quinta-feira, 24 de junho de 2010

Editoria Volta do Mundo, Mundo dá Volta

Na contramão do fetiche da mercadoria
Os “Casseurs de Pub” em ação na França


Mione Sales*
Texto / Fotos


« Qu’est-ce qu’un homme révolté ? Un homme qui dit non.»
Albert Camus.

“São tão fortes as coisas, mas eu não sou as coisas e me revolto”
Carlos Drummond de Andrade.


               Banksi. Arte de rua.

Domingo, voltava para casa, fugindo do incômodo frio parisiense curiosamente às vésperas da chegada do verão na França (21 de junho) e pouco antes da partida Brasil e Costa do Marfim (Côte d’Ivoire). Tive que fazer correspondência na estação Père Lachaise (Linha 3). Caminhava distraída pelo metrô, quando avistei um cartaz singular (abaixo) instalado nos atuais espaços de difusão de cartazes nos metrôs parisienses. Digo atuais, porque antes eles não eram protegidos por vidro e moldura de metal, qual a Monalisa no Louvre. Ficavam largamente estampados por toda parte.


Mesmo estando em francês, o texto não é muito difícil nem para quem lê e fala apenas português ou espanhol : « Os patrões destroem nossas vidas, destruamos os patrões ». A frase segue o espírito « maio de 68 », ou seja, é uma espécie de palavra de ordem ou máxima, no imperativo afirmativo: « Détruisons ! ». Ao me dar conta do cartaz e do texto, fui tomada primeiro por um estranhamento natural, misto de surpresa e curiosidade sobre quem teria instalado esse cartaz ali. Como sabemos, a « pub » - diminutivo de publicidade – tem se apropriado largamente de ícones da esquerda. Nosso colega de blog, Jefferson Ruiz, é um dos que têm denunciado sistematicamente esse artifício, na era do pastiche intelectual e mercadológico. Tudo pode e tudo vale para vender, até resgatar e fazer uso da aura de militantes e símbolos de resistência, sendo Che Guevara e Gandhi alguns dos mais mobilizados para esse fim.

De volta ao cartaz no metrô, observando melhor, percebi que era artesanal e dei-me conta de que era uma ação político-criativa dos que militam contra a publicidade, ao alcance da mão e dos olhos. Um pouco mais à frente, deparei com outros espaços publicitários igualmente « ocupados » pelo mesmo grupo ou pessoa. Não levava assinatura, pois se segue o princípio da arte da rua, não precisa também colaborar diretamente com a polícia e o seu contrôle desse tipo de prática.



Dessa vez, eles ocuparam dois painéis, numa bela recusa da cultura materialista e tudo o que tem servido a encher os potes de ouro da sociedade capitalista nesse começo de século XXI. Trata-se de uma ilustração com uma espécie de roda da fortuna, metamorfoseada em símbolo da reciclagem. Logo acima, o eixo da crítica: dinheiro. De um lado, o rastro de problemas provocados por essa lógica produtivista: vício, doenças (todos condicionados pela prática excessiva do consumo) e o suposto medicamento, com a reentrada no sistema : título de propriedade intelectual. Do outro, o lado mais claro e aberto ligado à ideologia do mercado e da sociedade financeirizada: quem não se renderia ao seu apelo? Investimento, lucros, progresso e trabalho!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Editoria Caleidoscópio Baiano

O(a) assistente social na telona



Claudia Correia*


Recentemente, duas produções cinematográficas de grande repercussão e de gêneros diferentes, abordaram en passant o trabalho do assistente social.

Refiro-me aos filmes americanos “Preciosa” (drama) e “Caso 39”(suspense). Pelo conteúdo pedagógico, recomendei ambos aos meus alunos da disciplina Ética Profissional, da Escola de Serviço Social da UCSal, onde leciono há 16 anos. Meu objetivo era promover uma reflexão crítica sobre como a mídia contribui para construir uma representação social sobre o papel e a natureza do nosso trabalho.

Dando todos os descontos por se tratar de obras de ficção, no contexto do entretenimento e não uma tradicional cobertura jornalística sobre a realidade factual do cotidiano profissional, muitas questões interessantes puderam ser levantadas.

Quem teve a oportunidade de ver os filmes percebe claramente a complexidade da relação que se estabelece entre o assistente social e as demandas dos usuários dos serviços sociais, além de aspectos éticos vinculados ao sigilo profissional e à documentação técnica produzida em decorrência do acompanhamento dos chamados “casos sociais”.

