SÉRIE MÍDIA E ELEIÇÕES - SEGUNDO TURNO PRESIDENCIAL
Entre os que escrevem para o blog há um perfil plural. Concordamos muito, mas não em tudo. Mas quando divergimos, é "sem perder a ternura" e pretendendo provocar reflexão, em nós mesmos e naqueles que nos lêem.
Resolvemos apresentar nossas análises e opiniões sobre o segundo turno no Brasil. Até dia 30 vão surgir outros artigos. Há grandes semelhanças: ninguém vota em PSDB/DEM por aqui. E há algumas diferenças. Só não vale ocultar o que motiva cada posição. Boa leitura!
Um abraço,
Equipe Blog Mídia e Questão Social
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Porque votei e vou votar na Dilma
Ou sobre a necessidade de revirar as entranhas e enfrentar os próprios monstros para perder o medo de ser feliz
Ana Lúcia Vaz*
Desde domingo, não tenho mais sossego no meu computador! São mais de 40 e-mails por dia, quase todos sobre as eleições. Entre eles, algumas provocações para que eu escreva também. Comecei, mas percebi que estava começando por coisas que já escrevi. É um trecho de auto-apresentação que fiz para o meu livro (ainda não publicado):
“Criança, a escola me ensinou a ter medo do governo. Mas em casa ouvia críticas à ditadura, o que provavelmente me ajudou a duvidar, desde cedo, do que se ensina em sala de aula. As professoras me obrigavam a nomear o presidente da República sem esquecer nenhum título: “Excelentíssimo Senhor Presidente General Emílio Garrastazu Médici”. Era de perder o fôlego! Dá para imaginar o prazer de chamar o presidente de “Lula”?
Sou da geração que teve o privilégio de viver a adolescência vendo o país entrar na puberdade. A democratização do Brasil nos pegou em cheio quando descobríamos o mundo. Foram tempos de muita manifestação, greve, passeata. De muita festa. Em 1982, participei do congresso de reconstrução da AMES (Associação Metropolitana de Estudantes Secundaristas), andei pela escola com estrelinha do PT para desafiar as velhas professoras condicionadas aos tempos da repressão que nós já desprezávamos, fiz boca-de-urna. Depois estive no comício das Diretas, fiz panfletagem nas praias durante as férias de verão. E me indignei com o Colégio Eleitoral que nos roubou o direito de escolher diretamente o presidente. A primeira vez que me senti representada, em Brasília, estava dentro do elevador da faculdade. Dois professores criticavam o PT por se abster na votação indireta que elegeu Tancredo Neves. Foi uma sensação maravilhosa. Alguém está lá fazendo o que eu gostaria de fazer! O Planalto pareceu mais próximo.
Em 1986, tranquei a faculdade para viajar pela Europa de mochila nas costas. Participei da primeira passeata italiana contra o bombardeio norte-americano sobre o Irã. Na Holanda, encontrei um grupo de latino-americanos da IV Internacional Comunista que me fizeram ler Marx. Fiquei chocada com a violência dos muros de Berlim. Atravessando a fronteira entre Tchecoslováquia e Áustria, tremi de medo da polícia “comunista”, tão parecida com nossos militares dos tempos da ditadura. Mas também babei de inveja dos universitários de Belgrado. Universidade funcionando 12 meses por ano, bibliotecas e restaurantes universitários maravilhosos. No “paraíso do consumo” de Zurique, na Suíça, tive dor de cabeça e náusea. Era atordoante. Já as ruas de Praga, livres de vitrines e outdoors, me pareceram um sonho. Ouvi histórias tristes sobre a juventude suíça que protestava sem saber por que, sobre os adolescentes alemães que se suicidavam aos montes. Vi, na Escandinávia, jovens caindo pela rua, alcoolizados. Fiquei indignada com a divisão de classes nos trens e navios “comunistas”, mais escandalosa que nos trens capitalistas.
