Pelo direito de ficar doente
Ana Lucia Vaz*
Ainda bem, este é um blog onde exercitamos o desejo de transformação e liberdade. Por isso, não preciso pedir desculpas pelo mais de um mês de sumiço. Mesmo porque não me sinto realmente culpada.
Na primeira semana, sumi por absoluta incapacidade de fazer qualquer outra coisa além de corrigir provas. Dando aula para turmas de primeiro período, em uma universidade privada, tenho, hoje, mais de 400 alunos. Uma verdadeira avalanche me soterrou, na linha de montagem da semana de provas.
Depois veio a gripe. Uma gripe como nunca tive antes, que durou três semanas, na maioria do tempo me deixando totalmente abestalhada.
Três semanas gripada, em plena mega-campanha nacional de vacinação contra a gripe suína não foi fácil. O Brasil fez a maior campanha de vacinação contra o vírus H1N1, no mundo, avaliou, orgulhoso, nosso ministro da Saúde.
Pouco provável que eu tivesse a gripe suína. Não tive a maioria dos sintomas dela. Mas gripe é gripe e não faltou quem aproveitasse a correnteza da campanha pra vacinar-se também contra a gripe sazonal. E, me vendo cambaleante, aconselhasse: “Você devia se vacinar! Desde que me vacinei não gripei mais.” Largada na cama sempre que podia, me senti um gravetinho enterrado na areia que resiste à correnteza vergando como quem vai quebrar.
Adoramos dar opiniões. Mas, como já explicou um teórico cujo nome não lembro, a gente emite opiniões, principalmente, para ser aceito. Portanto, é fácil falar a favor da correnteza. Mas graveto enterrado na areia, se não quiser quebrar, é melhor ficar calado.
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*Dúvidas sobre vacinação*
Só exponho publicamente minhas desconfianças em relação à vacinação contra o H1N1 agora, porque a campanha terminou e não corro o risco de ser acusada de promover a pandemia. Tem briga que não dá pra encarar! Mas que eu não me vacinei, não me vacinei. Nem contra o H1N1, nem contra o vírus sazonal.
Entendo pouco de medicina para debater o assunto. Como a gente não pode ser especialista em tudo sobre o que precisa decidir, precisamos ouvir os especialistas.
Ouvi vários profissionais de saúde para tentar compreender os motivos que poderiam me levar a vacinar-me. Embora todos fossem enfáticos sobre a necessidade de vacinar contra o H1N1, acabaram me convencendo do contrário.
Quando eu perguntava sobre a garantia de eficácia da vacina, se não estávamos sendo cobaias da mafiosa indústria farmacêutica, em geral a ênfase da fala diminuía e nenhum deles, numa conversa olho-no-olho, arriscou-se a garantir a vacina.
Eu tenho medo de vacinas, porque elas tentam interferir na programação do sistema imunológico. Mas a medicina entende quase nada sobre esse sistema de informação muito sofisticado e sutil, que pode dar respostas muito drásticas quando bagunçado. O câncer e a esclerose múltipla são só duas das respostas mais conhecidas, entre muitas.
Atenção: o corpo humano não é um sistema linear que se submeta à lógica normal de nosso pensamento. Portanto, nada de deduzir, do dito acima, que vacina provoca câncer. Mas que a gente não sabe o que pode provocar, não sabe. Nem eu, nem os especialistas!Há estudos sobre a relação de algumas vacinas com a esclerose múltipla, mas não sei seu conteúdo.
Sobre esses possíveis efeitos “colaterais”, todos os profissionais que ouvi me responderam em termos estatísticos. Há uma probabilidade pequena de você morrer da doença contraída na própria vacinação. Essas estatísticas eles têm, com precisão, sobre cada vacina. Eles sabem, também, que existem, provavelmente, outros efeitos mais profundos e pouco conhecidos. Mas sobre esses, que dizem respeito à confusão que pode ser causada no sistema imunológico, meus interlocutores tinham conhecimentos vagos.
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Faz sentido que o poder público raciocine em termos estatísticos. Esse é o papel dele. Mas o meu sistema imunológico eu não submeto ao programa estatal não! Ainda mais quando a gente sabe que à estatística sempre se mistura a política e a economia. E a política econômica é bastante hostil à saúde humana.