Ambientado no Harlem ,em 1987, “Preciosa” conta a trajetória dramática de uma jovem de 16 anos, afro-americana, interpretada por Gabourey Sidibe. Vítima da violência sexual de seu pai, ela supera desafios para conquistar o direito à educação e à sua plena cidadania. Sua maior aliada nesta difícil empreitada é uma obstinada professora de uma escola alternativa, focada na autoestima e na diversidade cultural de jovens excluídos socialmente. O papel do assistente social é vivido por Grace High Tower. Na minha percepção, é passada ao público uma imagem profissional excessivamente burocrática, centrada no gerenciamento de “benefícios” assistenciais que Preciosa e sua conflitada família usufrui. A idéia mais forte que fica no enredo é que o assistente social atua como um mero fiscal da lei, definindo punições aos familiares infratores, no caso a mãe e o pai da protagonista. Não há uma intervenção mais aprofundada na dinâmica familiar, articulada ao contexto social. Prevalece na conduta profissional, uma avaliação moral sobre bons e maus comportamentos e não uma reflexão ética sobre as contradições sociais que servem de cenário à trama das relações familiares.



O “Caso 39”, muito próximo de um filme de terror com direito a mortes bizarras e muita tensão, já mostra uma outra face do nosso trabalho. A destemida assistente social Emily Jenkins (Renée Zelweger) banca a detetive e posa de heroína. Na sinopse, aparece o jargão : “ a idealista assistente social tenta salvar a criança dos pais abu.sivos..”. Diante do suposto sofrimento psíquico da pequena Lilith Sullivan, ameaçada pelos pais agressores, a corajosa Emily ultrapassa todos os limites do bom senso. Leva documentação de usuários da Vara de Família onde atua para sua casa, atua numa equipe interdisciplinar sem a mínima articulação e ainda torna-se refém da criança.



Óbvio que o olhar do público leigo sobre as duas versões reveladas através dos filmes sobre quem é de fato este personagem, o que faz e porque toma determinadas atitudes, não poderia ter o nosso viés.

O que me chama atenção é que a representação social que os meios de comunicação de massa e neste caso particular, o cinema, constrói, cria nebulosas fantasias sobre nosso processo de trabalho. Longe desta lógica reducionista da telona, não encarnamos nem o legalismo burocrático das instituições, nem o afã heróico de “salvadores da pátria”.

Hoje nosso ideário defende um projeto societário compartilhado com segmentos sociais que apostam no protagonismo da população, na força dos movimentos sociais, no controle social das políticas públicas, na defesa dos direitos humanos. Com limites e possibilidades, tecemos nosso cotidiano com senso crítico, enfrentando valores autoritários e conservadores, tão bem incorporados na vida das instituições. A instrumentalidade da nossa ação não se dissocia de um projeto ético político profissional sustentado na ampliação de direitos sociais e no combate a todas as formas de opressão e preconceito. Nosso olhar sobre a família não deve reproduzir uma moral conservadora, precisa contemplar suas novas configurações, o sistema de poder em que se insere.

A sensação de nos vermos retratados em personagens com os quais não nos identificamos, a partir de uma caricatura que não reflete nossa identidade como sujeitos sociais, causa um estranhamento desconcertante.

Por outro lado, nossa exposição midiática dá visibilidade, nos insere na cena da vida social, nos tira de uma existência coadjuvante, o que reforça nossos compromissos éticos. Que script queremos encenar neste enredo? Que aliados elegemos para contracenar e estabelecer alianças? Que responsabilidades assumimos diante do caos social? Com que clareza de objetivos e estratégias estamos representando nosso personagem na vida real?

Confesso que sai do cinema, nos dois filmes, com uma ambígua sensação: a de que precisamos compreender a intersubjetividade do nosso importante papel social e ao mesmo tempo em que devemos romper com os estereótipos que nos aprisionam. O desafio está lançado. Só não vale temer atuar no mar de tantas contradições, se omitir, se vitimizar.

Recomendo que vocês assistam os dois e reflitam sobre suas impressões.


*Claudia Correia é assistente social, jornalista, professora da ESSUCSal e Mestre em Planejamento Urbano e Regional.

domingo, 20 de junho de 2010

Editoria Equipe do Blog Mídia e Questão Social

Adeus Saramago!

