quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O que queremos da mídia?


Muitos de nós apresentamos várias críticas à mídia. Em um país com a concentração de propriedades dos meios de comunicação como é o Brasil, elas são não somente necessárias, como muito bem-vindas, conforme demonstrou a colega Cláudia Correia aqui no blog em seus artigos sobre a Conferência Nacional de Comunicação. Uma das questões que sempre nos é colocada é o quanto a mídia transforma em espetáculo fatos que não são necessariamente notícias de interesse público. O que parece importar é vender notícia e não informar. É preciso registrar que há contradições internas nas próprias redações de jornais, portais e outros instrumentos de comunicação, com profissionais provocando debates acerca do que é ético ou não no contexto da produção e divulgação das informações. Uma destas contradições foi expressa no último domingo, 27 de dezembro, no jornal Folha de São Paulo. Trata-se de um pequeno artigo do jornalista Clóvis Rossi sobre a cobertura da disputa pela guarda do menino brasileiro Sean Goldman. Acrescentamos às reflexões de Rossi que é preciso ter em conta as previsões do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90) no Brasil. A legislação prevê que o interesse da criança e do adolescente deva ser, sempre, protegido.

O ano de 2009 caminha para o final, mas, como vemos, a “roda da espetacularização midiática” continua a incensar os debates, por isso não podíamos deixar de propor ainda essa última reflexão sobre um tema ao mesmo tempo público – o direito à informação e suas controvérsias – e privado – a disputa da guarda de uma criança com pais de nacionalidades distintas.



Desejamos uma boa leitura e aproveitamos para saudar os nossos colaboradores e sobretudo nossos blog-leitores, na torcida por um ano de 2010 com mais direitos e esperanças para todos nós e para o planeta Terra.



Equipe do blog Mídia & Questão Social
=====================================

Erramos?

Clóvis Rossi

SÃO PAULO - A capa da Folha de ontem diz que "na mídia e em declarações de autoridades americanas, o caso [do menino Sean Goldman, devolvido ao pai após uma novela de cinco anos] ganhou contorno de disputa entre países".

É verdade e, por isso mesmo, o papel da mídia precisaria ser discutido nesse caso.

Trata-se de um assunto de família, exclusivamente de família. Não há interesse público envolvido.

Há, sim, curiosidade pública, o que é bem diferente. Do que decorre a pergunta que me parece central e me causa desconforto: temos, os jornalistas, o dever, a obrigação, de atender sempre a curiosidade do público, mesmo quando ela é invasiva? Neste caso, é pior ainda, porque invasiva de uma criança.

Não, não me venham dizer que invadimos cotidianamente a privacidade de muitas pessoas. É verdade, mas, em 99,9% dos casos, trata-se de pessoas públicas, que procuraram a notoriedade, não raro apoiando-se na mídia.

A busca pelos holofotes tem preço. Muitas vezes, os holofotes acesos pela mídia é que impedem abusos de diferentes naturezas.

Mas Sean não procurou os holofotes. Seu caso acabou por se transformar em exercício de jornalismo-espetáculo.

E não apenas no Brasil: a rede norte-americana NBC não fretou um avião para levá-lo aos EUA com o pai por amor à infância, mas por amor ao espetáculo. Nesse espetáculo acabamos por cometer um pecado grave: demos abrigo a uma acusação, feita pela avó materna, de que o Executivo e o Judiciário brasileiros venderam-se aos Estados Unidos pagando com Sean pela manutenção de vantagens comerciais.

Nenhum jornalista sério diria tal coisa por sua conta. Se o dissesse, correria o risco de purgar elevada pena. No entanto, no jornalismo-espetáculo, a acusação foi ao ar e ao papel. Incomoda, não?

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Múltiplos olhares, uma esperança

Caros Amigos e blog-leitores,

É indiscutível, todo o final de ano é tempo de “balanço” e de novas perspectivas para o ano que já está com seu pezinho na porta de entrada. Desejamos, antes de tudo, que ele chegue bem, para todos nós.
               
Quanto ao balanço que fizemos nesses três meses de ciberespaço, temos muito o que agradecer a todas (os) vocês pela nossa convivência e trocas. Quantas expectativas tivemos e, felizmente, vimos cumprindo-as quase em sua totalidade. Isso fortalece nossos projetos e ideais aqui investidos e nos faz contar cada vez mais com a participação de todas (os) vocês, através dessa interatividade em 2010.

Desejamos de coração um Feliz Natal, com múltiplos olhares, mas com uma esperança: a efetivação dos direitos humanos e sociais no mundo.

Assim, o Novo Ano poderá ser mais prospectivo para cada pessoa de nossa nação e para o mundo. Abaixo, dedicamos com carinho a todos os nossos leitores e colaboradores esta preciosidade de Carlos Drummond de Andrade: Organiza o Natal.

Boas Festas!!

São os votos da Equipe do Blog Mídia & Questão Social.


Organiza o Natal
--------------------------------
   Carlos Drummond de Andrade



Le violiniste bleu. Marc Chagall


Alguém observou que cada vez mais o ano se compõe de 10 meses; imperfeitamente embora, o resto é Natal. É possível que, com o tempo, essa divisão se inverta: 10 meses de Natal e 2 meses de ano vulgarmente dito. E não parece absurdo imaginar que, pelo desenvolvimento da linha, e pela melhoria do homem, o ano inteiro se converta em Natal, abolindo-se a era civil, com suas obrigações enfadonhas ou malignas. Será bom.

Então nos amaremos e nos desejaremos felicidades ininterruptamente, de manhã à noite, de uma rua a outra, de continente a continente, de cortina de ferro à cortina de nylon — sem cortinas. Governo e oposição, neutros, super e subdesenvolvidos, marcianos, bichos, plantas entrarão em regime de fraternidade. Os objetos se impregnarão de espírito natalino, e veremos o desenho animado, reino da crueldade, transposto para o reino do amor: a máquina de lavar roupa abraçada ao flamboyant, núpcias da flauta e do ovo, a betoneira com o sagüi ou com o vestido de baile. E o supra-realismo, justificado espiritualmente, será uma chave para o mundo.

Completado o ciclo histórico, os bens serão repartidos por si mesmos entre nossos irmãos, isto é, com todos os viventes e elementos da terra, água, ar e alma. Não haverá mais cartas de cobrança, de descompostura nem de suicídio. O correio só transportará correspondência gentil, de preferência postais de Chagall, em que noivos e burrinhos circulam na atmosfera, pastando flores; toda pintura, inclusive o borrão, estará a serviço do entendimento afetuoso. A crítica de arte se dissolverá jovialmente, a menos que prefira tomar a forma de um sininho cristalino, a badalar sem erudição nem pretensão, celebrando o Advento.

A poesia escrita se identificará com o perfume das moitas antes do amanhecer, despojando-se do uso do som. Para que livros? Perguntará um anjo e, sorrindo, mostrará a terra impressa com as tintas do sol e das galáxias, aberta à maneira de um livro.

A música permanecerá a mesma, tal qual Palestrina e Mozart a deixaram; equívocos e divertimentos musicais serão arquivados, sem humilhação para ninguém.

Com economia para os povos desaparecerão suavemente classes armadas e semi-armadas, repartições arrecadadoras, polícia e fiscais de toda espécie. Uma palavra será descoberta no dicionário: paz.