Decisões com base em estatísticas são bastante suscetíveis à subjetividade. Quanto pesa, na avaliação dos dados estatísticos, o lucro da indústria farmacêutica? E o prejuízo das empresas com as ausências do trabalho por gripe? A campanha de vacinação rolando, eu trabalhando gripada... houve um dia em que perdi a voz e minha médica mandou ficar em casa. Cheguei a ser levemente pressionada para trabalhar assim mesmo. E fiquei ruminando o medo de que, um dia desses, me pressionem perguntando: “Por que você não se vacinou?” Não se submeter à vacina contra as gripes, então, poderá ser considerado algo pior do que não ter celular. Demonstração de falta de vontade de trabalhar. Pecado capital em nossos dias de produtividade como valor máximo.
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*Gripe libertária*
Desenho: Ana Lucia Vaz
Num sistema em que o professor da universidade privada precisa ter centenas de alunos por semestre e o da universidade pública precisa produzir dezenas e artigos, *papers*, seminários – em que nossa competência é medida por quantidades, não por qualidade – ficar gripada bem pode se tornar ato subversivo.
Não tanto porque diminui a produtividade em si, mas pelas consequências perigosas do tempo não-produtivo. Diz o velho ditado: “Eu não posso parar: se eu paro eu penso, se penso eu choro”. Vivemos tempos de vacinas contra vírus sazonais e muitos remédios contra ansiedade, depressão, mau humor e todas as adversidades emocionais. Ficar doente, assim como ficar triste, é sinal de fraqueza. Não combina com a imagem do herói contemporâneo.
Competitivo, forte, produtivo e vencedor. O herói globalizado que domina o mundo.
No tempo da guerra fria, as ditaduras políticas exerciam controle externo violento. Hoje, esse controle se internalizou, e não há movimento de esquerda que o combata. Hoje, para conquistarmos liberdade e autonomia, já não basta agir em silêncio, ou ludibriar o opressor com metáforas.
É preciso ficar gripada e se largar na cama sentindo a fala do corpo, para preservá-lo do controle do sistema de trabalho e saúde. É preciso chorar as dores e tristezas cotidianas, para preservá-las do sistema de competição-
sucesso que esfria o coração.
*Ana Lucia Vaz, jornalista, mestre em Jornalismo (USP), membro da Rede Nacional de Jornalistas Populares (http://www.renajorp.net) , professora de jornalismo e terapeuta craniossacral.
Fonte de Imagens: Google.
Ana, ouvi uma pérola do meu querido médico cientista-homeopata: "No mundo da massificação, perdemos o bom senso. Arriscamos nossas cabeças em prol de uma pandemia histérica- midiática." Bem, não sejamos "lineares" a ponto de afirmarmos que vacina causa câncer, mas sabemos muito bem que a razão científica nasceu de uma vontade totalmente desrazoável. Por isso, linha de fuga é ficar gripado. Amei...
ResponderExcluirRejane
Ana, estou totalmente de acordo com seu pensamento; tambem não tomei a vacina e penso muito nessa estoria de "programção" do MEU sistema, que há tantos anos (62!) organizo e cuido da melhor maneira que posso.
ResponderExcluirEssa vacina...sei não...
Celia Vaz
Ana, parabéns pelo texto e a coragem de falar sobre ser contra a vacina. A grande maioria das pessoas se esquece no dia-a-dia de se perguntar sobre o porquê e para que das coisas e tomam decisões embasadas nos apelos midiáticos e nas campanhas de saúde que utilizam globais para emplacar maiores estatísticas.
ResponderExcluirA campanha dessa vacina em nenhum momento explicitou a população como ela foi feita, por quem e quais os possíveis efeitos colaterais. Este último é bem claro saber o pq: não se sabe quais são os possíveis efeitos colaterais!!! Tb não foi anunciado na mídia pq alguns países europeus devolveram a vacina. Pq será?
Assim como vc, tb não me vacinei pq acho q não sou cobaia da indústria farmacêutica. Mas num país onde as condições de saúde são precárias e os remédios são caro, tendo em vista a renda da população, assim que a vacina foi anunciada a população aplaudiu a iniciativa do governo de salvar seu povo da tão perigosa gripe suína q no Brasil ( vale lembrar) não matou mais do que a diarréia mata todos anos.
Como vc bem disso, o controle se internalizou. Afinal, em tempos de precarização das relações de trabalho ficar doente é um forte argumento para demissão. Ora, se hj não há mais a obrigação do governo pela vacinação, podemos dizer que há uma obrigação trabalhista. Ou vc cuida da sua saúde, que é cada dia mais enfraquecida pela lógica perversa do capital, ou vc será mais um nas estatísticas do IBGE. Melhor então ser mais um na estatística do ministério da saúde. Sou contratada temporária nos meus dois empregos, sou parte dos que não têm nenhuma segurança sobre o seu futuro, mas não quis ser parte de nenhuma estatística fajuta p enriquecer a grande máfia farmacêutica mesmo sendo o profissional de saúde d dois lugares e jovem entre 20 e 29 anos. Me prejudicando ou não farei como a Ana e serei um graveto forte q não se envergará com a correnteza. Afinal, como assistentes sociais, já fazemos isso c tanta frequência q aprendemos a lidar c a correnteza e fazer uso dela qdo precisamos.
