, na edição do Jornal Hoje, os “esquerdistas de plantão” teriam editado a favor do Lula, transformando em zero a zero. Aí, o Doutor Marinho reclamou e os “puxa-sacos de plantão” teriam editado dando três a zero para o Collor. 

Como assim? Alguém sabe explicar como é que a gente contabiliza os pontos num debate político? Quem é o observador imparcial que dá legitimidade à numerologia de Boni?


O mito da imparcialidade jornalística e o fantasma da manipulação


Tentando sobreviver na correnteza


Passo um semestre inteiro repetindo para os meus alunos de jornalismo alguns mantras. O primeiro é que a imparcialidade jornalística – que eles já sabem que não é possível – também não é, sequer, a meta de nenhum jornalismo.

A imparcialidade jornalística, que seria este distanciamento entre a narrativa jornalística e as paixões humanas - não é um método de aproximação da realidade, mas um discurso ideológico, no sentido mais restrito que se dá à palavra ideologia: engano, falsificação. 

O jornalista utiliza diversos recursos cuja função é a de simular a imparcialidade. No texto escrito, esses recursos vão desde o cuidado para evitar os adjetivos, até o uso do título no presente, para dar, ao leitor, a sensação de presenciar o acontecimento, disfarçando o efeito de narrativa. No texto televisivo, este distanciamento depende de enquadramentos, sequências de imagens e, por fim, da performance dos apresentadores. 

O conhecimento científico, que nasceu e cresceu sustentado na crença positivista, já superou esta ideologia. Onde foi realmente aplicado, o método científico provou a impossibilidade de separação entre sujeito e objeto. Se não existe essa separação, nenhum sujeito pode se pretender porta-voz da realidade. Na melhor das hipóteses, podemos ser verdadeiros, ao falar de nossa experiência. 

Mas, quem está realmente pronto a escrever ou falar para o público despindo-se deste poder simulado? Um dos maiores aprendizados do ofício de professora, para mim, foi perceber a distância entre o que pretendemos dizer e o que nosso receptor ouve. O segundo foi entender que, por consequência, minha pretensão de “manipular”, no sentido de induzir o olhar do público numa direção desejada, utilizando artifícios narrativos, era bobagem. E, ao mesmo tempo, um vício impossível de evitar por completo. 

Por isso, a palavra manipulação não faz sentido. A edição de qualquer debate, de qualquer matéria, seja num telejornal ou num veículo impresso, é obra de seres humanos. Portanto, manufaturado. Acusamos o adversário de manipulação porque alimentamos, em nosso íntimo, o desejo de fazer crer que nossa versão é a Verdade, sem “manipulação”. Mas não é, porque não pode ser. Porque somos apenas seres humanos, imersos na imensa correnteza de nossas crenças tacanhas, capazes de enxergar apenas uma pequena, ínfima parte da realidade, distorcida por nosso olhar míope.

Batalhas narrativas : maniqueísmo e a manipulação
ou o risco de assumir a nossa miopia




Para não terminar o texto desse jeito depressivo, me arrisco a ensaiar caminhos de redenção (porque, afinal, também nado nesta correnteza da luta do bem contra o mal). A consciência de minha miopia não reduziu minhas esperanças nem o tesão de encarar a correnteza de cabeça erguida. Pelo contrário, quanto mais percebo minha miopia e minha incapacidade de “fazer a cabeça de alguém”, mais maravilhoso e cheio de possibilidades me parece o mundo. Mais livre me sinto para ver e para dizer. No meu caso, ao menos, creio que o maniqueísmo é um dos grandes defeitos que reduzem minha visão.




A falta de manchetes do Jornal O Globo contra Dilma, por exemplo, me fazem desconfiar do governo. Me sentia mais confiante quando O Globo descia o malho no Lula. Acho que é uma limitação de nossa cultura, uma correnteza bem forte, esta de querer ver o mundo dividido em bem e mal e forçar todas as palavras para tentar provar a nós mesmos que estamos do lado do bem. Mas, talvez, seja um mal que assola principalmente os jornalistas. Imersos que estamos neste campo de batalha narrativa onde as regras mesmo do embate forçam no sentido da redução da realidade a dois polos antagônicos.




Enfim, tenho poucas certezas sobre nossas limitações e menos ainda sobre como superá-las. Mas uma forte convicção de que o maniqueísmo é aliado inseparável da manipulação. A entrevista do Boni, seja lá de que decisões políticas tenha nascido, é apenas expressão do velho cacoete global de tentar « fazer nossas cabeças » recontando a história. E acreditar que esta entrevista faz justiça à história é afogar-se na correnteza global.

:::::::::::::::::::::::::::::

*Ana Lucia Vaz, jornalista, mestre em Jornalismo (USP), membro da Rede Nacional de Jornalistas Populares (http://www.renajorp.net) , professora de jornalismo e terapeuta craniossacral.

:::::::::::::::::::::::::::::

DICAS

[i] Boni no programa Dossiê da Globo News (26/11/2011)
http://www.youtube.com/watch?v=VrpurEkmJkU