sábado, 30 de outubro de 2010

Editoria Caleidoscópio Baiano

SÉRIE MÍDIA E ELEIÇÕES - SEGUNDO TURNO PRESIDENCIAL

Hoje, publicamos o último artigo da série a poucas horas do resultado final das Eleições Presidenciais 2010. Ele traz o testemunho da responsável pela editoria Caleidoscópio Baiano, Claudia Correia, sobre conjuntura política, da qual viveu até hoje. Para ela “Política passa por nós, por nossa identidade, sonhos, projetos.”

Muitas análises foram feitas em profundidade pelos outros articulistas, como expressou entre os blog-amigos. Assim, optou pelo resgate da Política do cotidiano, das nossas impressões, sentimentos e vivências, que são muito importantes, para a construção de uma nova ordem societária, sem dominação-exploração de classe, etnia e gênero.

Seu voto é por Dilma Rousseff e ela explicita o porquê de sua opção.


Um abraço,

Equipe Blog Mídia e Questão Social
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Papo de mesa de bar sobre Política


Claudia Correia *


Sempre me identifiquei com a Política. Desde muito cedo percebi que ela está inteiramente vinculada à nossa vida, em todos os níveis das nossas relações porque vivemos com base em pactos, acordos onde os interesses em conflito devem ser explicitados. Neste território de contraditórios, aprendemos desde criança que o mundo é feito de gente diferente, tratada como desigual pelas instituições, e de muitas contradições. Através da Política percebemos o nosso papel na sociedade, o nosso lugar neste mundo de diversidades e de desigualdades e principalmente a importância de lutarmos por princípios caros como Liberdade, Justiça, Igualdade, Democracia e tantos outros. Descobrimos cedo que o Estado Democrático de Direitos custa muito para ser conquistado e que as grandes revoluções passam por processos de educação e por todos os espaços de sociabilidade.

Na Política temos um campo fértil para reflexões e práticas de atores sociais. Mas, precisamos entrar em cena para, com coerência, desempenhar o papel desse personagem , o “ser político”, mediador, articulador, negociador, líder de processos de transformação, incluindo todos os estilos, dos mais autoritários aos mais democráticos.

Sempre desconfiei de quem diz que não é político e só atua como técnico ou observador da cena social, que abomina a política, que vota nulo ou que torce lado a lado com a turma do “quanto pior, melhor”. Tenho muitos amigos que se dizem anarquistas, outros que votam nulo para protestar, “marcar posição” e conheço bem tantas outras expressões de participação política. Quem escolhe o Serviço Social e o Jornalismo como eu não pode assistir da janela a vida passar.

Política é tema para mesa de bar, auditórios acadêmicos, cama de casal ( e de solteiro, incluindo motel e festa), sindicatos, ambientes de trabalho, escola e todos os espaços de reflexão sobre nossos projetos de vida e sobre os projetos societários. O projeto ético-político-profissional do Serviço Social aponta para uma sociedade sem exploração ou dominação de qualquer natureza e ao lutar por esta utopia assumimos a dimensão política de nossa presença neste mundo que globaliza a pobreza e privatiza os direitos sociais.

Tenho dúvida se a eleição é a verdadeira festa da Democracia, clichê muito usado na mídia oficial. Nem sei se o voto devia ser obrigatório ou facultativo como em alguns países. Só sei que adoro votar em qualquer circunstância, sempre escolhendo quem me (nos) represente melhor, simbolize princípios caros, que sempre defendi. Já atuei de mesária e presidente em seções eleitorais com o maior gosto, apesar do domingo de sol convidar para uma praia regada a acarajé e cerveja....

A Política está no nosso cotidiano, o funcionamento das instâncias de governo afeta diretamente nossas vidas, os direitos só são conquistados com pressão e engajamento coletivo, a gestão pública pode e deve ser participativa, o “festejado” orçamento participativo e os conselhos de direitos podem representar avanços. Enfim, não dá para se excluir da discussão provocada pelo processo eleitoral já que está em jogo modelos de governar, princípios éticos, métodos administrativos e acima de tudo projetos societários.

