Claudia Correia
O FSM da Bahia, de 29 a 31 de janeiro, em Salvador, foi planejado para servir de elo entre o FSM 2010 realizado em Porto Alegre esta semana e o que acontecerá no Senegal em 2011.
O encontro terminou frustrando. A esperada presença de Lula e de mais 15 chefes de Estado não aconteceu. O público esperado era de 30 mil,chegou a uma previsão otimista de 10 mil, segundo a Comissão Organizadora. O encontro entre líderes mundiais e representantes da sociedade civil também não saiu do papel.
Pelo que se viu e se noticiou, predominou os discursos de ocasião, cheios de clichês e aproveitamento eleitoreiro. As 16 mesas redondas não empolgaram, debates frios para uma Salvador fervilhando em baixo dos 36 graus e repleta de organizações combativas que lutam pela democracia.
O jornal A Tarde deu destaque ao debate em que uma líder comunitária local confrontou o ministro das Relações Institucionais Alexandre Padilha. Ela se disse cansada de discursos políticos. “Você já passou fome?”A gente está com fome e não acha apoio. Os culpados são vocês”,bradou ela da platéia. O ministro ignorou. Nem este fato, isolado, serviu para dar um clima de debate democrático ao tão esperado evento.
Na mesa sobre Mídia e Democracia, o editor da revista “Fórum”, Renato Rovai criticou a grande imprensa alegando estar em todo lugar e ser sempre ruim. Os sindicalistas engrossaram o coro contra os monopólios dos grandes grupos empresariais de comunicação no país. O ministro da Secretaria de assuntos Estratégicos defendeu que estas empresas paguem impostos sem reclamar, afinal o povo precisa receber os benefícios governamentais. A “Carta de Salvador” foi aprovada e marca posicionamentos interessantes sobre os principais dilemas do mundo contemporâneo, em defesa de uma nova lógica humanitária no trato dos assuntos políticos.
Não senti motivação em muitas lideranças e organizações locais para o FSM. Este período em Salvador é muito dispersivo. As festas, shows, ensaios, lavagens e feijoadas pré-carnaval deixam a cidade acesa 24 horas. Estamos recuperando o fluxo turístico este ano e como a economia urbana (e a vida de muitos de nós) gira em torno dos serviços do turismo parece não haver espaço para mais nada.
A cobertura da mídia local sobre o Fórum refletiu este esvaziamento, destacou a predominância de representantes governamentais das três esferas e a tímida mobilização social. Em ano eleitoral quem vai desprezar um palanque/vitrine deste? Os políticos de plantão marcaram presença, fizeram “ a social” e deixaram a plenária.
O FSM Bahia foi encerrado com uma assembléia dos movimentos sociais e uma caminhada, de Ondina à Barra, no domingo, dia 31. Veja abaixo a mensagem enviada pelo presidente Lula e o documento aprovado na assembléia dos movimentos sociais.
- MENSAGEM DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA PARA O FÓRUM SOCIAL MUNDIAL TEMÁTICO DA BAHIA - Janeiro de 2010;
- ASSEMBLEIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS - Salvador, 31 de janeiro de 2010. 10 ANOS DO FSM - OUTRO MUNDO É POSSÍVEL E NECESSÁRIO.
Claudia Correia, assistente social, jornalista, profª da ESSUCSal, mestre em Planejamento Urbano. Contato: ccorreia6@yahoo.com.br
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