quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O que queremos da mídia?


Muitos de nós apresentamos várias críticas à mídia. Em um país com a concentração de propriedades dos meios de comunicação como é o Brasil, elas são não somente necessárias, como muito bem-vindas, conforme demonstrou a colega Cláudia Correia aqui no blog em seus artigos sobre a Conferência Nacional de Comunicação. Uma das questões que sempre nos é colocada é o quanto a mídia transforma em espetáculo fatos que não são necessariamente notícias de interesse público. O que parece importar é vender notícia e não informar. É preciso registrar que há contradições internas nas próprias redações de jornais, portais e outros instrumentos de comunicação, com profissionais provocando debates acerca do que é ético ou não no contexto da produção e divulgação das informações. Uma destas contradições foi expressa no último domingo, 27 de dezembro, no jornal Folha de São Paulo. Trata-se de um pequeno artigo do jornalista Clóvis Rossi sobre a cobertura da disputa pela guarda do menino brasileiro Sean Goldman. Acrescentamos às reflexões de Rossi que é preciso ter em conta as previsões do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90) no Brasil. A legislação prevê que o interesse da criança e do adolescente deva ser, sempre, protegido.

O ano de 2009 caminha para o final, mas, como vemos, a “roda da espetacularização midiática” continua a incensar os debates, por isso não podíamos deixar de propor ainda essa última reflexão sobre um tema ao mesmo tempo público – o direito à informação e suas controvérsias – e privado – a disputa da guarda de uma criança com pais de nacionalidades distintas.



Desejamos uma boa leitura e aproveitamos para saudar os nossos colaboradores e sobretudo nossos blog-leitores, na torcida por um ano de 2010 com mais direitos e esperanças para todos nós e para o planeta Terra.



Equipe do blog Mídia & Questão Social
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Erramos?

Clóvis Rossi

SÃO PAULO - A capa da Folha de ontem diz que "na mídia e em declarações de autoridades americanas, o caso [do menino Sean Goldman, devolvido ao pai após uma novela de cinco anos] ganhou contorno de disputa entre países".

É verdade e, por isso mesmo, o papel da mídia precisaria ser discutido nesse caso.

Trata-se de um assunto de família, exclusivamente de família. Não há interesse público envolvido.

Há, sim, curiosidade pública, o que é bem diferente. Do que decorre a pergunta que me parece central e me causa desconforto: temos, os jornalistas, o dever, a obrigação, de atender sempre a curiosidade do público, mesmo quando ela é invasiva? Neste caso, é pior ainda, porque invasiva de uma criança.

Não, não me venham dizer que invadimos cotidianamente a privacidade de muitas pessoas. É verdade, mas, em 99,9% dos casos, trata-se de pessoas públicas, que procuraram a notoriedade, não raro apoiando-se na mídia.

A busca pelos holofotes tem preço. Muitas vezes, os holofotes acesos pela mídia é que impedem abusos de diferentes naturezas.

Mas Sean não procurou os holofotes. Seu caso acabou por se transformar em exercício de jornalismo-espetáculo.

E não apenas no Brasil: a rede norte-americana NBC não fretou um avião para levá-lo aos EUA com o pai por amor à infância, mas por amor ao espetáculo. Nesse espetáculo acabamos por cometer um pecado grave: demos abrigo a uma acusação, feita pela avó materna, de que o Executivo e o Judiciário brasileiros venderam-se aos Estados Unidos pagando com Sean pela manutenção de vantagens comerciais.

Nenhum jornalista sério diria tal coisa por sua conta. Se o dissesse, correria o risco de purgar elevada pena. No entanto, no jornalismo-espetáculo, a acusação foi ao ar e ao papel. Incomoda, não?

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