Quando voltei ao Brasil, me filiei ao PT e mergulhei de cabeça no jornalismo e na militância.
Cansei de ouvir falarem do PT como “um sonho impossível”. E chorei de emoção, em cima de um andaime na esquina da Avenida Rio Branco com Presidente Vargas, olhando o mar de gente com bandeiras vermelhas no comício final da campanha eleitoral de 1989. A festa era alimentada por grandes sonhos. A marca daquele sonho é tão forte que, ainda hoje, meus olhos se enchem de água quando lembro a sensação de cantar com aquela multidão o refrão da campanha para presidente: “Sem medo de ser feliz”.
Não sei o quanto sonhávamos juntos, mas era sonho bom de sonhar e compartilhar nas festas-manifestações de todo tipo. Sonhávamos um mundo melhor. Sem miséria nem exploração, sem discriminação nem injustiça. Eu imaginava estar ajudando a construir uma sociedade capaz de “exigir de cada um conforme suas possibilidades e dar a cada um conforme suas necessidades”. Um mundo de seres humanos felizes e realizados.
As crises
Foto Ana Lucia Vaz - A Crise
Os anos 90 foram, lentamente, nos acordando do sonho. Alguns rebaixaram suas expectativas e se adaptaram à política do pragmatismo. Outros mudaram de partido ou de estratégias, mas continuam lutando por seus sonhos coletivos. Houve quem se recolhesse à amargura, culpando outros por suas dores. Para mim, foram tempos de descobrir como o medo de ser feliz está entranhado em cada um de nós, num nível muito mais profundo do que os movimentos políticos costumam tocar.”
Talvez eu seja um pouco do primeiro, um pouco do segundo grupo. Rebaixei minhas expectativas com a política partidária e saí do PT. Havia mudanças no partido me empurrando para fora. Mas essas mudanças me ajudaram a enxergar novos ângulos, rever crenças, duvidar de muitas – quase todas! – as verdades que sustentaram meus anos de militância.
E, então, também mudei de estratégias. O tesão pela vida continua no exercício cotidiano de transformação da humanidade, que também é a minha transformação. Não sei que estrutura econômica ou que leis regerão minha sociedade ideal. No máximo adivinho, meio no faro, o próximo passo imediato a dar.
Quando elegemos o Lula, fui pra Cinelândia encontrar os amigos. Tinha uma alegria enorme. Misturada a um vazio, um tumulto interno de sentimentos contraditórios. Lembro de alguns companheiros com olhares igualmente atordoados. Afinal, o que significava aquela vitória?
Em 2005, quando explodiram os escândalos do PT, passei mais de um mês lendo quase todas as revistas de notícias da semana e chorando. Chorava por meus amigos que ainda estavam por lá. Chorava minhas ilusões. Chorava a pequenez de um espaço que um dia sonhei tão grande. Chorava meus erros.
O vazio
Foto Ana Lucia Vaz - O Vazio
Em 2006, votei de novo no Lula, mas saí da urna com um nó na garganta e a boca do estômago apertada. Cenas superpostas em velocidade. Em cima do carro de som: “Eu quero, eu vou, votar pra presidente como fez o meu avô!”. Palanque de comício, fotografando o Lula. Piquete de greve geral. Comitê de campanha organizando boca de urna e fiscalização no segundo turno de 1989. Campanha na favela. Panfletagem de boca-de-urna. E agora, aquela rua vazia diante de mim. Nenhuma bandeira, nenhuma camiseta. Às vezes, um distribuidor de santinhos indiferente, profissional. Vazio profundo.
Vi muitos ex-companheiros recordarem essas imagens de militância com uma amargura assustadora. Entre o arrependimento e o desejo de aniquilar quem lhe roubou os sonhos. Como se o Lula, o Zé Dirceu, a Articulação ou sei lá quem fosse responsável por todos os erros. Eu não preciso mudar! Não tenho autocrítica a fazer. Eu estava certo e continuo certo. Eles é que estão errados.