Desde estudante, na década de 80, procuro participar de debates, me envolver, conhecer teses e projetos de grupos distintos. Nesta fase tive pavor de partido político, considerava um atraso e não compreendia bem o “fogo amigo”, as diversas facções em disputas internas e nunca tolerei aparelhamento de entidades sindicais ou sociais por partidos políticos de qualquer tipo. Militei em uma organização não governamental – Associação Nacional de Ação Indigenista logo que entrei para os cursos de Serviço Social (UCSal) e Psicologia (UFBa). O contato com o trabalho de Educação Popular inspirado na obra de Paulo Freire e a atuação com as comunidades indígenas Kiriri, Pankararé e Pataxó, na Bahia me fizeram optar pelo Serviço Social. Estas questões ligadas à Reforma Agrária e a Política Indigenista passaram a ser um dos critérios para meu posicionamento político nos processos eleitorais de lá para cá.

Já profissional, em 1984 passei a me interessar mais por Política, passei a atuar na Câmara Municipal de Salvador e conviver de perto com os bastidores do jogo partidário, a elaboração das leis, a força da pressão popular por leis que atendam às demandas populares. Em 1992 conheci o então vereador Walter Pinheiro, que presidiu a Comissão dos Direitos da Mulher da Câmara, através da qual conquistamos muitos avanços em Salvador na ampliação de direitos, na criação de serviços de assistência à mulher e no aperfeiçoamento de leis. Pinheiro (PT) cumpriu 4 mandatos de deputado federal pelo PT e acaba de se eleger senador com 3.630.944 votos juntamente com Lídice da Mata (PSB), a primeira mulher senadora da Bahia, prefeita de Salvador quando ele era vereador. Nesta fase, mudei minha concepção sobre partidos políticos e intensifiquei minha militância política, enriquecida com a experiência à frente do Conselho Regional de Serviço Social da Bahia (90-93) e do Conselho Federal de Serviço Social (93-96). Conheci a experiência da Prefeitura de Pintadas, no sertão baiano, liderada por Neusa Cadore (PT), hoje deputada estadual no segundo mandato. Tive a oportunidade de exercitar muitas das minhas reflexões no Mestrado em Planejamento Urbano (UFRJ) através dos avanços obtidos com a intensa participação da população deste município, premiado nacionalmente pelos serviços de excelência implantados e pelo impacto social.

Votei em Lula em todas as eleições. Nunca dependi da Política para sobreviver profissionalmente e cultivo meu senso crítico e minha independência diante de qualquer governo.

Em 1995 filiei-me ao Partido dos Trabalhadores, mas nunca tive uma participação muito atuante, reservando-me a uma discreta presença em defesa de teses e propostas técnicas para as Políticas Sociais, elaborando propostas de projeto de lei para criação de conselhos e fundos de assistência social, criança e adolescente. Procuro manter minha visão crítica, minha autonomia diante de grupos e tendências.

Nunca investi muito em minha formação política na perspectiva mais teórica, filosófica. Na hora do voto, sempre tentei ter coerência, analisar o cenário social e econômico mundial, nacional e local com cuidado, sob a ótica dos movimentos sociais.

Compreender as contradições presentes nos partidos e movimentos sociais me ajuda a quebrar a lógica maniqueísta que costuma se expressar no senso comum. Condeno a “demonização” dos movimentos sociais promovida por parte da mídia vendida ao sistema de poder dominante, mas não tolero o “endeusamento” de práticas sociais como se fossem dogmas. Tenho convicção que os dois governos Lula deixaram de agir efetivamente diante de questões prioritárias para o povo brasileiro. As Políticas Fundiária, Ambiental e Indigenista foram tímidas, com ações pontuais, de efeito midiático, mas não enfrentaram com determinação as forças políticas conservadoras, aliadas do patrimonialismo retrógrado que nos envergonha diante do mundo. O Estatuto da Igualdade Racial só foi aprovado devido à pressão dos movimentos organizados. Uma profunda sensação de frustração me abateu nesta eleição. Esperava mais do governo que ajudei a conquistar, apesar de reconhecer que os indicadores sociais demonstram os avanços obtidos.