Foto: Céu Guarda

Certa vez José Saramago disse: “todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia a mais.” Porém, infelizmente o dia 18 de junho desse ano não foi apenas mais um dia... Ontem o mundo perdeu mais um pedaço de sua alma poética, pois, nesta data, o grande escritor português José de Sousa Saramago faleceu vitimado por uma leucemia crônica.

Nascido na região de Azinhaga em 16 de novembro de 1922 e proveniente de família pobre, este autodidata apaixonado pela literatura e dotado de um talento incomum para falar sobre as nuances do “ser humano”, se tornou referência mundial no que tange ao uso da palavra como forma de refletir sobre a complexidade tão simples da vida humana.

Seu estilo ímpar de escrever trazia em suas obras frases longas, a utilização não-convencional de pontuação e a junção entre os parágrafos narrativos e as falas das personagens, nos mostrando, mais do que uma nova forma de escrever, uma nova forma de sentir e refletir sobre a vida.

Sua sensibilidade, seu pensamento extremamente crítico e sua coragem em dizer o que pensava e sentia, levaram José Saramago a receber diversos prêmios durante sua carreira, dentre eles o Prêmio Camões em 1995 e o Prêmio Nobel de Literatura em 1998. No entanto, estas mesmas características trouxeram a perseguição por grupos religiosos ao falar sobre temas bíblicos (como nos livros “O Evangelho segundo Jesus Cristo” e “Caim”) e por grupos judaicos de defesa dos direitos civis (após a alegação de que “Vivendo sob as trevas do Holocausto e esperando ser perdoados por tudo o que fazem em nome do que eles sofreram parece-me ser abusivo. Eles não aprenderam nada com o sofrimento dos seus pais e avós”).

sábado, 19 de junho de 2010

Editoria Jornalistas Parceiros


Liliana Peixinho*



Dia 08 de junho a comunidade acadêmica da Universidade Federal da Bahia-UFBA foi surpreendida com desmatamento de parte do que a própria a universidade classificou como “Memorial da Mata Atlântica”, localizado no Campus Ondina. Prova que o discurso não corresponde à prática nem mesmo em retaguardas importantes como as instituições de ensino, local de pesquisa, defesa de culturas, propagação do saber, fortalecimento dos instrumentos de construção da democratização, difusão da informação como ferramenta fundamental para o exercício da cidadania e outras tantas teorias.

Alunos do curso de jornalismo Científico da Facom, professores, estudantes de outras faculdades e ambientalistas que estiveram in loco no estrago do desmatamento manifestaram indignação com o fato. A professora-doutora Simone Bortoliero, Pesquisadora, vice presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Cientifico e coordenadora do Grupo de Jornalismo Científico e Ambiental da FACOM -UFBA, que tem foco de diversos trabalhos/ pesquisas/estudos em meio ambiente, ficou estarrecida com o fato e circulou uma carta na UFBA inconformada com a posição da instituição após o fato, através de informações veiculadas no site oficial da universidade, onde informa que a área (desmatada) será utilizada para a construção de um prédio para o Instituto de Humanidades, E que está decisão já havia sido prevista há dois anos, em reunião do Conselho Universitário dentro da proposta do REUNI, plano federal que prevê o aumento das vagas e que tem como conseqüência a ampliação da infra-estrutura e de construção de inúmeros prédios. O fato - diz a professora- é que o campus de Ondina já se transformou num canteiro de obras, mas nunca poderíamos imaginar que iríamos construir em área de mata em recuperação. Simone Bortoliero antecipou algumas informações, frutos de pesquisa científica (Geologia e Biologia) onde apontam o local com aproximadamente 25000 m² e que estende-se da Escola de Dança ao Instituto de Letras.