De minha parte, não me arrependo nem me isento. Afinal, ajudei a construir esse partido, com o que ele tem de bom e de ruim. Entristeço de ver como não soubemos, e ainda não sabemos, lidar com a sedução das urnas e dos cargos de poder. Como somos capazes de nos afastar uns dos outros por diferenças tão insignificantes. Por mesquinharia e insegurança. Mas também me alegro pelo que vivi e aprendi. E, principalmente, pela minha parte de responsabilidade nas mudanças que o Brasil vive.
Outra realidade
Tem a redução da miséria. Tem a política mais nacionalista, que deve ter ajudado a mobilizar a mídia contra a Dilma, já que o que está em jogo, no próximo mandato, é o controle do pré-sal. Tem as posições progressistas no campo da moral, que agora ameaçam a eleição da Dilma graças à mobilização da paranóia cristã conservadora. Mas o que mais me mobiliza é uma mudança que senti, profunda, nos últimos tempos, em que voltei a acompanhar de perto os movimentos sociais. Nunca vi tanto pobre organizado nas manifestações públicas!
Foto Ana Lucia Vaz - Moradores de favelas e ocupações urbanas protestam
em frente à Prefeitura (30 de abril de 2010)
Nos anos 80, quando eu dirigia passeatas estudantis e me enfiava nas outras, eram passeatas de classe média. A gente reivindicava liberdades democráticas. E ainda se aventurava a falar pelos pobres. Hoje, desconfio que a classe média está negociando diretamente com o poder. Ou, como preferem alguns, está cooptada. As duas coisas devem ser verdade.
Mas, pelos pobres, começam a falar eles. Finalmente estão se desmontando alguns dos mecanismos mais perversos de poder que é a desautorização da fala. O jornalismo empresarial se desespera e eu pulo de alegria!
Foto Ana Lucia Vaz: Os manifestantes também
garantem a cobertura do ato
Isso não é obra de um governo, mas do processo de democratização do país, ainda muito incipiente se comparada aos meus sonhos, mas monumental, se comparada à realidade em que cresci. Não creio que a eleição do Serra levaria tudo por água abaixo, porque não somos mais o Brasil que FHC governou. Mas sei que a política cultural do governo Lula, o investimento pesado do Estado e da Petrobras em comunicação popular e outros projetos sociais, os compromissos do governo com emprego, salário e outras demandas populares ajudou e muito!
Não tenho dúvida de que a Dilma tem mais compromisso com esse perfil de país que o Serra. Há uma diferença profunda entre quem negocia e concede demais à elite e quem a representa.
Por isso vou fazer campanha pela Dilma. E, no dia seguinte, contem comigo para as manifestações que precisam pressionar o governo para avançar.
Meus sonhos não cabem nas urnas
Votei na Dilma já no primeiro turno. Voto pragmático, diagnosticou um grande amigo. Estava certo. Não porque eu vote em função da maluquice das pesquisas de opinião. Mas em função do que me parece real. Ou realista. Não acredito em revoluções via eleitoral. Nem sei se acredito em revoluções, mas eleição – como já disse o Jefferson aqui neste blog – é espaço limitado, controlado pelo poder econômico, nada representativo, pouco democrático etc.
O único candidato que prometia coisas mais interessantes que a Dilma era o Plínio, do PSOL. Mas não acredito que a vitória do Plínio seria melhor para o país. Porque o PSOL não parece preparado para ser um governo muito diferente do PT. Hoje, o PSOL é muito diferente do PT de hoje. Tanto quanto está longe de chegar à Presidência. Isso não é uma questão apenas das urnas, dos eleitores. Isso se reflete na discussão interna do partido, nas estratégias, nos discursos, no programa e até na escolha dos nomes. Acho que o PSOL é a melhor oposição que temos. Por isso, votei em seus parlamentares. Mas, a tomar pelo que me mostra hoje, não vejo nada que me faça acreditar que está preparado para fazer um caminho muito diferente do PT em direção ao poder.