Vejam abaixo o panfleto que compara as realizações dos governos FHC e Lula e que circula na internet.




O Sistema Único de Assistência Social – SUAS que conquistamos através da Lei Orgância da Assistência Social ainda não está plenamente implantado. Aliás, quando nossas entidades de assistentes sociais lutaram pela LOAS na década de 90, o maior opositor neste processo de negociação com o Congresso Nacional para a aprovação foi o então Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Dá para confiar num líder de um partido que considera Assistência Social gasto supérfluo e que como um oportunista se diz pai do programa Bolsa Família?

Os dois governos Lula na minha visão avançaram no controle dos efeitos da crise econômica e na discussão sobre a Política Pública de Comunicação. Participei da Conferencia Nacional de Comunicação no ano passado e posso testemunhar o empenho do governo federal na aprovação de propostas historicamente defendidas pelos movimentos sociais, como o apoio às rádios comunitárias. Por outro lado, ainda não deram conta de temas urgentes que envolvem Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente, Transportes e Reforma Tributária.

No primeiro turno, motivada pela esperança de conquistar direitos não assegurados neste importante momento histórico da “Era Lula”, optei por Marina. Com o resultado divulgado, imediatamente defini pelo voto em Dilma e passei a acreditar que será a melhor opção na direção da consolidação democrática do país. Também me empolga a idéia de termos uma mulher presidente e a esperança de corrigirmos os rumos da Política de Assistência Social, ainda tímida. Mas o que me encoraja mesmo é sentir e ouvir quem faz campanha por Dilma com o coração e vivencia as transformações do Brasil, abrindo novas possibilidades de viver com dignidade.

Transcrevo as cartas que recebi por e-mail e guardei para conversar com os jovens que as escreveram, ligados ao Centro de Referência Integral de Adolescentes -CRIA onde trabalho agora. Lá encontro todos os dias, jovens, na maioria negros, que moram em bairros populares de Salvador e no semi-árido baiano que tecem suas vidas com muito mais fé no futuro, cheios de sonhos, usando a Arte-Educação como instrumento de afirmação de seus direitos. Eles bem sabem que o Brasil pós-Lula mudou e espero que Dilma possa ouvi-los também.

Amigos e amigas,


Amanhã viajo para votar na Zona 075, seção 039, do Grupo Escolar Góes Calmon no município de Santa Inês-BA, minha cidade natal.
Venho por meio deste instrumento pedir, no próximo dia 31, o voto em Dilma Rousseff, 13, a candidata que representa a continuação de um projeto iniciado pelo presidente Lula. Acredito muito que ela poderá fazer mais pelo Brasil. Tenho muita fé na continuidade de um governo que fez com que o equivalente à população da França pudesse sair de uma condição de miséria, tendo acesso a pelo menos 3 refeições por dia; acredito num governo que, com todas as críticas que se possa fazer a esse respeito, aumentou o poder de compra dos brasileiros e brasileiras; acredito num governo que criou vagas de empregos para o equivalente a uma população do Equador; que manteve uma política social necessária e que dialogou com diferentes campos da sociedade civil organizada - Associação de catadores de papel, Movimentos de trabalhadores rurais sem-terra, sem-teto, Sindicatos, entre outras. Sem contar os investimentos no ensino superior com o REUNI, a princípio mal interpretado por muitos, inclusive por mim; investimentos no ensino técnico com a agregação e ampliação dos antigos CEFET's, hoje IFET's; além de qualificar a estima da população que, hoje, acredita em seu país. E é por acreditar no Brasil e por não querer vê-lo perder tudo isso que votarei Dilma presidente 13.
Recomendo a todos que concordam comigo que escrevam a seus amigos e peçam o voto em Dilma 13, no próximo domingo.
Para o Brasil seguir mudando! É Dilma presidente!
É 13, confirma!
Beijo a todos e todas
Gessé Almeida Araújo, 22 anos,
o filho do oleiro Biminha e da professora Jaci.