Estudos de alunos de graduação orientados por diversos professores demonstram que há, (ou havia) espécies florísticas de mata atlântica (Nunes, A. T.; Roque, N. 2006. Levantamento florístico das espécies arbustivo-arbóreas dos fragmentos de mata do Campus de Ondina da Universidade Federal da Bahia Salvador, Bahia). O relatório informa que além de animais dispersores de sementes, em 2009, alunos introduziram espécies originárias de mata atlântica como Protium burm.f. conhecida como Amescla, Vatairea Aubl conhecida por Angelim-amargoso, Eschweilera ovata (Cambess.) Miers conhecida por Biriba, Spondias mombin L. conhecida por Cajazeira, Sloanea L. conhecida por Carrapateiro, Brosimum Sw.sp.1 conhecida por Conduru, entre outras. Desse trabalho de Nunes há citações sobre as espécies encontradas e que são nativas da Mata Atlântica: Schinus terebinthifolius Raddi; Himatanthus bracteatus (A.DC.) Woodson; Urera baccifera (L.) Gaud.; Trema micrantha (L.) Blume; Guazuma ulmifolia Lam.; Solanum lycocarpum St.Hil.; Chrysophyllum splendens Sprengel; Genipa americana L.; Eugenia cyclophylla O. Berq; Guarea guidonia (L.) Sleumer; Senna macranthera (Collad.) Irwin & Barneby; Cassia grandis L.f.; Cecropia pachystachia Trec.; Tapirira guianensis Aubl.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Editoria Estranha Semelhança com a Utopia

O SUS, a saúde-mercadoria e três filmes americanos
(estaríamos contribuindo para o desmonte da política pública de saúde no Brasil?)


Jefferson Ruiz*

Nas nossas vidas há momentos em que nos vimos obrigados a nadar contra a correnteza.

Em alguns deles, no entanto, sequer percebemos que nossos atos favorecem o sentido dos rios e das águas: estamos convencidos de que nossa atuação vai em sentido oposto... Em geral esta sensação equivocada ocorre em períodos em que é tamanha a hegemonia de determinada ideia que quase a naturalizamos: passamos a buscar e defender, ainda que em pequenos círculos, argumentos que a justifiquem. 

Os mais sensíveis talvez não devam passar deste parágrafo. As reflexões que se seguem são, ao menos para mim, muito incômodas, exigindo capacidade de autocrítica e gerando, por vezes, forte sentimento de impotência frente a um quadro que tende, na atual conjuntura, a ainda se complicar.

Sabendo me arriscar à crítica de quem ler esta contribuição (o que seria bem legal, posto que a intenção do blog não é só refletir sobre a relação entre mídia e as nossas vidas, mas provocar debates e alimentar reflexões do leitor e dos autores dos artigos), penso que ocorre, atualmente, com o Sistema Único de Saúde brasileiro algo semelhante àquela sensação acima. Aí vai a afirmação polêmica: muitos de nós, que dizemos defender o SUS, contribuímos para fragilizar as condições de sua defesa.

Argumentos há para isso, e muitos. Em diferentes níveis de legitimidade eles se colocam por pessoas de diferentes visões de sociedade. O resultado, infelizmente, parece ser o mesmo: a maior dificuldade de defesa do SUS como modelo de política pública universal, gratuita, com qualidade e socialmente monitorado.

A imprensa cumpre seu papel. Dificilmente passamos um mês sem reportagens que qualificam como descaso ou algo mais grave a situação em que se encontra o atendimento público medicinal à população. A última que li dizia respeito às imensas filas de hospitais públicos. Cada um de nós se lembrará facilmente de reportagem em televisão, de matéria na internet ou em jornal impresso, ou mesmo de relato de vizinhos ou parentes sobre o que seria “a falência do SUS” ou denominações semelhantes.

Nós, que somos “de esquerda” no complexo mundo das lutas sociais, não fazemos esta afirmação abertamente. Questionamos, com absoluta razão, a ausência de investimento público na rede de atenção à saúde; os baixos salários pagos aos profissionais; as condições de trabalho nefastas encontradas nos equipamentos públicos; a perspectiva de criação de Organizações Sociais e outros fatores gerados pela política que degradam, dia após dia, as condições de defesa do SUS. No entanto, assim que sobra uma graninha, uma das primeiras prioridades é encher os bolsos dos planos privados de saúde em nome de uma pretensa (nem sempre real) segurança para o caso de virmos, nós ou nossas famílias, a adoecer. Ideologicamente ganhos para esta necessidade, mantemos o discurso de defesa da saúde pública. Ela atenderia aos mais pobres, aos que não têm condições de pagar por seu próprio atendimento médico com maior qualidade. Em outras palavras, são “políticas pobres para os pobres”. Teria este nosso comportamento algo a ver com o esvaziamento das lutas populares em defesa do SUS?