Comecei a sair do PT numa reunião interna da minha tendência, nos anos 90, em que discutíamos os problemas criados dentro do gabinete de um deputado eleito por nós. O embate se dava entre a maioria da direção, que havia assumido o controle do gabinete, e a base da tendência. De todos os lados, as intervenções tinham a mesma marca: procurar, fora, os culpados pelo fracasso. Bem de acordo com a dinâmica reacionária da política partidária, ninguém se mostrava disposto a olhar os próprios erros, as próprias dificuldades e ilusões. A sensação era que, se a realidade me desilude, a culpa é da realidade, não das minhas ilusões!
Também não vi o PSOL fazer uma autocrítica a partir do que se deu com o PT. Vi militantes, aqui e ali, muito timidamente. Ouvi outros afirmando em alto e bom som que não têm autocríticas a fazer. Do partido, não vi nenhuma manifestação pública. Pelo contrário, no início da formação do PSOL, o primeiro papel que me chegou à mão, chamando para uma manifestação, tinha o velho tom das intervenções que eu ouvi naquela reunião da minha tendência: “eles são os maus, nós os bons!”
E, nisso, a política é como o casamento. Se não aproveitamos a crise para revirar as entranhas até achar nossos próprios monstros, podemos até nos separar. Mas o próximo casamento, mais cedo ou mais tarde, chegará à mesma encruzilhada.
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* Ana Lúcia Vaz – jornalista, mestre em Jornalismo (USP), membro da Rede Nacional de Jornalistas Populares (http://www.renajorp.net) , professora de jornalismo e terapeuta craniossacral.
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Links
Uma lista com 11 blogs para preparar o segundo turno
1. Blog do Nassif - http://www.advivo.com.br/luisnassif/
2. Vi o Mundo - http://www.viomundo.com.br/
3. Blog do Rodrigo Vianna - http://www.rodrigovianna.com.br/
4. Tijolaço, de Brizola Neto - http://www.tijolaco.com/
5. Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim - http://www.conversaafiada.com.br/
6. Biscoito Fino e a Massa, de Idelber Avelar - http://www.idelberavelar.com/
7. RS Urgente - http://www.rsurgente.org/
8. Diário Gauche - http://www.diariogauche.blogspot.com/
9. Cloaca News - http://www.cloacanews.blogspot.com/
10. Carta Maior - http://www.cartamaior.com.br/
11. Dilma na Web - http://www.dilmanaweb.com.br/
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Querida que lindo o seu texto! Gostei muito e vou repassar...
ResponderExcluirMuito do que você traz e revive soma a questões, conflitos e tensões que eu e sei que outros vivem. Eu continuo no PT, não sei até quando, pela certeza de que não temos caminho fácil a seguir. Como disse uma amiga que hoje não está mais no PT ainda não temos um espaço que represente a crítica ao muito que ainda está errado e a defesa dos acertos. Eu somaria a essa idéia a sua brilhante defesa da autocrítica.
Como professora de sociologia e por meus alunos saberem que estou no PT, o mensalão foi um momento difícil, mas de bons debates em sala de aula. Debates que sempre reaparecem com Erenices... Essa mesma amiga cunhou uma frase muito interessante "detesto os limpinhos!". É muito fácil tratarmos a corrupção e a ética a partir da separação entre "limpos" e "sujos". O pior é descobrir que muitos "limpos" são "sujos". É hipócrita em um país (e é claro que esse não é “mérito” só nosso) que cotidianamente vive a corrupção, seja pela total ausência de serviços, o que leva a população a ter que negociar qualquer coisa e usar de todos os possíveis "conhecimentos" para salvar um filho na fila de uma emergência, seja pela nossa cultura da lei do Gerson que infelizmente prevalece em coisas pequenas e grandes de nosso cotidiano. Acho que o caminho dessa mudança não é simplesmente relegar à política a culpa pela corrupção. É uma cultura política que temos que construir em casa, na escola, nas ruas, na luta por grandes transformações econômicas e sociais, que construa a certeza do que é público e, portanto, de e para todos, e o que é privado e, portanto, menos importante que o publico.