O trabalho deixará de ser imposição para constituir o sentido natural da vida, sob a jurisdição desses incansáveis trabalhadores, que são os lírios do campo. Salário de cada um: a alegria que tiver merecido. Nem juntas de conciliação nem tribunais de justiça, pois tudo estará conciliado na ordem do amor.

Todo mundo se rirá do dinheiro e das arcas que o guardavam, e que passarão a depósito de doces, para visitas. Haverá dois jardins para cada habitante, um exterior, outro interior, comunicando-se por um atalho invisível.

A morte não será procurada nem esquivada, e o homem compreenderá a existência da noite, como já compreendera a da manhã.

O mundo será administrado exclusivamente pelas crianças, e elas farão o que bem entenderem das restantes instituições caducas, a Universidade inclusive.

E será Natal para sempre.

Ah! Seria ótimo se os sonhos do poeta se transformassem em realidade.
 [Texto extraído do livro "Cadeira de Balanço", Livraria José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1972, pág. 52].

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Editoria Caleidoscópio Baiano

Imagens da histórica I CONFECOM - Brasília 14 a 17 de dezembro de 2009


Fotos: Claudia Correia
















Conselhos Federal e Regionais de Psicologia articularam campanha nacional
















Irreverência do delegado do Pará para botar a boca no mundo











Voto eletrônico inovou


Empresariado do setor votou em bloco



Radialistas defenderam a profissão e as rádios comunitárias


Os fumantes tiveram seu “direito” garantido



A CUT compôs a comissão organizadora nacional


Rádios comunitárias lutam pela inclusão das pessoas com deficiência


Criatividade marcou o lobby do movimento social na plenária


A Favela FM apresentou exposição fotográfica sobre sua história


Barreiras arquitetônicas da cidade não impediram a participação cidadã


As mulheres aprovaram propostas articuladas nacionalmente

Claudia Correia, assistente social, jornalista, profª da ESSUCSal, Mestre em Planejamento Urbano

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Editoria Caleidoscópio Baiano

Plenária final aprova controle social da política de Comunicação


Claudia Correia



Ontem à tarde e hoje, 17, pela manhã, a plenária da I Confecom votou as propostas debatidas nos 15 grupos temáticos. Agora, às 14hs, os trabalhos foram suspensos para o almoço, mas, como não vou permanecer até o encerramento, já adianto um panorama geral.

Na maioria das discussões, o voto dos representantes do poder público tende a acompanhar o da sociedade civil, que usa táticas criativas de convencimento e palavras de ordem bem humoradas tipo: “não ao Pokémon” , “ê,ê, viva o saci pererê”, para defender a veiculação de programas animados nacionais. Vale até usar o megafone na porta do banheiro e no restaurante para resgatar os delegados dispersos.

Ontem o aparelho eletrônico deu pane e a votação, extremamente tumultuada, foi na base dos crachás. Hoje, a tecnologia jogou a favor e o sistema foi usado. Denúncias da sociedade civil e dos empresários acusaram o uso fraudulento das poderosas máquinas, mas a votação seguiu mais vigiada por fiscais e câmeras. O painel eletrônico, que aqui em Brasília não tem boa reputação por já ter sido fraudado no Congresso, registrou algumas vitórias importantes para o movimento social.

O tom do discurso do governo é sempre conciliador e vira e mexe seus representantes na comissão organizadora nacional perguntam “e aí gente, tem acordo?”. De fora, acho que o único verdadeiro consenso aqui é a qualidade da comida servida, todos os dias, com excelente estrutura. Nunca na história deste país, literalmente, trabalhadores e patrões comeram na mesma mesa. Ontem às 21h, o restaurante estava lotado e a plenária esvaziada. Aliás, um discurso inflamado de um sindicalista cobrou dos trabalhadores representantes do empresariado coerência com a causa operária. Hoje a Associação Brasileira de Radiodifusores – ABRA veio com sua delegação uniformizada e cabos eleitorais afiados.

A mais importante vitória para mim até então foi a criação em todas as esferas de governo do Conselho de Comunicação, paritário, para regular conteúdos, políticas de concessão e mecanismos de distribuição. Apesar do pânico do empresariado com este controle social e de ter se articulado nos grupos e na plenária para vetá-lo em nome da “liberdade de expressão e do combate à censura”, a proposta foi recebida com festa pelo segmento da sociedade civil.

Outras propostas aprovadas na plenária de hoje: criar um marco regulatório para relações trabalhistas dos trabalhadores autônomos de produção de conteúdo (a CUT foi derrotada pois contestou a proposta); oferecer serviço de banda larga em regime público com tarifas acessíveis à toda população e gratuidade quando necessária; utilizar os recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações – FUST para a infra estrutura básica para acesso `a telefonia fixa e móvel; criar o Fundo Nacional e Estaduais de Comunicação Pública formado por impostos progressivos embutidos nos preços de aparelhos de rádio e TV,verbas do orçamento público, recursos de contribuição de intervenção no domínio econômico (CIDE) e contribuição que cria a EBC;rever os cálculos das tarifas de telecomunicações para ampliar o acesso nas zonas rurais e urbanas;assegurar o direito de antena para grupos comunitários e movimentos sociais; editar uma nova lei de imprensa garantindo o direito de resposta e a pluralidade das versões;criar o Observatório de Mídia e Direitos Humanos para monitorar a violação dos direitos dos cidadãos;criar mecanismos para controlar a veiculação de conteúdos nacionais e regionais que respeitem a diversidade cultural e de segmentos discriminados.

Ontem na apresentação das propostas consensuais nos grupos e automaticamente incorporadas ao relatório final da I Confecom, apareceram outros avanços como a descriminalização das rádios comunitárias. Uma faixa no auditório denuncia: “90% das rádios comerciais em SP estão com licenciamento vencido. Piratas são eles! Rádio comunitária é direito!”.

Outros ganhos para nós jornalistas foram a proposta da criação do Conselho Federal de Jornalismo e a exigência do diploma para o exercício profissional, suprimido pelo Supremo Tribunal Federal-STF. Também foi defendida a proibição de veiculação de conteúdo que discrimine mulheres, negros, grupos LGBT, indígenas e outros. Os direitos já assegurados no Estatuto da Criança e do Adolescente-Eca que protegem a imagem deste segmento nas produções midiáticas também foram reforçados. O investimento através de editais públicos para apoiar projetos de veículos de comunicação comunitária também passou.

Tudo que na lógica empresarial ameaça sua penetração no mercado ou represente restrição à propaganda e publicidade e ao conteúdo de programação tem sido motivo de discussões acaloradas, longas e às vezes pouco civilizadas.

Enfim, ainda falta votar cerca de 40% das propostas e a plenária final deve se arrastar até tarde porque toda a programação está atrasada. Se der, na minha chegada a Salvador ainda mando um ultimo balanço.