O SUS e políticas bem sucedidas


Há políticas para a saúde no Brasil que não seriam as mesmas sem a existência do Sistema Único de Saúde. É sempre bom lembrar que ele foi fruto de lutas de décadas, feitas por movimentos sociais, profissionais da área da saúde, partidos políticos e outros sujeitos sociais. Vejamos algumas destas conquistas:

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Editoria Web@Tecno

A comunicação em três momentos



Nelma Espíndola*


O mês de maio trouxe-me vários intercâmbios de conhecimentos. Fiquei muito contente com essa possibilidade que vivi e quero, de alguma forma, dividi-la com vocês. Minha agenda “bombou”, literalmente, coisa que nunca tinha acontecido.

Foram seis eventos dos quais participei, três ligados ao Serviço Social e outros três à área de comunicação social. Dois eventos de comunicação abordaram temas que estão nas agendas internacional e nacional: a sustentabilidade e a prevenção do suicídio. O último ligado à universidade.


Um pequeno flash de uma cobertura

Para que tenham uma ideia, farei um breve panorama sobre todos esses debates. O primeiro evento sobre comunicação que participei e sobre o qual falarei nesta Web@Tecno foi a X GAMACOM – A Semana de Comunicação da Universidade Gama Filho (Campus da Piedade), cujo tema foi “Comunicação, Ética e Sociedade”. De 18 a 21 de maio, a GAMACOM contou com a participação de nomes expressivos do jornalismo e da publicidade que trouxeram suas experiências aos estudantes.

O segundo evento foi o III Fórum Internacional de Comunicação e Sustentabilidade, no Vivo Rio (Aterro do Flamengo), de 19 a 20 de maio. Seu objetivo foi promover a discussão sobre o conceito e prática de sustentabilidade entre os setores público, privado e a sociedade civil. Como norte, os quatro princípios da Carta da Terra: Democracia, Não Violência e Paz; Integridade Ecológica; Respeitar e Cuidar da Comunidade da Vida; e Justiça Social e Econômica.

Estiveram presentes, neste III Fórum, palestrantes nacionais e internacionais: Rigoberta Menchú, Prêmio Nobel da Paz (1992) por sua campanha pelos direitos humanos, principalmente em favor dos indígenas; Muhammad Yunus, fundador do Grameen Bank, o banco dos pobres e Prêmio Nobel da Paz (2006); o idealizador do projeto Clean Up Day, Rainer Nõlvak que, em agosto de 2007, com a participação de 50 mil voluntários limpou a Estônia em apenas um dia; o escritor Leonardo Boff; o rapper MV Bill; o jornalista André Trigueiro; o poeta GOG – Genival Oliveira Gonçalves; a pedagoga e fundadora da Casa do Zezinho Tia Dag; a médica e fundadora da Saúde Criança, ex- Renascer, Vera Cordeiro; o cantor e compositor Seu Jorge; e Ferrez, um dos mais respeitados escritores da atualidade, entre outros palestrantes.

O último evento aconteceu na Fiocruz, campus Manguinhos. Foi o Seminário “Suicídio na Imprensa: entre informação, prevenção e omissão”. Além de promover a reflexão sobre estratégias de prevenção, a abordagem do suicídio na mídia ou sua omissão teve como pano de fundo a promoção de saúde mental. Na coordenação dos debates o pesquisador, professor e médico Carlos Eduardo Estellita-Lins. Algumas presenças : Antonio Marinho (O Globo), Arthur Dapieve (PUC-Rio); Flávia Junqueira (jornal Extra); e Neury José Botega (Associação Brasileira de Psiquiatria / ABP), um dos mais proeminentes pesquisadores sobre o tema no país.

Cada um desses eventos, dentro de suas particularidades, trouxe-me questionamentos e reflexões. Pude, a partir daí, pensar sobre todos esses importantes temas. Procurarei, ao longo deste mês, expôr um pouco do que foi discutido aqui no Web@Tecno. São eventos que deixaram marcas nesse mês de maio de 2010 e cujos assuntos pautados têm vida longa. Certamente não fui a única a experimentar essa metamorfose.


Hoje, a X GAMACOM

   Da esquerda para direita Gabriela Mafort, Chico Otávio, Ricardo de Hollanda, Norman Roland e Vítor Iório
 

domingo, 6 de junho de 2010

Editoria Jornalismo na Correnteza

Pelo direito de ficar doente

                                
Ana Lucia Vaz*


Ainda bem, este é um blog onde exercitamos o desejo de transformação e liberdade. Por isso, não preciso pedir desculpas pelo mais de um mês de sumiço. Mesmo porque não me sinto realmente culpada.

