segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Editoria Volta do Mundo, Mundo dá Volta

CARNAVAL EM PARIS, uma festa cosmopolita


CRÔNICA / IMAGENS
Mione Sales

Domingo de sol na cidade das Luzes, apesar do termômetro estar marcando -1°. Um verdadeiro alento para sair e registrar a folia brasileira em Paris. Vale dizer que a festa não era somente verde-e-amarela. Era também vermelha, pois comemorava-se hoje a chegada do Ano Novo Chinês. Os chineses estão sobretudo em alguns bairros, como o Chinatown no 13ème arrondissement, no Marais (3ème arr.) e em Belleville (20ème arr.).

Saí de onde estava, no Marais, e fui clicando em direção a Belleville.




 
 
 
 
 
 
 
 
 



Essa uma escola pública maternal, ainda no Marais. A bandeira francesa, símbolo da República e da laicidade, divide a cena com lanternas chinesas, em discreta e espontânea convivência diplomática.  

 
 
  
 
 
 
 
 
 





             O carnaval saiu da praça de Gambetta no 20ème. Fui ao seu encontro na popular Belleville. A paisagem quase agreste é o puro retrato do inverno europeu.


Desfilavam também em Belleville dragões vermelhos e brancos em saudação ao Ano do Tigre.

















                                  











Até agora nada de Brasil nem de sua batucada. Mas seguimos boulevard de Belleville afora atrás das « fanfares », pequenas bandas francesas com ou sem baticumbum. Próxima parada: Coronne e supresa, uma banda constituída apenas de garotas.















A organização estava toda em rosa, uma homenagem quem sabe às mulheres e aos gays. Não era 28 de junho, dia de parada, mas 14 de fevereiro e festa de « Saint Valentin”, dia dos namorados.

O tema da festa era « casais improváveis ». Paris permite realmente o encontro de pessoas de continentes muito distintos. Esse lado cosmopolita é uma das coisas que mais me atrai por aqui. Sensação do mundo ao alcance da mão e ao tempo de um olhar.











Até parece que estamos em Olinda, pois lá vem os bonecos gigantes! Bem que tinham me falado que na raiz desse carnaval parisiense estavam os pernambucanos. Evoé Baco!

Olha a comunidade « lusa » em pleno carnaval brasileiro ! Viva a lusofonia em Paris !



Mas também teve direito a tigre « à moda da casa », que afinal brasileiro é multi-religioso e ecumênico. Faz uma « fezinha » até em chinês!

Para quem ainda não sabe, há muita empatia entre franceses e brasileiros. Penso que é uma das relações menos tensas entre os discípulos de Voltaire e o resto dos habitantes do Hexágono. « A Bahia tem um jeito » e a bossa nova mexem com o coração e a espinha dorsal racionalista dos tricolores da pequena Gália. Por isso, na saúde, na doença e também no samba!

Mas nem só de cuíca e pandeiro vivem os desfiles e manifestações em Paris. O tempero da música e ritmo local, ao som de metais, faz lembrar o Leste europeu. Música ao vivo, uma constante em todas as passeatas.



Para dar apenas uma pequena ideia da força e presença dos sindicatos franceses, estava nesse desfile, com ares de manifestação, a descer pelos bairros populares de Paris, a Liga do Ensino.

Quem fala em ensino fala também em escolas e crianças. Um pequeno flash da beleza pimpolha, mais admirada do que a cair na folia.

E por falar em política, a Frente de Esquerda (Front de Gauche) não perde tempo! (Melhor não perder mesmo!) Vende o seu peixe em plena batucada.

Em destaque: Nossas medidas de ruptura para mudar a vida
e Rápido, é preciso uma boa esquerda para enfrentar a direita!






E até parece que foi sob encomenda ! Presente de Saint-Valentin para uma enamorada da comunicação e dos direitos humanos. Blogueira, aventurando-se de fotógrafa e repórter. Em pleno carnaval, uma pequena manifestação contra a política de segurança de instalação de câmeras de vigilância: « Por uma Paris sem câmeras ». 






Denuncia-se a intenção totalitária: « Quem vigia os que vigiam ? »





E como parte da campanha « Gari visível », pelo respeito à dignidade e ao trabalho dessa categoria, por definição ecológica, um verde alô da limpeza urbana de Paris, fechando a festa.

 
E o sol deu o ar de sua graça, novamente ao final! Com ele, me despeço, entre peles morenas e belos sorrisos de todas as cores, na torcida por um mundo, em forma de « arco-íris »: ecológico, pacifista, democrático, libertário e sem tensões étnico-raciais.  