Claudia Correia, assistente social, jornalista, profa. da ESSUCSal, Mestre em Planejamento Urbano, repórter especial deste blog na I Confecom.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Editoria Caleidoscópio Baiano

Grupos debatem eixos temáticos da I Confecom 


Claudia Correia



Ontem à tarde e hoje, 16, pela manhã, a I Conferência Nacional de Comunicação dedicou tempo para a discussão em grupos de três eixos temáticos: “Produção de conteúdo”, “Meios de distribuição”, e “Cidadania: direitos e deveres”. Foram formados 15 grupos, sendo cinco de cada eixo, com a proporcionalidade de representação de 40% de delegados da sociedade civil, 40% do empresariado e 20% do poder público, em cada grupo. Agora falta a etapa mais difícil: a plenária final que vai discutir e aprovar o conjunto das propostas. Hoje à tarde e amanhã o clima vai esquentar por aqui.
Concentrei minha cobertura nos grupos 14 e 15, que debateu a cidadania e no grupo seis que abordou os meios de distribuição.
Esta é de fato uma Conferência inédita, histórica, atípica. Já tive oportunidade de participar ativamente de várias conferências de políticas públicas como assistência social, criança e adolescente e da cidade. Nesta falamos muitas línguas, os pares não são tão parceiros, a militância precisa exercitar sua capacidade de diálogo, não estamos convergindo em torno de objetivos comuns, os repertórios e práticas sociais se confrontam. Tudo é muito complexo, a flexibilidade é necessária na hora de recuar estrategicamente para aprovar uma proposta.
Tive a oportunidade de entrevistar empresários, pessoas com deficiência, psicólogos, representantes do movimento negro, LGBT, estudantes e militantes de rádios comunitárias e organizações em defesa dos direitos da criança. Em geral, o movimento social defende os mecanismos de controle social e a democratização do acesso à mídia, que deve cumprir sua função social e respeitar os direitos humanos universais. O empresariado teme ver seus negócios privados fiscalizados e conviver com restrições legais que prejudiquem sua economia como limites à publicidade. Para eles, o controle social fere a liberdade empresarial, é danoso ao consumidor que deve escolher o que quer comprar. Alegam que já estão sujeitos a mecanismos de controle como o CONAR para a publicidade e que pagam impostos, possuem direitos para decidir o que veicular em suas empresas. Muitas negociações foram feitas neste momento de debate acalorado pelos ânimos exaltados.
Ontem na plenária que votou o regulamento, para mim houve um grande equivoco que só hoje pude confirmar nos debates dos grupos. Cada um dos três segmentos representados aqui terá o “direito” a aprovar nos grupos: quatro propostas para o empresariado do setor, quatro para a sociedade civil e duas para o poder público, totalizando 10 por grupo, ou seja, 150 ao total. Ora, e o debate político de princípios? E a correlação de forças entre os segmentos? E a incoerência entre as propostas aprovadas para a apreciação da plenária final?
Nos grupos que debateram a cidadania que acompanhei, percebi que os movimentos de mulheres, jovens, negros, lésbicas, gays, bissexuais e transsexuais-LGBT, do povo de santo e em defesa dos direitos da criança e do adolescente apresentam propostas bem focalizadas na garantia da legislação vigente que assegura a não discriminação e a proteção ao desenvolvimento da plena cidadania. Muitas delas foram aprovadas por consenso. Destaque para a regulamentação especifica do trabalho infanto- juvenil em produções midiáticas e o reforço ao Estatuto da Criança e do Adolescente-Eca no seu art.17º sobre a preservação da imagem deste segmento.
No grupo que discutiu os meios de distribuição a votação mais disputada foi a apresentada pela sociedade civil para fortalecer a Telebrás e oferecer acesso à internet a todos os cidadãos utilizando recursos do FUST. O empresariado contestou alegando a ineficácia do governo para gerir os serviços, os altos custos e a capilaridade da rede de banda larga. O governo lembrou que está em andamento o Plano Nacional de Banda Larga e que há recursos tecnológicos em fibra ótica suficientes para oferecer serviços de qualidade e competitivos, atuando em áreas que o setor privado não tem interesse de investir como em regiões pobres. Depois de muitos argumentos prós e contra a sociedade civil foi vitoriosa e a proposta aprovada.
Os deficientes auditivos tiveram todo o suporte logístico para fazerem valer sua condição de cidadãos mas, os cegos só hoje receberam os cadernos com as dezenas de propostas em versão Braille. Deram uma comovente lição de protagonismo a todos nós rompendo a invisibilidade diante da mídia e da sociedade. Os cadeirantes queixam-se na acessibilidade na cidade e das barreiras arquitetônicas excludentes que dificultam sua participação.
Como optei por fazer um registro bem particular, com minhas impressões e avaliações, estou processando as declarações dos atores sociais envolvidos na I Confecom que coletei em entrevistas para dar um panorama mais geral. Pela natureza do nosso blog, defini como foco a participação dos diversos segmentos sociais no evento e os bastidores dos debates. Levo um rico acerco de depoimentos e fotos que pode render uma bela matéria especial.
Estou convencida que o Brasil precisa urgente de um sistema público de comunicação, com marco regulatório, recursos e principalmente uma educação para a mídia que perpasse todas as demais políticas sociais especialmente educação, saúde e ciência e tecnologia. Por enquanto, vamos daqui dando nossa contribuição....
Mando mais notícias!

Claudia Correia, assistente social, jornalista, profa. da ESSUCSal, Mestre em Planejamento Urbano, repórter especial deste blog na I Confecom.  

**********************************************************
1ª Galeria de Fotos
Fotos: Claudia Correia



Pessoas com deficiência lutam por inclusão sócio-digital.





O material em Braille demorou a chegar nas mãos
de quem precisa. 



Movimento de rádios comunitárias presente na
Confecom. 


Mulheres e indígenas mostram sua força.



Divergências entre os segmentos marcam as plenárias. 


terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Editoria Caleidoscópio Baiano

I Conferência Nacional de Comunicação abre o debate sobre Política Pública de Comunicação

Claudia Correia

Estou na capital da democracia, apesar das tentativas de alguns em corromper, roubar, fraudar e burlar os mais caros princípios que devem reger as relações com a sociedade num verdadeiro Estado democrático de direitos. A cidade amanheceu fria mas, os debates da Confecom certamente vão esquentá-la.
O presidente Lula abriu ontem à noite, aqui em Brasília a inédita Confecom. Nunca antes na história deste país, em bom “lulês”, tanta gente, com tantos interesses conflitantes se reuniu para pensar uma política pública de comunicação que assegure a liberdade de imprensa, os direitos de cidadania para se ter acesso à informação de qualidade e a democratização dos conteúdos veiculados.
A tônica do discurso presidencial foi a imprensa livre, a necessária democratização da discussão sobre como conduzir a política de comunicação num país de dimensão continental onde convivem rádios comunitárias e grandes monopólios articulados internacionalmente. Comentou sobre as rádios comunitárias e a tendência em alguns casos ao aparelhamento por políticos tradicionais. A cobrança é grande porque um dos objetivos da Confecom é abrir espaço para a radiodifusão comunitária que vive em parte na clandestinidade.
Ele criticou a saída dos grandes empresários do setor, onde a Associação Nacional de Jornais-ANJ se inclui.Na verdade este grupo desde o início dos preparativos para a Confecom mostrou preocupação com o controle social sobre a política de comunicação alegando que este caminho é perigoso pois pode levar a uma censura. Sabemos bem a diferença, afinal a sociedade e os jornalistas conheceram de perto os horrores da tortura e da repressão na ditadura militar. Vladimir Herzoc e outros estão na nossa memória com sua luta em defesa de uma imprensa à serviço da democracia.
Ao contrário da maioria das teses da Confecom, que prega o controle social e público dos meios de comunicação, Lula disse ter "orgulho em dizer que a imprensa no Brasil é livre, apura e deixa de apurar o que quer, divulga e deixa de divulgar o que quer, opina e deixa de opinar quando quer." Destacou que o Estado de Direito só existe por causa dessa liberdade. Lula criticou o que chamou de "excesso" da imprensa, mas disse que o remédio é a própria liberdade. "Os telespectadores são capazes de separar o joio do trigo. São críticos implacáveis e juízes muito severos. Quem não trabalha com respeito acaba perdendo a credibilidade."
Cledson Cruz , portador de deficiência, que representa a sociedade civil e integra a delegação baiana na Confecom afirmou que o presidente “encheu linguiça” e que não espera muito de um ministro que praticamente é empregado da Rede Globo. Veio aqui disposto a participar dos debates como na etapa estadual e fazer valer as propostas aprovadas pelo movimento social.
Por enquanto o que mais me chamou atenção foi a mobilização social: cerca de 1.600 delegados de todo o país, representando todos os segmentos, 300 jornalistas na cobertura, 130 “observadores livres” , cidadãos que se inscreveram pela internet para participar como ouvintes. Uma mega estrutura foi montada e os debates prometem.
As mulheres vieram com plataforma de propostas pronta e afiada, vou divulgar no nosso próximo encontro. Vou dando notícia até quinta-feira.