Na primeira semana, sumi por absoluta incapacidade de fazer qualquer outra coisa além de corrigir provas. Dando aula para turmas de primeiro período, em uma universidade privada, tenho, hoje, mais de 400 alunos. Uma verdadeira avalanche me soterrou, na linha de montagem da semana de provas.

Depois veio a gripe. Uma gripe como nunca tive antes, que durou três semanas, na maioria do tempo me deixando totalmente abestalhada.

Três semanas gripada, em plena mega-campanha nacional de vacinação contra a gripe suína não foi fácil. O Brasil fez a maior campanha de vacinação contra o vírus H1N1, no mundo, avaliou, orgulhoso, nosso ministro da Saúde.

Pouco provável que eu tivesse a gripe suína. Não tive a maioria dos sintomas dela. Mas gripe é gripe e não faltou quem aproveitasse a correnteza da campanha pra vacinar-se também contra a gripe sazonal. E, me vendo cambaleante, aconselhasse: “Você devia se vacinar! Desde que me vacinei não gripei mais.” Largada na cama sempre que podia, me senti um gravetinho enterrado na areia que resiste à correnteza vergando como quem vai quebrar.

Adoramos dar opiniões. Mas, como já explicou um teórico cujo nome não lembro, a gente emite opiniões, principalmente, para ser aceito. Portanto, é fácil falar a favor da correnteza. Mas graveto enterrado na areia, se não quiser quebrar, é melhor ficar calado.
 
**

*Dúvidas sobre vacinação*


Só exponho publicamente minhas desconfianças em relação à vacinação contra o H1N1 agora, porque a campanha terminou e não corro o risco de ser acusada de promover a pandemia. Tem briga que não dá pra encarar! Mas que eu não me vacinei, não me vacinei. Nem contra o H1N1, nem contra o vírus sazonal.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Editoria Volta do Mundo, Mundo dá Volta




Mione Sales*
                                    Louise Bourgeois, junto à sua escultura Eye to Eye / Olho no olho

A escultora Louise Joséphine Bourgeois morreu, aos 98 anos, nesta última segunda feira (31/05), nos Estados Unidos, vítima de um ataque cardíaco. Esta é, sem dúvida, uma grande perda para a humanidade, mas como já virou eterna, o diálogo com ela não se interrompe. O conjunto da sua obra, vista como colossal, inquietante e bela pelos franceses, continuará a ecoar por si mesmo.

A editoria Volta do Mundo dedicou a essa maravilhosa artista uma matéria em março deste ano, em reverência singular ao mês das mulheres. Cabe revisitar essa leitura http://midiaequestaosocial.blogspot.com/2010/03/editoria-volta-do-mundo-mundo-da-volta.html], porque ela oferece um balanço mais completo do projeto bourgeoisiano. Aqui, nessa homenagem póstuma, vamos priorizar elementos novos apreendidos no documentário « Louise Bourgeois » (França, 1993), um filme de Camille Guichard, produzido pela Arte télévision.

Não cessamos, portanto, de (re)descobri-la. Mesmo se a arte não tem compromisso direto com a explicação das motivações do artista, é admirável que a sua tenha sentidos humanos quase que palpáveis, donde a sua tocante e brutal universalidade.


Quanto magoado sentimento eterno *

« La souffrance est le sujet qui m’occupe.
Donner sens et forme à la frustration et à la souffrance.
Ce qui arrive à mon corps doit se traduire dans une forme abstraite.
(…) L’existence des souffrances ne peut être mise en doute.
Je ne propose ni remèdes ni excuses.
Je veux simplement les considérer et en parler.
Je sais que je ne peux rien faire pour les éliminer ou les supprimer.
Je ne peux pas les faire disparaître ; elles resteront là. »**

LOUISE BOURGEOIS

                                                      A destruição do pai

As criações de Louise Bourgeois não se separam da sua experiência como mulher, filha e estrangeira. Elas estão pregadas como máscaras na sua cara, diria Clarice Lispector. O documentário em questão centrado em entrevistas com Louise, na época com 82 anos, flagra, entre perguntas e respostas, instantes de uma dor pungente numa velha senhora. São dores antigas. Dores de menina. Do tempo em que seu pai caçoava dela à mesa de jantar. Ele dizia lamentar que ela tivesse nascido e fosse apenas puro acidente.