DESAFIOS DA INCLUSÃO SÓCIO-DIGITAL
Claudia Correia
De 15 a 17 de março, acontece em Salvador a III Conferência Estadual de Ciência e Tecnologia, com a participação de cerca de mil delegados. Promovida pela Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação -SCTI, a conferência traz como tema central “Ciência, Tecnologia, Inovação e Sustentabilidade Ambiental”.
No discurso oficial por aqui predomina a tese de que “a Bahia só conseguirá reduzir as desigualdades sociais e oferecer melhores condições de vida a todos os baianos se conseguir alcançar um grau de desenvolvimento sustentável, com equilíbrio ambiental e o emprego de ciência e tecnologia como ferramentas inovadoras e de inclusão.”
Esta propagada “inclusão sócio-digital” tem sido o carro chefe de muitos programas governamentais, em todas as esferas. Na era das novas tecnologias da comunicação e das antigas desigualdades sociais, este é de fato um tema relevante. Por outro lado, ainda não percebo resultados efetivos ou mesmo uma articulação entre ações de políticas públicas setoriais afins como Educação, Trabalho, Assistência Social, Cultura e Saúde. O desafio de reverter os péssimos indicadores sociais na Bahia e no Brasil requer mais do que discursos bem intencionados. Orçamento, avaliação e monitoramento de resultados, controle social e intersetorialidade são fundamentais para a eficácia de programas nesta área.
Na Bahia foram implantados mil Centros Digitais de Cidadania-CDC, espalhados nos 417 municípios. O programa possibilita uma média de sete milhões de acessos à internet por ano e é considerado pelo governo estadual estratégico para democratizar o acesso à comunicação. Os CDCs utilizam softwares livres desenvolvidos especificamente para atender às necessidades do programa.
Em tese, ele prioriza jovens e estudantes, que somam 84% dos usuários. A maior demanda é o suporte para atividades escolares sendo que 93% dos estudantes são da rede pública.
Os centros são implantados em parceria com instituições públicas ou da sociedade civil organizada. A implantação dos CDCs é de responsabilidade da SCTI através de recursos próprios, do Ministério da Ciência e Tecnologia, emendas parlamentares e do Fundo de Combate à Pobreza do Estado da Bahia, entre outras fontes.
Tenho acompanhado o funcionamento de um CDC em Salvador e o que mais me chama atenção é a desarticulação entre o governo e a sociedade local. A manutenção dos equipamentos é falha e burocrática, a divulgação através da mídia dos serviços disponíveis é tímida, os recursos humanos insuficientes e capacitados numa lógica mais administrativa do que pedagógica, a rede de ensino público não acessa os centros porque falta informação, motivação e recursos didáticos. A capacitação dos professores para utilizar as ferramentas tecnológicas nas atividades pedagógicas ainda é limitada e não há articulação entre os atores envolvidos incluindo gestores públicos, conselhos de direitos e organizações não governamentais.
A situação das escolas públicas que visitei para divulgar e dinamizar este CDC, no Centro Histórico de Salvador, é lastimável: infocentros sucateados ou sub utilizados , equipamentos obsoletos, ausência de aplicativos e recursos midiáticos modernos e principalmente falta de respaldo por parte das Secretarias de Educação para a execução de projetos de extensão comunitária. Nos Centros de Referência de Assistência Social –CRAS do estado até onde eu sei não há interlocução com o tal programa de inclusão sócio-digital.
Como assegurar inclusão sócio-digital neste cenário caótico? A quem interessa reproduzir a exclusão digital? Para que e para quem serve esta inclusão? O que fazer pelos (e com) os analfabetos, inclusive os digitais? São questões que devem nortear ações responsáveis nesta importante política pública, para além de discursos de ocasião em eventos para alimentar a mídia servil.
Claudia Correia, assistente social, jornalista, profª da ESSCSal e Mestre em Planejamento Urbano. Contato: ccorreia6@yahoo.com.br
Parabéns pelo curto e preciso balanço da questão da inclusão digital na Bahia (apenas um exemplo do que deve suceder também Brasil afora). Fico impressionada com a falta de "cuidado" para com as novas gerações! Constata-se nesse retrato feito por Claudia a desarticulação entre as politicas sociais, enquanto isso os "riscos" se articulam. Não é demais imaginar que esse descaso soma mais dia menos dia para a produção subjetiva e real de meninos desesperançados (outros Ezequiel), porque sem paixão pelo futuro, ou apaixonados alienadamente, porque preocupados apenas com eles mesmos. Mas quem se preocupou, de fato, publicamente com ele(s)? Fica a questão, que pretende rimar tecnologia com educação e cidadania. Grande abraço, Mione*
ResponderExcluirparabens!!!
ResponderExcluircom certeza é necessario uma melhor capacitação aos professores e proficionais que atuam na area e é impresindivel uma fiscalização rigida da aplicação dos recursos, pois quase sempre, não são bem gerenciados
abraço
erico