Claudia Correia, assistente social, jornalista, professora da ESSUCSal, Mestre em Planejamento Urbano.
ccorreia6@yahoo.com.br

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Editoria Web@Tecno

Observatório da Imprensa, primeiro media watching do Brasil.


Hoje em nosso cyber-papo, vamos falar de “veículo jornalístico focado na crítica da mídia”, o Observatório da Imprensa. Claro que como todo veículo jornalístico, em sua maioria, ele encontra-se na internet, na televisão e no rádio.

Porém, antes de fazer alguns apontamentos sobre o histórico, objetivos e um pouco do processo de construção do Observatório da Imprensa, quero levantar uma questão que me aconteceu. Confesso que a origem do programa OI não era do meu conhecimento. Não me envergonho disso. Pelo contrário, desse mote é que se vê o quanto é importante sabermos a origem das produções midiáticas, de um modo geral, se quisermos ter um norte melhor para avaliá-las, qualificá-las e fazer delas uma opção como leitora, ouvinte, internauta ou telespectadora.

Conheci o OI em 2005, numa dessas noites em que a gente procura algo de bom para assistir na TV, numa de canal aberto. Um adendo, em minha avaliação pessoal, existe poucas produções tanto na TV aberta, quanto na por assinatura, as quais sejam proveitosas de se assistir.

O curioso também é que o OI fez o percurso inverso ao que têm feito outros veículos de comunicação, como a televisão e o rádio e suas relações com a internet. Ele é o primeiro caso de sucesso que sai da internet e vai ocupar espaços nos meios de comunicação de massa, a TV e o rádio. Foi no seu site que descobri essa característica histórica.

Vou falar-lhes um pouco de sua história, o que pode ser complementada no próprio site do Observatório da Imprensa que é vastíssimo de informações e que está hospedado no portal da IG.

O projeto original foi organizado pelo Labjor - Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com seu desenvolvimento sob a égide do Comitê Gestor Internet no Brasil, nessa versão online, iniciada em abril de 1996, tornar-se um projeto do Projor – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo. Seu objetivo é o de acompanhar o desempenho da mídia brasileira, com criticidade. É uma sociedade civil, não-governamental, não-corporativa e não-partidária, constituída em 2001.

Um parêntese que quero abrir: o jornalista Alberto Dines, que é o editor responsável pelo OI. Tenho uma admiração por ele. Aos 77 anos, “ele publica e é noticiado desde 1952. Há meio século ele traça roteiros, escreve livros, cria jornais, revistas, vai ao rádio, à televisão e critica a mídia e seus representantes.” Sua importância também se dá ao nível de reconhecimento profissional no exterior, além do acadêmico. Tem expressão nas universidades brasileiras, portuguesas e americanas como um dos grandes mestres do jornalismo.

Segundo o Observatório da Imprensa, sua característica é de um fórum permanente onde há espaço para os usuários da mídia – leitores, ouvintes, telespectadores e internautas – organizados em associações desvinculadas do estabelecimento jornalístico, com oportunidade de interatividade em suas manifestações e participações, as quais poderão, desse modo, alterar o seu papel de agentes passivos, os quais desempenhavam antes, diante dos medias.

Uma observação significativa que o OI aponta é o “para que um Observatório da Imprensa?”

O de reverter à conjuntura em que a cidadania está posta como “um conjunto de consumidores, ficticiamente vocalizados por pesquisas de opinião pública que empregam metodologia quantitativa, necessariamente redutora, e com pautas alheias aos reais interesses e necessidades dos opinadores.”

Por serem os meios de comunicação de massa, produzidas, em sua maioria, por empresas privadas, as suas decisões são a de seus acionistas e representantes que as legitimam em relação ao que se veicula. Contudo o que deveria ser seguido é que o “produto jornalístico”, é inquestionavelmente um serviço público, o que é assegurado pela Constituição Federal de 1988, através de vários artigos, os quais lhe configura "garantias" e prerrogativas, os quais sinalizam vários deveres e responsabilidades sociais na produção da informação.

Em sua conclusão (SIC):

 “A Sociedade Civil deve abranger sucessivos níveis de monitoração e atuação, de forma a diminuir a distância entre os poderes e a cidadania, convertendo-se ela própria numa instância. No caso dos meios de comunicação de massa, o Observatório da Imprensa propõe-se a funcionar como um atento mediador entre a mídia e os mediados, preenchendo o nosso "espaço social", até agora praticamente vazio. Embora pioneiro este Observatório não pretende ser único. As suas atividades servem como convocação para outros grupos fazerem o mesmo.”

E, de fato isto aconteceu com a experiência exitosa do OI, na internet, surgiram outros, entre eles: Canal da Imprensa; SOS Imprensa; Mídia e Política; Monitor de Mídia; NEMP; Análise de Mídia; Agência Unama e ANDI.

Existem similares ao OI em outros países como os Estados Unidos, onde surgiu à idéia com a media-watching (a crítica da mídia), associada à idéia das experiências do já então ombudsman e do media-criticism, o qual designa como um meio sensibilizador à comunidade e aos profissionais da mídia para os arcabouços da função jornalística na sociedade moderna. Existem duas de destaques nos EUA, a FAIR (Fairness & Accuracy in Reporting), fundada em 1986, cujo objetivo é o de fiscalizar a intromissão do poder econômico e político na imprensa. Edita uma revista bimestral, Extra!. A outra, num aspecto conservador a Accuracy in Media, “mais inclinada para apontar as infiltrações e distorções liberais na grande imprensa americana. Embora concorrentes, completam-se, constituindo um sólido aparelho crítico, pluralista e democrático.”

Há outra na França, a Observatoire de La Presse, braço do Centre de Formation et de Perfectionnement des Journalistes (CFPJ), fundada em setembro de 1995. O OI, como experiência brasileira segue o modelo francês combinando duas entidades, uma formadora (o Labjor/Projor) e outra cívica.