Querid@s


Neste final de campanha meu coração de brasileiro, de artista, de educador e sonhador bate forte. Sinto isto porque olho para o caminho que eu e muitos amigas e amigos trilhamos. Caminhos cheios de sucessos, de oportunidades que, com certeza, foram possíveis por conta de uma nova organização que assumiu o nosso País em 2002. Estou falando do governo Lula, que foi feito por Lula e por uma grande equipe que esteve ao seu lado.

Como adolescente periférico parecia difícil terminar o segundo grau: Terminei!
Como jovem periférico parecia impossível ingressar e concluir uma universidade pública: ingressei e terminei!

Como jovem/adulto que sou hoje, as perspectivas de emprego, de qualidade de vida, de oportunidades eram muito poucas: hoje posso afirmar que estou cada vez mais conquistando espaços e contribuindo para a construção de uma nova sociedade.

O melhor de tudo é que este não é privilégio só meu. Posso fazer aqui uma lista de nomes de jovens/adultos que estão em ritmos parecidos com o meu. Gente, isto é política, isso é conjuntura de um País que mudou, que está mudando.

E posso falar também de adolescentes que encontro a cada dia, sonhando e vendo possibilidades aparecer. Ainda não é o ideal, mas é infinitamente melhor do que em outros tempos.

Eu estou escrevendo estas coisas porque, nestes dias, senti um frio na barriga só de pensar na possibilidade de interrupção deste processo. De ver tantas conquistas retrocederem, de imaginar que o Brasil pode caminhar numa direção onde, nós, os negros, periféricos, gays, nordestinos, mulheres, índios e minorias seremos descartados dos planos do planalto.

NÃO! NÓS NÃO PODEMOS FICAR CALADOS!

Quero convidar você a votar, mais do que em candidatos, votar num projeto de futuro para o nosso País.

Por isto, no dia 31, com coragem e sem dúvidas eu vou marcar 13!

Eu te convido a fazer o mesmo. Votar nulo neste momento é correr risco, é entregar o ouro, é fazer o jogo que a mídia suja quer. Eu sei que votar nulo é se posicionar, mas tenho certeza que neste momento não podemos ficar vulneráveis aos riscos de um grupo com intenções perverso.

Quero ainda te convidar a ver o link que segue aqui abaixo. Nele, Leonardo Boff, Chico Buarque, Marieta Severo, Marilena Chauí e tantas e tantos outros artistas e intelectuais se reuniram para dizer sim a Dilma. Eu me emocionei ouvindo Boff e quero que você tambem possa sentir e pensar sobre a nossa nação.



Forte abraço e confiante na vitória.

Bira Azevedo, 26 anos
Prof Teatro Casa do Sol
Coord. Arteducaçao Centro Educacional Santo Antonio/Obras Sociais Irmã Dulce
Coord. Comunicação da Rede Brasileira de Arteducadores (ABRA)
Coord. Comunicaçao da Associação Internacional de Teatro, Drama e Educação (IDEA)
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* Claudia Correia –Assistente social, jornalista, profª da ESSCSal, Mestre em Planejamento Urbano e Regional. Contato: ccorreia6@yahoo.com.br.


Muitas análises foram feitas em profundidade pelos outros articulistas, como expressou entre os blog-amigos. Assim, optou por nos trazer o resgate da Política do cotidiano, das nossas impressões, sentimentos e vivências, que são muito importantes, para a construção de uma nova ordem societária, sem dominação-exploração de classe, etnia e gênero.

Seu voto é por Dilma Rousseff e ela explicita o porquê de sua opção.

Um abraço,

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