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terça-feira, 23 de outubro de 2012

Editoria Volta do Mundo, Mundo dá Volta

DESAPEGO –  A última lição de Saramago




« Volto as costas ao mar que já entendo
A minha humanidade me regresso,
E quanto há no mar eu surpreendo
Na pequenez que sou e reconheço ».

JOSÉ SARAMAGO


Mione Sales*

Vou começar essa crônica em homenagem ao escritor português José Saramago (1922-2010), que, em 16 de novembro, completaria 90 anos, por uma espécie de mea culpa, admitindo que as aparências, de fato, muitas vezes nos enganam. Certa vez, uma colega de docência no Rio de Janeiro, me escreveu carinhosamente em uma dedicatória do seu livro para eu ser menos arisca. Fiquei refletindo longo tempo sobre o que ela quisera dizer, embora estivesse segura de que era sobretudo discrição de minha parte o que ela não via ou não estava acostumada. Com o passar dos anos, porém, assumi meu lado índio (tenho um pezinho lá no Amazonas): com todas as suas doçuras e ingenuidades, abertura ao outro, mas também com um instinto de defesa quase selvagem. Por vezes, isso é bom, pois serve de bússola e permite que nos afastemos de pessoas que realmente não valem a pena. Noutras, contudo, pode adiar belos encontros. 


De ilhas vulcânicas, transatlânticos e unanimidade


O escritor em Lanzarote

Incluo esse pequeno fato, a título de prólogo, para confessar que, como muitos dos seus leitores, até bem pouco tempo atrás, conhecia José Saramago apenas superficialmente. Se meu respeito por sua figura era imenso, havia qualquer coisa em mim que discretamente a ele resistia. Reservas contra qualquer tipo de colonialismo cultural à parte, Saramago era, porém, incontestavelmente, um intelectual completo, um dos maiores expoentes das Letras Portuguesas, aquele cuja obra foi agraciada com o Prêmio Nobel em 1998. Saramago pertence, assim, às hostes dos monstros sagrados da literatura. Com isso, não pretendo estar dizendo nada de novo ou original. Mas a admiração, por vezes, é semelhante à sensação de alguém num pequeno bote inflável frente a um transatlântico. Díficil transpor. Difícil acessar. 

domingo, 20 de junho de 2010

Editoria Equipe do Blog Mídia e Questão Social

Adeus Saramago!

Foto: Céu Guarda

Certa vez José Saramago disse: “todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia a mais.” Porém, infelizmente o dia 18 de junho desse ano não foi apenas mais um dia... Ontem o mundo perdeu mais um pedaço de sua alma poética, pois, nesta data, o grande escritor português José de Sousa Saramago faleceu vitimado por uma leucemia crônica.

Nascido na região de Azinhaga em 16 de novembro de 1922 e proveniente de família pobre, este autodidata apaixonado pela literatura e dotado de um talento incomum para falar sobre as nuances do “ser humano”, se tornou referência mundial no que tange ao uso da palavra como forma de refletir sobre a complexidade tão simples da vida humana.

Seu estilo ímpar de escrever trazia em suas obras frases longas, a utilização não-convencional de pontuação e a junção entre os parágrafos narrativos e as falas das personagens, nos mostrando, mais do que uma nova forma de escrever, uma nova forma de sentir e refletir sobre a vida.

Sua sensibilidade, seu pensamento extremamente crítico e sua coragem em dizer o que pensava e sentia, levaram José Saramago a receber diversos prêmios durante sua carreira, dentre eles o Prêmio Camões em 1995 e o Prêmio Nobel de Literatura em 1998. No entanto, estas mesmas características trouxeram a perseguição por grupos religiosos ao falar sobre temas bíblicos (como nos livros “O Evangelho segundo Jesus Cristo” e “Caim”) e por grupos judaicos de defesa dos direitos civis (após a alegação de que “Vivendo sob as trevas do Holocausto e esperando ser perdoados por tudo o que fazem em nome do que eles sofreram parece-me ser abusivo. Eles não aprenderam nada com o sofrimento dos seus pais e avós”).