Saudações dos futuros ou não gripados libertários...rsrsrs!!!
Marina Alecrim
Ana,
ResponderExcluirAguardemos: Celinha não toma nenhuma, e eu tomo todas (neste caso, me referindo a vacinas...). Sabe qual vai ser a conclusão? Nenhuma!
Mas posso adiantar que não é para ir trabalhar que me vacino. É para ir à praia.
bjs
Nick
Muito bom: "Pandemia histérica-midiática"! Seu homeopata está fazendo curso de teoria da comunicação com você???
ResponderExcluirÉ, Celinha. Pra mim o principal também é essa tal "programação". Valeu o apoio. Vindo de você tem especial valor!
ResponderExcluirNina, o mais legal é perceber que não estamos assim tão à mercê das campanhas midiáticas. Como eu disse sobre gravetos que evitam falar, muita gente resistiu em silêncio. Quando a gente fala, há ecos por todos os lados.
ResponderExcluirComo os gravetinhos tinhosos, que vergam sob a correnteza, se inclinam o quanto podem, balançam a mais não poder, pra não serem quebrados. Acho que em tempos de controle internalizado é a melhor estratégia. Somos muitos gravetinhos!!!
Hahaha!!!! Nick, meu querido primo rato-de-praia. De você não esperava outra coisa que a mais pura ciência da boa vida!
ResponderExcluirTambém acho que a conclusão será nenhuma. Até porque você já está vacinado pela praia.
Valeu!
Rejane Moreira,
ResponderExcluirNão existe farsa alguma. O Ministério da Saúde entende que o vírus Influenza H1N1 representa um grande ameaça a saúde publica brasileira, e por isso não tem tomado todas as providências para ajudar a população a enfrentar a nova onda da Influenza H1N1.
E mais uma vez repetimos: O vírus Influenza H1N1 não foi criado em laboratório, é o resultado damutação natural entre os vírus da gripe aviária, suína e humana. O que existe na internet sobre esse assunto trata-se de terrorismo com objetivo de gerar o pânico na população. A vacina é segura, necessária e eficaz contra o vírus.
Mais informações:
fernanda.scavacini@saude.gov.br
Atenciosamente,
Ministério da Saúde
Célia Vaz,
ResponderExcluirÉ importante esclarecer que a vacina contra Influenza H1N1 é segura. Ela foi devidamente testada. Antes de ser aplicada aqui no Brasil, esta vacina já foi utilizada em mais de 400 milhões de pessoas no Hemisfério Norte, e 70 milhões no Brasil, sem efeitos colaterais graves.
Mais informações:
fernanda.scavacini@saude.gov.br
Atenciosamente,
Ministério da Saúde
Nina,
ResponderExcluirO fato é que o vírus Influenza H1N1 representa uma grande ameaça a saúde publica brasileira, e por isso temos tomado todas as providências para ajudar a população a enfrentar a nova onda da Influenza H1N1
A vacina é segura, seu efeitos colaterais são amplamente divulgados e conhecidos por todos. Não existe supostos erros, a vacina foi devidamente testada, o que existe na internet são correntes contrarias a vacinas. Mas as informações postadas são irresponsáveis e não condizem com a verdade. O objetivo é gerar o pânico na população.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os principais efeitos colaterais da vacina são dores de cabeça, nos músculos e articulações e febre. São sintomas leves, que devem durar cerca de dois dias. Em casos muito raros, pode haver reação alérgica.
Mais informações:
fernanda.scavacini@saude.gov.br
Atenciosamente,
Ministério da Saúde
Nick,
ResponderExcluirAs vacinas cumprem um papel importante na prevenção de doenças graves. Isso é feito há décadas no mundo todo com sucesso. É importante que sempre que possível a população esteja protegida contra essas doenças. No caso da Influenza H1N1 se trata de um vírus que tem feito milhares de vítimas no mundo e também no Brasil.
O Ministério da Saúde entende que o vírus Influenza H1N1 representa um grande ameaça a saúde publica brasileira, e por isso não tem tomado todas as providências para ajudar a população a enfrentar a nova onda da Influenza H1N1.
