Adeus Saramago!
Foto: Céu Guarda
Certa vez José Saramago disse: “todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia a mais.” Porém, infelizmente o dia 18 de junho desse ano não foi apenas mais um dia... Ontem o mundo perdeu mais um pedaço de sua alma poética, pois, nesta data, o grande escritor português José de Sousa Saramago faleceu vitimado por uma leucemia crônica.
Nascido na região de Azinhaga em 16 de novembro de 1922 e proveniente de família pobre, este autodidata apaixonado pela literatura e dotado de um talento incomum para falar sobre as nuances do “ser humano”, se tornou referência mundial no que tange ao uso da palavra como forma de refletir sobre a complexidade tão simples da vida humana.
Nascido na região de Azinhaga em 16 de novembro de 1922 e proveniente de família pobre, este autodidata apaixonado pela literatura e dotado de um talento incomum para falar sobre as nuances do “ser humano”, se tornou referência mundial no que tange ao uso da palavra como forma de refletir sobre a complexidade tão simples da vida humana.
Seu estilo ímpar de escrever trazia em suas obras frases longas, a utilização não-convencional de pontuação e a junção entre os parágrafos narrativos e as falas das personagens, nos mostrando, mais do que uma nova forma de escrever, uma nova forma de sentir e refletir sobre a vida.
Sua sensibilidade, seu pensamento extremamente crítico e sua coragem em dizer o que pensava e sentia, levaram José Saramago a receber diversos prêmios durante sua carreira, dentre eles o Prêmio Camões em 1995 e o Prêmio Nobel de Literatura em 1998. No entanto, estas mesmas características trouxeram a perseguição por grupos religiosos ao falar sobre temas bíblicos (como nos livros “O Evangelho segundo Jesus Cristo” e “Caim”) e por grupos judaicos de defesa dos direitos civis (após a alegação de que “Vivendo sob as trevas do Holocausto e esperando ser perdoados por tudo o que fazem em nome do que eles sofreram parece-me ser abusivo. Eles não aprenderam nada com o sofrimento dos seus pais e avós”).
Se os grupos religiosos católicos criticavam o fato de um ateu convicto escrever sobre personagens bíblicos, dando-lhes uma dimensão mais humanizada e por vezes secular, já os grupos judeus o acusavam de anti-semitismo por conta das críticas severas ao posicionamento político de Israel nos conflitos com a Palestina.
Ademais, como o próprio Saramago disse em depoimento registrado no belíssimo filme Janelas da Alma: "Para conhecer uma coisa, há que lhe dar a volta". E seria, no mínimo, contraditório pensar diferente quando nos debruçamos sobre sua vida e obra. Tal vez a melhor definição de quem era José Saramago tenha sido dada pelo próprio quando disse: "Eu sou um comunista hormonal, meu corpo contém hormônios que fazem crescer minha barba e outros que me tornam um comunista. Mudar, para quê? Eu ficaria envergonhado, eu não quero me tornar outra pessoa."
Mas para saber mais ainda sobre Saramago, o ideal é ler o que ele não diz sobre si mesmo, mas que está impregnado em suas obras quer seja nos romances mais famosos ou mesmo nos contos e poesias menos conhecidos. Lá está a essência desse autor que se recusava a ceder à massificação e hipocrisia capitalistas e que ousou nos apresentar sua visão particular do mundo.
Sobre estas mesmas obras, Saramago dizia: “Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma maneira bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro, incluindo aqueles, infindáveis, em que já cá não estaremos para poder comprová-lo, para congratularmo-nos ou para pedir perdão, aliás, há quem diga que é isto a imortalidade de que tanto se fala.”
Lembrando um pouco de um de seus livros mais famosos, “Ensaio sobre a cegueira” (também convertido em longa-metragem pelo diretor Fernando Meirelles em 2008), nossa equipe agradece a este ícone sua contribuição e reafirma que se fecham os olhos de José Saramago, os nossos, no entanto, permanecem com a missão de enxergar com estranhamento o que se apresenta como óbvio, dado e imutável e, mais do que isso, tornar esse estranhamento a mola-mestra para uma maior compreensão do que é ser realmente humano.
Leandro Rocha,
Pela Equipe do Blog Mídia & Questão Social
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirParabéns Leandro pelo belíssimo texto. Temos que reconhecer a importância de José Saramago em nossas vidas, no que diz respeito ao entendimento e respeito pelo ser humano.
ResponderExcluirCristiane Perroud Boier Mattos