Mas sou otimista! Acho que temos "salvação", rs.
Concordo plenamente com sua análise sobre Dilma e Serra. E mais, acho que o que estamos vivendo em algumas áreas, a universidade pública é um exemplo, representam sim transformações extremamente importantes que podem de fato contribuir para as mudanças que queremos e precisamos.
Por isso voto em Dilma!
Estou em campanha!
Beijos
Elisa
Adorei seu comentário, Elisa!
ResponderExcluirMuito gostosa a sensação, neste momento, de um reencontro com o que construímos de melhor nos tempos de militância.
super abraço!
Querida professora, obrigada por me permitir essa aula, mesmo a 10 mil milhas de distanca. Me senti, de novo, em uma sala de aula ouvindo vc falar, e babando, sobre "como foi bom sonhar aquele sonho". Continuo lamentando o fato de minha geracao, apatica, nao se encontrar na Cinelandia para comemorar ou lamentar nada. Talvez eu nunca possa chorar de emocao ao ver, "do alto de andaime na esquina da Avenida Rio Branco com Presidente Vargas, olhando o mar de gente com bandeiras vermelhas no comício final de uma campanha eleitoral". Nem sei se todos entendem quando chamo alguns amigos mais idealistas de "companheiros". Tambem nem sei se isso eh bom ou ruim...
ResponderExcluirNao votei na Dilma ou qualquer um. Nao transferi meu titulo para Chicago. Talvez me arrependa por isso... ou nao.
Estou com medo. Sinto que a possibilidade de jamais sonhar esse sonho bom eh cada vez mais real.
Sensacional seu texto, Anita! Parabens e obrigada!
Amanda Pinheiro
Acho que uma das melhores sensações da vida é a de pertencimento. É estranho, mas me senti "cabendo" nas suas linhas. Não porque vivi as mesmas experiências, mas por lembrar que não estamos sozinhos! =) Obrigada por isso, Ana!
ResponderExcluirSaudades da sua pessoa! =))
Beijos!
Cara Ana Lucia,
ResponderExcluirRecebi teu texto através de Elisa e gostei muito! Identifiquei-me com tuas razões e emoções... Acho que temos o direito e o dever de seguir caminhando, votando, defendendo, protestando e fazendo a necessária auto-crítica para construir um país mais justo.
Acima de tudo, acho que gente de esquerda tem que ter a mente e o coração em sintonia com os trabalhadores, em especial com os que percebem a desigualdade e se mobilizam para lutar contra ela. Recebi nas últimas horas vários manifestos dos movimentos sociais com os quais tenho mais proximidade, do campo e da cidade, e TODOS estão com Dilma... não sem fazer as necessárias críticas, é claro!
Estamos em campanha!
Um forte abraço,
Flávia
AMANDA querida!
ResponderExcluirEspero que esteja aproveitando MUITO os estudos por aí. Veja: é uma faca de dois gumes. Nós tínhamos mais unidade por falta de liberdade.
Você talvez nunca viva a alegria do mar de bandeiras. Mas o mundo de hoje, na minha opinião, oferece outras, menos espetaculares, mas mais plenas e profundas.
Como disse a FLORA, outra grande e admirável ex-aluna, trata-se do sentido de pertencimento. Que continua possível. Não mais através de identidades tão absolutas que possam ser representadas por uma única cor. Mas que podem ser mais suaves, cordiais e libertárias, como as que unem o coletivo centopéia, que sustenta este blog.
Não se iluda, havia muito dor, também, por trás das bandeiras.
Mil beijos às duas!