Há o registro pelo OI de que a primeira organização designada como Observatório da Imprensa foi criada em Lisboa, três meses antes da francesa, entidade com a qual o Projor mantém sólidos laços de cooperação.

A perspectiva promissora dessa iniciativa trouxe como resultado à versão televisiva do site em maio de 1998, com produção da TVE do Rio de Janeiro, hoje TV Brasil e TV Cultura de São Paulo. Sua transmissão se dá semanalmente, para 27 capitais do Brasil, pela Rede Pública de Televisão, em sua maioria às terças-feiras, às 22h40, sendo que, apenas para São Paulo, ela acontece às quartas-feiras, à 0h10. Veja aqui a grade de programação, no site, pois há ainda retransmissões para os estados e diversas cidades do país, inclusive através de canais por assinatura.

Já no caso da versão no rádio, ela teve início em maio de 2005. É um programa de segunda a sexta-feira, produzido pela Rádio Cultura AM (1200 kHz) e transmitida também pela a Cultura FM (103, 3 mHz), ambas de São Paulo, às 9h; Rádio MEC AM (800 kHz) e FM (98,9 mHz), às 9h30, no Rio de Janeiro; Rádio Nacional em Brasília, FM (96,1mHz), às 10h30 e AM (980 kHz) às 12h30; Rádio Universitária Federal do Rio Grande (RS) FM (106,7 mHz) às 11h30 e na Rádio Inconfidência AM (880 kHz), às 9h30, em Belo Horizonte.

No site, há uma série de opções, de informações além de seu histórico, objetivos, equipe, há várias seções, blogs, o OI na TV, com o último programa e os anteriores, horários, compactos e resumos. A apresentação é de Alberto Dines. No OI no rádio, uma produção da Rádio Cultura AM de São Paulo, com a apresentação do Luciano Martins e participação de Alberto Dines. No site os podcast dos programas podem ser ouvidos e lidos. No link Serviços, encontram-se as edições anteriores por ano, boletim por e-mail, biblioteca, classificados de anúncios gratuitos ligados aos serviços de jornalismo, imprensa, mídia e comunicação. Quem oferece emprego e quem oferece os seus serviços, também o Netbanca. E encerrando, o RSS links e o balanço das urnas eletrônicas (apuração das enquetes feitas no site). Pode-se fazer o contato com o Observatório da Imprensa através do Projor – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo, por telefone e endereço.

Você também pode ainda enviar o seu artigo através do e-mail canaldoleitor@ig.com.br, indicando nome, profissão, cidade e telefone para um possível contato para uma possível veiculação. Não é interessante?

Agora para fecharmos, não poderia deixar de transcrever o último post da seção Imprensa em Questão, já que estamos às vésperas da 1ª Confecom, assinado por Alberto Dines, no último dia 08/12/2009.

Um abraço.

Nelma Espíndola, assistente social. E-mail de contato: nelmaespindola@gmail.com

***************************************

Imprensa em Questão

AGENDA PARA A CONFECOM


A mídia se ilude e espera modelos mágicos

Por Alberto Dines em 8/12/2009

O barão da mídia anglo-saxônica Rupert Murdoch acredita em contos de fadas: imagina que se os portais de notícias e os mecanismos de busca da internet resolverem cobrar pelo copioso conteúdo que oferecem gratuitamente cairá o número de acessos, aumentará a procura por jornais que os abastecem e, assim, garante-se a sua sobrevivência.

Por outro lado, as telefônicas brasileiras estão esperando mais uma dádiva da divina providência e pressionam governo e legislativo para obter o direito de transmitir a programação da TV por assinatura e rapidamente se transformarem em produtoras de conteúdo. Com isso, poderão oferecer noticiário televisivo por meio de celulares sem depender de concessões, como acontece com o atual sistema de radiodifusão. E como fica a cláusula da isonomia?

Quem garante que o cidadão vai ficar o dia inteiro de olho na telinha do celular para saber o que está acontecendo? E quem gosta da TV para entreter-se – caso da massa de cultores das telenovelas – abrirá mão da telona de alta definição com qualidade de cinema?

Outro grupo de devotos de mágicas, também abrigados sob o manto das operadoras de telefonia, apostam todas as fichas no projeto de grandes jornais virtuais. Fizeram as contas e concluíram que liberados dos custos do papel e da distribuição poderão oferecer na web um produto de alta qualidade jornalística por um quarto do custo de um veículo impresso.

Informação trabalhada

Estas devoções podem se materializar tanto no varejo como no atacado. Mas, por enquanto, são hipóteses, no máximo wishfull thinking. Ninguém garante que o Google transformado em commodity continuará a ser utilizado com a mesma intensidade. Por enquanto é um bônus oferecido gratuitamente pela indústria digital. Seus consumidores estarão dispostos a pagar por aquilo que sempre receberam de graça? E a pirataria vai acabar? A geração de novas tecnologias será de repente estancada? A humanidade está disposta a retroceder e perder o privilégio da informação aberta e universal?
 Por outro lado, ninguém garante que os ex-leitores de jornais de repente voltarão a comprá-los para ler as mesmas banalidades e abobrinhas que aparecem na TV aberta. A comparação entre os custos de produção de jornais abertos e seus equivalentes digitais precisa levar em conta que uma equipe produz uma edição impressa por dia, sete dias por semana, enquanto um portal noticioso da internet é contínuo, ininterrupto. Serão necessárias equipes maiores, imensas, não apenas para produzir novas informações, mas para juntá-las e contextualizá-las permanentemente, 24 horas por dia. A não ser que na internet brasileira seja consagrado o atual modelo híbrido no qual o fluxo noticioso é intermitente e limitado, das 8 às 22 horas.

Certo, comprovado e garantido: o cidadão quer informação, e informação de qualidade. Como afirma o veterano Sir Harold Evans em seu recente My Paper Chase, o público primeiro seduz-se com opiniões e truculência, em seguida busca informação trabalhada, investigada, obtida com muita transpiração.

Este mesmo Evans notabilizou-se quando dirigiu o Sunday Times e numa admirável cruzada jornalística enquadrou a indústria farmacêutica britânica, obrigando-a a indenizar as famílias das crianças cujas mães tomaram o medicamento Talidomida durante a gestação.

Bolhas e modismos

Um portal noticioso da internet conseguiria concentrar suas baterias numa cruzada capaz de galvanizar uma sociedade inteira? O propinoduto de Brasília conseguiria causar a mesma repercussão se fosse veiculado apenas na internet ou mesmo na internet+TV aberta?

O jornalismo não foi engendrado nem mantido ao longo de quatro séculos por um "modelo de negócio". Sua gênese está assentada em paradigmas morais e exigências públicas. É um erro ficar à espera de fórmulas messiânicas, salvacionistas, que jamais produzirão qualidade e fidelidade dos consumidores. O que enfraqueceu o jornalismo nas duas últimas décadas foi a sua ligeireza, sua submissão às bolhas, aos modismos e, sobretudo, sua adesão ao oportunismo político.

Eis ai uma agenda para esquentar a 1ª Conferência Nacional de Comunicação. É uma lástima que os empresários não queiram debatê-la.
 