E como diria a poeta Adélia Prado,


«Ser brasileiro me determina de modo emocionante…”, convicção ainda maior quando se está distante. Fiquemos, então, pelo menos com o « bamboleio que faz gingar… »

E aquele abraço a todos!

Saravá!

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Mione Sales – é assistente social, mestre em Serviço Social, doutora em Sociologia e professora da FSS/Uerj. E-mail : mionesales ° gmail.com

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PEQUENO GLOSSARIO


Laicidade – diz-se do que é distinto do religioso, público, sem confessionalismo.

voé, Baco! – saudação ao deus do vinho.

Lusofonia – referente aos falantes de língua portuguesa: brasileiros, portugueses, africanos e asiáticos.

Voltaire – escritor e filósofo francês, é considerado um dos principais inspiradores do Iluminismo.

Hexágono – referência ao mapa da França, que possui essa forma geométrica.

Gália – se você leu Asterix, sabe do que estou falando! Os franceses descendem dos gauleses, habitantes da pequena Gália, comparativamente aos domínios territoriais do Império Romano.

Frente de Esquerda – composta pelo PCF (Partido Comunista Francês), Partido de Esquerda, Esquerda Unitária, MPEP (Movimento Político de Educação Popular, A Federação, PCOF (Partido Comunista dos Operários da França), República e Socialismo, Os Alternativos.

5 comentários:

  1. Olá Mione!

    Lendo seu relato, não pude deixar de pensar em como a distância geográfica, as diferenças culturais e mesmo climáticas acabam se tornando meros detalhes quando se observam momentos como as comemorações que Brasil e França vivenciam esta semana.
    E tanto na terra do "oui" quanto na do "uai", a alegria deve servir para promover uma celebração conjunta, sem discriminações étnicas, sociais, culturais ou religiosas.
    Quisera que, neste aspecto, todos os dias fossem carnavais em todos os lugares do mundo.

    Um abraço,
    Léo Rocha

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  2. Mi,
    Primeiro que o seu suposto desafio de se aventurar como “fotógrafa e repórter”, nessa cobertura “cosmopolita” foi um show! Tudo está perfeito, da narrativa às fotografias que estão bonitas, expressivas mesmo. De fato é interessante isto que o Léo destacou sobre a “desnecessidade” geográfica, para se comemorar o carnaval e lutar contra as diversas discriminações que muito fazem do viver, de uma grande maioria de seres sociais, uma passagem pela vida, sofrível, desmerecida e aviltante. É preciso sim, que num momento de descontração, o combustível da alegria, que nos revigora e nos faz seguir em frente, apostando nas diversas possibilidades de uma vida melhor, seja totalmente, absorvido. Como dizem os chineses o Ano do Tigre é ano de extremos. Nada acontece de bom ou de mau, numa escala discreta. Tudo acontece num “Bum!!!”. Então, que o amor e a paz seja um “bum” nos quatro cantos do mundo, ao som dos repiques e tamborins, já aproveitando que ele chegou exatamente no dia da festa de << Saint Valentin >> . Penso que, com toda a esperança que esses dois sentimentos preciosos nos alimentam o espírito, somada à alegria, que nos traz entusiasmo, para lutar por igualdades sociais e exclusão de discriminações raciais, étnicas, de gênero, culturais, religiosas. Quero apostar que o Tigre irá nos propiciar o que há de melhor no universo, e espalhá-lo para os quatro cantos do mundo, mas, que em especial dê vigor ao povo do Haiti, para que reconstruam seu país, independente economicamente, igualitário em sua conjuntura socioeconômico, com paz, amor e com a sua identidade sociocultural preservadas.

    Um abraço,

    Nelma.

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  3. Mi,


    por alguma razão destas do coração, ontem estava eu no Rio (em rápida passagem pra voltar correndo ao trabalho paulista) e pensei em como vc deveria estar vivendo os dias de carnaval em Paris...
    bem, vc conseguiu transmitir exatamente da maneira como eu imaginava... que delícia!

    bjs!

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  4. Que delícia de crônica. Meu filho(22) está de férias em Paris com um irmão que mora no RJ. As cenas da festa me encheram de emoção porque é fascinante festejar a vida,dançar,cantar e celebrar ano novo de todas as formas, em todas as línguas e culturas.Um olhar brasileiro, sensível e comovente sobre a diversidade. Salve a cidade luz e as luzes de todos os carnavais do mundo. Beijos . Claudia Correia

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  5. Mi querida,
    belas fotos, texto e informações deliciosos! É sempre um grande prazer "viajar" com vc...
    Beijo grande,
    Cecela

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