Ana Lúcia e turma do Mídia,
ResponderExcluirrealmente vocês estão provocando, provocando... Achei o artigo de Ana lindo e me vi em muitas das situações históricas, algumas delas vividas juntas. Queria dizer que votei no Plínio no primeiro turno, menos pelo PSOL e mais pela bela e coerente trajetória dele como lutador social, pelo esforço que fez do alto de seus 80 anos para demarcar que existe uma oposição de esquerda ao neoliberalismo seja na sua versão mais agressiva -Serra- seja na sua versão light e até em alguns aspectos com ares de neodesenvolvimentismo. O fato é que há diferenças, mas há muitas identidades, a exemplo da intocável estabilidade econômica. Essa oposição à esquerda tem muitos limites, mas quis marcar posição. Vamos levar muitos anos para reconstruir um projeto societário alternativo no Brasil após o transformismo lulista. Mas escrevi um livro inteiro para mostrar o que o projeto do PSDB/DEM fez com o Brasil, a herança destrutiva da contra-reforma deixada por FHC. As regras do jogo permitem um primeiro e um segundo turno o que implica em fazer escolhas neste momento. O moralismo pseudo religioso de Serra (a exemplo da sua posição sobre o aborto) escamoteia sua hipocrisia e seu efetivo projeto -provavelmente fazer a burguesia brasileira e especialmente paulista navegar em céu de brigadeiro por mais quatro anos, mais à vontade que com Lula. Enfim, por essa razão, votarei em Dilma no segundo turno... mas não me peçam para fazer campanha...
abraços,
Elaine Rossetti Behring
Hahaha!!! Querida! Já era! Já fez! Já tornou público um ótimo motivo para votar na Dilma. Essa é a minha campanha, também. Não espere me ver distribuindo panfletos na rua.
ResponderExcluirValeu o cometário público!
Super abraço!
Querida Ana,
ResponderExcluirConfesso que não votei na Dilma no primeiro turno e admito que isso se deva, em grande parte, a minha visão ainda romantizada e até ingênua do que é ser esquerda e do próprio PT.
É verdade que já estava tendendo a votar na Dilma no segundo turno. Afinal, votar no Serra seria ainda mais agressivo para o meu ideal, este cada vez mais adormecido em mim. Porém, seu texto tornou ainda mais clara essa escolha. E menos dolorosa.
Um passo a mais para frente, mesmo que não seja do tamanho que nossos sonhos ousam projetar, é sempre a melhor opção. Retroceder, nunca! Obrigado, Ana!
Diego querido,
ResponderExcluirarrepiei de felicidade lendo sua mensagem. Vivemos um momento confuso, de decisões difíceis e identidades duvidosas. Sua geração encontrou desafios bem mais complexos que a minha. O que alimenta minha alegria e esperança é ver como vocês vão aprendendo e me ensinando elos bem mais sutis e profundos que nos unem, não sob uma mesma bandeira, mas sob um mesmo senso de humanidade.
Um super abraço!
Ana! Que preciosidade de texto!
ResponderExcluirEm meio a essa névoa de frustrações, decisões difícies e um emaranhado de campanhas eleitorais "camufladas", suas palavras aparecem como um clarão. Clarão de identidade, esperança, reflexão. Quanto mais transparente é um discurso, quanto mais explícitas são suas intenções, mais esclarecedor ele o é. Daí o brilho do seu artigo.
Como é bonito e contagiante perceber sua "reinvenção" para continuar com o entusiasmo de fazer campanha pelos seus sonhos. Que eles permaneçam gigantes, querida!
Beijos,
Lívia
Lívia,
ResponderExcluirvocê tocou O PONTO. Acho que todo o meu exercício de aperfeiçoamento no trabalho jornalístico passa por aí: a busca da transparência do discurso. Algo que vai no sentido oposto ao que sugerem os manuais do jornalismo. Nos manuais, aprendemos a simulação de neutralidade que oculta o sujeito.
Acredito que o compromisso com a verdade só pode ser cumprido se falarmos a partir da única verdade que podemos acessar, que está dentro de nós.
Fico muito feliz de estar conseguindo evoluir neste sentido.
Obrigada por mais esta lição.
Beijos