                                                                                Ique
Alberto Dines




terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Editoria Volta do Mundo, Mundo dá Volta

Verde e Vermelho – Clima e Comunicação, um duplo convite

Depois da socialização pelo Caleidoscópio Baiano, ontem aqui mesmo no Blog M&QS, do que aconteceu em Serra do Padeiro, com os índios Tupinambás, o que concerne à ameaça aos territórios indígenas, temos o cruzamento de dois eventos importantes que acontecem nesse mês de dezembro no Brasil e no Mundo: um é a I Conferência Nacional de Comunicação (ver Agenda Cultural), o outro é a 15a. Conferência  de Copenhague, mais conhecida como Conferência do Clima. Portanto, entendemos que esses artigos são interligados e convidamos, assim, os nossos blogonautas a esticarem o olhar até as palavras de nossa colega Claudia Correia.

Enquanto isso, vale dizer que o nome da filósofa Isabelle Stengers vem aqui sancionado por um grupo de intelectuais e militantes na França que tem realizado uma série de debates sobre temas conexos à crise do capitalismo e às possibilidades de saída pela esquerda. Trata-se do Société Louise Michel. Falar deles já valeria um artigo. Planto o desejo, mas colhamos por enquanto aqui no Volta do Mundo as inquietações sugeridas por Stenger, em irreverente fala.

Abraços, Mione Sales.

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Copenhague - Não dá para confiar no capitalismo verde*
 



Por ISABELLE STENGERS

A conferência de Copenhague [começou], e ninguém sabe se os governantes responsáveis anunciarão na ocasião do seu desfecho solenes engajementos verbais ou alguns acordos obrigatórios. Seria absurdo afirmar que a indiferença se imponha a este respeito, mas a propósito de um eventual acordo obrigatório, a questão se põe: obrigatório como e para quem? Aqueles que a assinarão não ficaram privados, após os acordos do Gatt (Acordo Geral sobre Tarifas Alfandegárias e Comércio) e da criação da OMC (Organização Mundial de Comércio), do poder de obrigar o «mercado», a quem foi delegada a carga de assegurar o futuro do mundo? De uma maneira ou de outra, «nossos» dirigentes não são mais responsáveis apenas por nós: visto que mantemos o moral, que nos «responsabilizemos», mas sem, porém, colocar em perigo o crescimento. Eles devem esperar que as empresas capitalistas saberão conjugar a competitividade (a guerra de cada um contra todos) com a preocupação do futuro comum - o que chamamos de «capitalismo verde».

É preciso lembrar, o processo impulsionado e controlado pela OMC vai muito bem. Não somente condena como obstáculo à liberdade de comércio todas as tentativas locais de desertar, de trair os imperativos da guerra econômica (a palavra que mata é «protecionismo»), mas ele constitui, num horizonte insuperável, a colocação sob patente dos saberes científicos e técnicos que, se eles fossem mais do que nunca pertinentes face à ameaça climática, deveriam ser livremente acessíveis, e primeiramente aos países pobres. A criação destes saberes é confiada a uma economia do conhecimento que confere aos interesses industriais a carga de pilotar a pesquisa. Típico é o caso dos biocombustíveis «inovadores», objeto de pesquisas intensas, mas também de uma corrida desenfreada às patentes, apesar dos «pequenos problemas» bastante previsíveis que esta energia dita «verde» vai suscitar. Alternativa infernal: ou bem os biocombustíveis, ou bem o sacrifício do emprego e do crescimento. Continuaremos a andar de carro e outros pagarão o preço.

Não podemos nos fiar na hipótese de que o capitalismo possa reparar os estragos, pelos quais ele é o responsável. Inicialmente, porque confiar no capitalismo é sempre uma má ideia, em seguida porque ele não tem condições de fazê-lo. Ele não está equipado para isso. Destruir é fácil, mas reparar, se reapropriar, reaprender, regenerar - reclaim, dizem os ativistas americanos - é uma outra coisa. Ainda mais quando se trata, como já havia percebido Félix Guattari em seu Três Ecologias, de fazer algo em relação à tripla devastação, que hoje persiste como se não fosse nada. A devastação de toda a Terra, claro. Mas também aquela das capacidades coletivas de criar e de cooperar - assim, o empreendimento sistemático de destruição das solidariedades coletivas, o que produziu o novo «sofrimento do trabalho». Quanto à terceira devastação, trata-se daquela da potência de pensar e de sentir dos indivíduos. A voz que sussurra «porque eu valho bem», um exemplo entre mil, fruto de eficácia de um verdadeiro ataque bruxo, mas o mesmo vale para as injunções que fazem de cada um o pequeno empresário de sua vida, uma vida onde é preciso, incansavelmente, movimentar-se, se reciclar, investir e fazer prosperar seu capital de «atração».

Vivemos tempos um pouco semelhantes ao de guerra, quando « sabíamos », mas fruto de um saber um pouco irreal - tudo parecia continuar como antes, enquanto a situação parecia escorregadia. Este aspecto escorregadio – que não se fale nos «pequenos gestos» que «cada um pode fazer» - é sem dúvida o primeiro problema, aquele que produz um silêncio ensurdecedor - ou então das reivindicações «consensualistas» (um crescimento socialmente justo e ecologicamente sustentável) que dizem a solução sem pesar nem o problema nem suas consequências para hoje. Porque a questão do que é sustentável é bastante diferente da evidência flagrante da injustiça social. Por acaso lembramos que os OGM foram apresentados como a saída para uma agricultura durável? Foi preciso que a contestação tornasse audíveis as objeções usualmente abafadas para que eles fossem reconhecidos como trazendo muito mais que um «crescimento durável» justamente a Monsanto & Cia. Em outros termos, lutar contra o capitalismo verde e resistir aos apelos que virão sob o modo do «é preciso que», solicitando a todos a aceitação dos «sacrifícios necessários» face à urgência climática, exige outra coisa além das reivindicações defensivas e denunciadoras: uma forma de inteligência coletiva, nutrida pelos saberes heterogêneos minoritários, capaz de propor medidas inesperadas e surpreendentes, que façam engasgar os nossos dirigentes, cujos «é preciso que» sejam assim pegos desprevenidos.

Fabricar tais propostas não significa em nada o abandono das reivindicações coletivas tradicionais, mas implica um desafio: aquele de « fazer confiar» naqueles que portam essas reivindicações. Ter confiança, por exemplo, na capacidade deles em defender os direitos do trabalho, opondo-se às políticas de controle, ou seja, de pressão sobre os desempregados. As estratégias de « ativação » dos desempregados fazem parte do que o capitalismo é capaz de fazer ao Estado, a fim de ser ele mesmo o de que tudo depende – o emprego deve permanecer algo fora do qual não há chance de salvação, pois em seu nome se articularão todos os «sabemos bem, mas não se pode sobretudo perturbar o crescimento». A capacidade de resistir ao veneno moralizador opondo o «bom» desempregado, que quer um trabalho, aos «aproveitadores», faz parte desta inteligência coletiva tão necessária hoje. Gilles Deleuze escrevia que, diferentemente da direita, «a esquerda tem necessidade de pessoas que pensem». Nossos dirigentes podem apenas se adaptar a um capitalismo que, verde ou não, não está equipado para pensar, somente para captar as oportunidades que vão se oferecer a ele. Gerar confiança na medida em que «as pessoas» se reapropriem da capacidade de pensar, coletivamente e individualmente, é daqui para frente o que se impõe, se não for o caso de assistir, impotentes, à tripla, e irreversível, devastação do nosso mundo.

