quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Múltiplos olhares, uma esperança

Caros Amigos e blog-leitores,

É indiscutível, todo o final de ano é tempo de “balanço” e de novas perspectivas para o ano que já está com seu pezinho na porta de entrada. Desejamos, antes de tudo, que ele chegue bem, para todos nós.
               
Quanto ao balanço que fizemos nesses três meses de ciberespaço, temos muito o que agradecer a todas (os) vocês pela nossa convivência e trocas. Quantas expectativas tivemos e, felizmente, vimos cumprindo-as quase em sua totalidade. Isso fortalece nossos projetos e ideais aqui investidos e nos faz contar cada vez mais com a participação de todas (os) vocês, através dessa interatividade em 2010.

Desejamos de coração um Feliz Natal, com múltiplos olhares, mas com uma esperança: a efetivação dos direitos humanos e sociais no mundo.

Assim, o Novo Ano poderá ser mais prospectivo para cada pessoa de nossa nação e para o mundo. Abaixo, dedicamos com carinho a todos os nossos leitores e colaboradores esta preciosidade de Carlos Drummond de Andrade: Organiza o Natal.

Boas Festas!!

São os votos da Equipe do Blog Mídia & Questão Social.


Organiza o Natal
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   Carlos Drummond de Andrade



Le violiniste bleu. Marc Chagall


Alguém observou que cada vez mais o ano se compõe de 10 meses; imperfeitamente embora, o resto é Natal. É possível que, com o tempo, essa divisão se inverta: 10 meses de Natal e 2 meses de ano vulgarmente dito. E não parece absurdo imaginar que, pelo desenvolvimento da linha, e pela melhoria do homem, o ano inteiro se converta em Natal, abolindo-se a era civil, com suas obrigações enfadonhas ou malignas. Será bom.

Então nos amaremos e nos desejaremos felicidades ininterruptamente, de manhã à noite, de uma rua a outra, de continente a continente, de cortina de ferro à cortina de nylon — sem cortinas. Governo e oposição, neutros, super e subdesenvolvidos, marcianos, bichos, plantas entrarão em regime de fraternidade. Os objetos se impregnarão de espírito natalino, e veremos o desenho animado, reino da crueldade, transposto para o reino do amor: a máquina de lavar roupa abraçada ao flamboyant, núpcias da flauta e do ovo, a betoneira com o sagüi ou com o vestido de baile. E o supra-realismo, justificado espiritualmente, será uma chave para o mundo.

Completado o ciclo histórico, os bens serão repartidos por si mesmos entre nossos irmãos, isto é, com todos os viventes e elementos da terra, água, ar e alma. Não haverá mais cartas de cobrança, de descompostura nem de suicídio. O correio só transportará correspondência gentil, de preferência postais de Chagall, em que noivos e burrinhos circulam na atmosfera, pastando flores; toda pintura, inclusive o borrão, estará a serviço do entendimento afetuoso. A crítica de arte se dissolverá jovialmente, a menos que prefira tomar a forma de um sininho cristalino, a badalar sem erudição nem pretensão, celebrando o Advento.

A poesia escrita se identificará com o perfume das moitas antes do amanhecer, despojando-se do uso do som. Para que livros? Perguntará um anjo e, sorrindo, mostrará a terra impressa com as tintas do sol e das galáxias, aberta à maneira de um livro.

A música permanecerá a mesma, tal qual Palestrina e Mozart a deixaram; equívocos e divertimentos musicais serão arquivados, sem humilhação para ninguém.

Com economia para os povos desaparecerão suavemente classes armadas e semi-armadas, repartições arrecadadoras, polícia e fiscais de toda espécie. Uma palavra será descoberta no dicionário: paz.

O trabalho deixará de ser imposição para constituir o sentido natural da vida, sob a jurisdição desses incansáveis trabalhadores, que são os lírios do campo. Salário de cada um: a alegria que tiver merecido. Nem juntas de conciliação nem tribunais de justiça, pois tudo estará conciliado na ordem do amor.

Todo mundo se rirá do dinheiro e das arcas que o guardavam, e que passarão a depósito de doces, para visitas. Haverá dois jardins para cada habitante, um exterior, outro interior, comunicando-se por um atalho invisível.

A morte não será procurada nem esquivada, e o homem compreenderá a existência da noite, como já compreendera a da manhã.

O mundo será administrado exclusivamente pelas crianças, e elas farão o que bem entenderem das restantes instituições caducas, a Universidade inclusive.

E será Natal para sempre.

Ah! Seria ótimo se os sonhos do poeta se transformassem em realidade.
 [Texto extraído do livro "Cadeira de Balanço", Livraria José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1972, pág. 52].

2 comentários:

  1. Desejo a todos do blog em especial à Nelma um período de festas muito positivo, de paz e felicidade, incluindo a família.
    Um abraço.

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  2. Humberto, agradeço-lhe em meu nome e de toda a Equipe do BM&QS por sua gentileza. É muito bom tê-lo como nosso blog-leitor, sempre atento e participativo com o que temos para dizer, ainda mais que você também participa do ciberespaço com o seu blog "De Propósito", do qual sou uma blog-leitora. Recomendo a todos também o acesso a ele. É muito bom!!
    Desejamos que 2010 seja um ano pleno de realizações para você e toda a sua família. Feliz Ano Novo!!

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