Mais informações:
fernanda.scavacini@saude.gov.br
Atenciosamente,
Ministério da Saúde
Nalu,
ResponderExcluirNão podemos negligenciar o fato da existência do vírus, ele existe é representa uma ameaça à saúde pública brasileira. O Ministério da Saúde não poderia ter agido de maneira diferente. Foram adquiridas aproximadamente 113 milhões de doses da vacina para imunizar as pessoas que fazem parte do grupo de maior risco de desenvolver a forma mais grave da doença.
A vacina contra Influenza H1N1 é segura. Ela foi devidamente testada. Antes de ser aplicada aqui no Brasil, esta vacina já foi utilizada em mais de 300 milhões de pessoas no Hemisfério Norte, sem efeitos colaterais graves.
Foram mais de 300 milhões de pessoas vacinadas nos países do Hemisfério Norte, e quase 80 milhões de pessoas no Brasil, não podemos de maneira alguma ir contra esses dados. A vacina é segura e tem se confirmado isso de maneira continua e permanente. Nãotemos no Brasil nenhum caso de complica grave ou morte provocada pela vacina.
Mais informações:
fernanda.scavacini@saude.gov.br
Atenciosamente,
Ministério da Saúde
Cara Fernanda,
ResponderExcluiragradeço sua contribuição ao debate. As explicações do Ministério da Saúde foram reproduzidas à exaustão pela mídia. Mas sempre existem muitos pontos de vista para um mesmo fato. Mesmo na ciência, que se pretende objetiva mas, ainda bem, é feita por seres humanos.
Por fim, Fernanda, dizer, por exemplo, que a vacina já foi testada "sem efeitos colaterais graves", soa como discurso oficial demais para entrar no debate central. Nos relatórios científicos, na melhor das hipótese, o resultado da experiência pode ter sido: "sem efeitos colaterais graves comprovados". Na ciência, a dúvida é permanente. As certezas são do campo dos discursos políticos.
Seja bem vinda ao nosso blog.
Vou expor meus argumentos sobre o q a fernanda falou parágrafo por parágrafo.
ResponderExcluirPrimeiro parágrafo: Ele(vírus) não pode ser uma forte ameaça se não mata tanto qto a diarréia mata crianças todos os anos no Brasil. E nem por isso temos o ministério da saúde implementando o q está no sus no que se refere a política de saneamento e nem outras polítivas básicaa. Será q a vida dessas crianças não têm a mesma importância? Eu sei da diminuição dessas mortes ao longo dos anos, mas é um absurdo que a diarréia seja uma das 4 principais mortes de crianças no Brasil.Há d se lembrar tb q a oms relatou o enfraquecimento do vírus no mundo.
Segundo e terc. parag: Concordo que na internet tem muita informação errada, mas nem tudo que se opõe a vacina pode ser visto como tentativa de colocar pânico na população. Até pq saúde é muito mais do que vacina. E fernanda, devidamente testada não significa que não possa ter efeitos colaterais. Qtas vacinas e remédios vc conhece q levaram décadas p se implementar pq tiveram se várias vezes testados e por anos avaliados se de fato não trariam riscos à saúde humana. Por qto tempo essa vacina foi testada? Nosso corpo não reage de imediato a tudo vide por exemplo as doenças psicossomáticas.
O q me incomoda, Fernanda, é ver as condições de saúde precárias do meu país e ouvir sempre que não há verbas p saúde. Mas para uma vacina e uma doença alarmante e recente surgiu dinheiro de todos os lugares. Vejo usuários da saúde mental internando por falta de remédio e muita vezes se institucionaluzando pq a rede de saúde mental não funciona. Vejo durante o meu plantão uma jovem mulher esperar a morte pq com diagnóstico de câncer a central d vagas não arrumará vaga pq tem outras vidas mais barata e q vão sobreviver e ela só chegou a este estágio pq está na fila p fazer a biopsia, pois só c ela pod ir ao INCA.Convido vc a passar uma noite se fingindo d doente no hospital salgado filho no RJ e depois quero saber o q ministério da saúde está fazendo para tomar providências que ajudem a população! Vc pode me dizer q não é do âmbito do ministério o Hosp. salgado filho, mas promover e assegurar a saúde da pop. é com certeza !
Bom, quero dizer com isso q a saúde e essa vacina são tratadas como mercadorias q só importam qdo dão lucro. Logo, fernanda, continuo afirmando q essa vacina veio p garantir mais e mais lucros p as indústrias farmacêuticas sim.
Esse espaço é p todos e espero ver sua resposta ao q eu escrevi. É sempre bom conversar c pessoas c opiniões diversas.
Abraços, Marina!