A autora, ISABELLE STENGERS é filósofa e professora na Universidade Livre de Bruxelas.


[Último trabalho publicado: «Au temps des catastrophes. Résister à la barbarie qui vient», Coleção les Empêcheurs de penser en rond, Paris, editora la Découverte, 2009.]


* Artigo originalmente publicado pelo jornal Libération, em 30/11/2009, na seção Terre, e traduzido por Mione Sales.

PARA SABER MAIS

http://en.cop15.dk/

http://www.copenhague-2009.com/
_____________________________________________________

Mione Sales é assistente social, doutora em Sociologia e professora de Serviço Social (Uerj).
E-mail para contato: mionesales@gmail.com.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Editoria Caleidoscópio Baiano

Na contra mão da função social da mídia

Claudia Correia

Hoje abro este espaço de nossa conversa virtual para transcrever uma notícia publicada no site da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional –FASE , www.fase.org.br, que traduz bem a violência da grande mídia contra segmentos vulnerabilizados no Brasil.
Bahia: Tupinambá denunciam boicote midiático
Mais um caso de preconceito e desinformação abala a dignidade social e política de uma comunidade indígena no Brasil. Desta vez, quem reclama é a comunidade Tupinambá, da Serra do Padeiro, na Bahia. Visitados recentemente por uma equipe da revista Época, prestaram todas as informações requeridas pelos jornalistas, receberam-nos com sua hospitalidade simples mas acolhedora, apresentaram a eles o dia a dia e os reclames da comunidade. O resultado: uma reportagem que, segundo eles, contraria tudo o que disseram aos repórteres da Época. Em solidariedade ao povo Tupinambá, ao qual a Fase Bahia sempre dedicou apoio, republicamos aqui a carta escrita pela própria comunidade neste início de mês. Na carta, eles relatam mais do que o boicote sofrido pela grande mídia. Contam que o povo Tupinambá vive violências de outros tipos, e com conseqüências ainda mais graves do que a calúnia e a difamação. Leia abaixo a carta dos Tupinambá da Serra do Padeiro.
Da Comunidade Serra do Padeiro
Para: Sexta Câmara, FUNAI, Ministério da Justiça, Secretária de Justiça do Estado da Bahia, Câmara de Deputados da Bahia, Governo do Estado da Bahia, Comissão Nacional de Direitos Humanos, e demais autoridades.

Para: APOINME, CNPI, CIMI, ANAI, CESE e demais parceiros.

Prezados Senhores;


Vimos, por meio desta, externar toda nossa indignação e revolta com a matéria publicada na revista Época de 23 de novembro de 2009, quando de forma preconceituosa e difamatória tenta retratar a nossa liderança como um Lampião. A repórter Mariana Sanches e o fotógrafo Marcelo Min tiveram a oportunidade de conhecer muito de nossa comunidade, as nossas produções, as nossas casas de farinha, o nosso colégio, as nossas crianças. Tiveram a oportunidade de desfrutar de toda nossa hospitalidade e conhecer muito de nossa luta pelo resgate de nossas terras. Mas, de forma mentirosa, desviaram todas as nossas informações, mudando inclusive muita das informações prestadas.

Apesar de nossa revolta com a matéria da Época, este tipo de atitude da revista não é nenhuma novidade para a comunidade Tupinambá, pois aqui na região os jornais locais, as rádios (em especial as AM), e a televisão, constantemente fazem isto. Nos tratam de forma preconceituosa e difamatória. Por exemplo, o radialista Ribamar Mesquita, da Rádio Jornal de Itabuna, constantemente usa de seu espaço nesta rádio para nos acusar de vários crimes, nos difama e até incita a população regional contra a nossa comunidade. Os jornais Agora e A Região, também de Itabuna, nos tratam de forma preconceituosa nos chamando de falsos índios, publicando sempre matérias contra a nossa comunidade e também colocando a sociedade contra a nossa comunidade. Mas acreditamos que a culpa da não é só deles, pois a nossa comunidade tem feito várias denúncias sobre esta situação. Já vieram várias comissões de Direitos Humanos aqui nas nossas aldeias e estes fatos já foram colocados, e como nada foi feito, eles se sentem fortalecidos e no direito de continuar nos atacando. O sentimento de impunidade, de superioridade e o dinheiro de quem os patrocina fazem com que estas mentiras divulgadas pelos meios de comunicação se tornem quase uma “verdade absoluta”. Outra situação colocada pela matéria é a posição do delegado Cristiano, da Polícia Federal, e o resultado do inquérito que apurava a tortura contra membros da nossa comunidade. Por várias vezes, solicitamos das autoridades que outro delegado viesse acompanhar as investigações. Não fomos atendidos, e portanto não é nenhuma surpresa que o resultado do inquérito foi que os policiais não cometeram nenhum crime. Que outro resultado poderia sair de um inquérito que é conduzido por um delegado que é o coordenador do comando da operação que terminou resultando na prática de tortura? Seria esperar muito que o inquérito apontasse outro resultado, apesar de todas as provas mostrarem que a tortura foi praticada.
A comunidade encontra-se bastante preocupada, pois a história de perseguição e calúnias se repete. Os mais velhos nos lembram que, no passado, a nossa liderança Marcelino também foi chamado de Lampião e acusado de chefiar um bando aqui na região. Colocaram prêmio pela sua cabeça e diante da falta de autoridade e de nada ser feito, a nossa liderança foi assassinada, e o mais impressionante é que após quase cem anos a história se repete do mesmo jeito e com os mesmos atores. Esperamos que desta vez a história não tenha o mesmo final.
Um dado interessante que a revista coloca, e isto demonstra para todos nós os reais interesses que tem por trás de toda esta trama, é a presença de muita gente grande por trás destas ações, como o banqueiro Armínio Fraga, um dos invasores de nosso território. Portanto, desta vez as Organizações Globo, com esta matéria tendenciosa e mentirosa, não está defendendo apenas os interesses dos outros mas também o dela mesmo. Aliás a Globo já mantém esta prática de defender os interesses dos grandes latifundiários, dos banqueiros, dos políticos que a ajudam a se manter no poder contra as pequenas comunidades, há muito tempo.
Diante de tudo isto, de todos estes fatos relatados e dos já conhecidos por todos vocês, vimos mais uma vez solicitar que providências sejam tomadas, mas providências de verdade. Não dá mais para ficar ouvindo promessas, ficar recebendo visitas, sermos ouvidos por muitas autoridades e não sentirmos que as coisas estão andando. Acreditamos que é preciso fazer ainda mais e agilizar a resolução da demarcação de nossas terras. Que haja um esforço ainda maior das autoridades envolvidas nesta questão em esclarecer e resolver esta situação, como por exemplo, o esclarecimento e os encaminhamentos para que os pequenos produtores sejam reassentados, suas benfeitorias sejam indenizadas. Este procedimento pode resultar na retirada de cena de pessoas mal intencionadas que têm usado os pequenos agricultores para realizarem seus interesses políticos, colocando os pequenos agricultores contra a nossa comunidade com o repasse de falsas informações. São estes políticos envolvidos e empresários da região, que viram seus interesses abalados pela nossa ação, que têm financiado toda esta ação contra a nossa comunidade, a própria matéria da revista Época deixa isto muito claro. Eles trazem gente de fora, eles bancam e com certeza devem pagar aos jornais, revistas e radialistas para que nos ataquem. Vale lembrar que a nossa ação feriu os interesses do tráfico de drogas da região, tráfico de animais silvestres, do comércio de madeira ilegal e do agronegócio, e isto tem mexido nos bolsos deles.

Por fim, pedimos a todos: autoridades, parceiros, aliados, sociedade regional, nacional e internacional, não deixem que a história se repita com o mesmo final. Queremos apenas viver e lutar pelos nossos direitos, e em especial pela nossa Mãe Terra. Ela nos pertence. Não permitam que mais uma vez os invasores sejam os vitoriosos nesta história. BASTA DE MASSACRE, DE EXPLORAÇÃO, DE MENTIRA, DE CALÚNIA, DE IMPUNIDADE.


Serra do Padeiro, 1 de dezembro de 2009.


sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Editoria Volta do Mundo, Mundo dá Volta

« Eu preciso dessas palavras escrita* »


                                                          Artur Bispo do Rosário

Por Mione Sales


Artur Bispo do Rosário (1909-1989), o autor da frase-poema-manifesto acima, ao longo dos 50 anos em que esteve internado na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, Rio de Janeiro, desfiou tecidos e com a linha coseu, em paciente exercício de criação artística e de autocuidado do seu inconsciente, imagens de animais, plantas, mas especialmente palavras. Coseu com a paciência e perseverança digna de Penélope, à espera de Ulisses em sua Ítaca. Artur Bispo esperava a si próprio e ao mesmo tempo legava à humanidade a revelação da necessidade de expressão que cada homem ou mulher guarda dentro de si. Ele, outrora marinheiro e depois trabalhador doméstico numa residência no Rio de Janeiro, salta dessa condição para um mergulho nos arquétipos e personagens do seu Sergipe natal, figuras míticas com seus fardões e estandartes. Artur Bispo produz assim uma arte entre os muros da instituição hospitalar, uma arte que atravessa tempos e continentes, somando e multiplicando elementos regionais e características universais.

Pensemos aqui em especial sobre o significado de seu apelo quanto ao direito à palavra: oral evidentemente, mas sobretudo o direito à palavra escrita e consequentemente à leitura. O belo e o sublime nessa inscrição é que, no fundo, trata-se mais do que de um apelo; é a manifestação de uma necessidade visceral de expressão, que os homens e a forma como se organizam econômica, política e socialmente não lhe permitiram usufruir no contexto da sua vida útil e disciplinada de trabalhador. A sua sede de comunicação transbordou, levando-o a um paradoxal isolamento, que lhe permitiu dizer muitas coisas e sentimentos ao mundo. Todos os que conheceram a sua obra de perto e leram a sua biografia não têm como deixar de se emocionar pela sua tenacidade e criatividade, que nem chegou a ser alvo - diferentemente do artista plástico Fernando Diniz -, do maravilhoso trabalho terapêutico desenvolvido pela grande Nise da Silveira. Arthur Bispo foi autodidata até no seu tratamento pela arte, que acontecia paralelamente ao trabalho de vanguarda que se desenvolvia também no Rio de Janeiro, dessa vez no Hospital Pedro II.

Aproveito o mote da figura de Artur Bispo do Rosário, cuja obra foi homenageada pelo Conselho Federal de Serviço Social, na edição de 1997 do Código de Ética do Assistente Social, para iniciar uma conversa com um pé na teoria e outro na política. Trata-se da minha descoberta recente de uma autora conhecida de círculos feministas e literários, Gayatri Spivak, que publicou um livro célebre, Podem as subalternas falar? (Can the subaltern speak?, 1988), traduzido recentemente para o francês, pelas edições Amsterdam. Este é um texto impactante e polêmico, mas que faz pensar. No momento, quero, porém, apenas expressar o meu incômodo com a provocadora pergunta de Spivak, cujo texto não constitui uma fala isolada, mas se insere num grupo, os « subaltern studies» com base na Índia e ramificações na Inglaterra, Estados Unidos e mesmo na América Latina.

Certo, Artur Bispo é homem, mas fala, ou melhor, cria e escreve, comunica-se, transcende fronteiras com seu português imperfeito, vide o seu « Eu preciso dessas palavras escrita »*. No entanto, em resposta à pergunta de Spivak acerca dos subalternos, trata-se de algo que, homem ou mulher, não precisam de autorização e se, em estado de dominação, exploração ou falta de liberdade, terminarão por quebrar as correntes e desafiar as sombras da caverna. Assim, fazem-no e têm feito em momentos cruciais da história do Brasil e mundial os movimentos sociais.

Mas quem pode livrá-los da pecha de subalterno(a)s, se ela se inscrever na vida, olhar e corpo de cada um deles? Como muito bem lembrou Olga Arruda, citando Graham Greene, no livro Mídia, Questão Social e Serviço Social (org. Sales e Ruiz, 2009), « palavra não se cura ». Oprimidos ou explorados são condições, estados duradouros ou temporários, ou ainda situações sofridas pelos trabalhadores ou por determinados homens, mas cuja nomeação – no contexto da luta e leitura teórico-crítica dos que preconizam a sua superação - não avilta, nem reforça uma desqualificação ontológica daqueles sujeitos, que intuímos na categoria mobilizada por Spivak. Que o digam a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire ou o Teatro do Oprimido do querido Boal, que fizeram escola e cujas ideias percorreram o mundo. Vão me lembrar que foi o bom e velho Gramsci que no cárcere recorreu à categoria de subalterno. O que somente mostra que ninguém é perfeito. Se ele cunhou a genial expressão « filosofia da praxis” para burlar a censura, ao se referir ao marxismo, não teve a mesma felicidade com o outro termo em substituição ao proletariado. Prefiro, assim, quando ele se refere aos « simples » e aos « de baixo », cuja caracterização não é nada indigna, sobretudo quando o próprio Gramsci lhes atribuía a possibilidade de filosofar - qual o nosso Artur Bispo, o artista plástico paciente da Colônia Juliano Moreira, um complexo e sensível homem do povo, do Brasil do século XX.

Aproveito o ensejo polêmico e catártico para apresentar a quem ainda não conhece o Café Filosófico (TV Cultura) e especialmente a filósofa e poeta Viviane Mosé, que de forma brilhante nos fala sobre « O que pode a palavra »… Fica aqui o nosso agradecimento à colaboração de Graziella Comisso, amiga e interlocutora.




Para ver e saber mais

- « O Bispo ». Série Vídeo-cartas Fernando Gabeira. http://www.youtube.com/watch?v=x9wc-_XoCcw
- « O Bispo do Rosário ». (Brasil, 1991) http://www.youtube.com/watch?v=3n01GTVVYig&feature=related
- « O Senhor do Labirinto » (Brasil, 2008) http://vimeo.com/6970596

http://www.agencia.se.gov.br/noticias/leitura/materia:8185/filmagens_de_o_senhor_do_labirinto_chegam_ao_fim_em_sergipe.html

Mione Sales é assistente social, professora de Serviço Social (Uerj), doutora em Sociologia e graduada em Literatura Comparada. Contato: mionesales@gmail.com.