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quarta-feira, 28 de maio de 2014

Editoria Web@Tecno - Ano 04

A METAMORFOSE DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL
Quando as redes sociais são as coadjuvantes

                                                                                          
  Foto Google - Passeata na Av. Presidente Vargas, no Rio de Janeiro, em 17/06/2013, 
com mais de 100 mil manifestante.

                                                                                                                                               

                                                                                                                                      POVO NOVO 


                                                                                                                                     "A minha dor está na rua

                                                                                                                                     Ainda crua

                                                                                                                                     Em ato um tanto beato, mas

                                                                                                                                     Calar a boca, nunca mais!

                                                                                                                                     O povo novo quer muito mais
                                                                                                                                     Do que desfile pela paz(...)

                                                                                                                                     Já me deu azia, me deu gastura
                                                                                                                                     Essa politicaradura

                                                                                                                                     Dura,

                                                                                                                                     Que rapa-dura!"

                                                                                                                                                                  Tom Zé

*Nelma Espíndola
                                                                                                           

O mês de junho de 2013 marcou um novo tempo na dinâmica do povo brasileiro em se fazer ouvir. O cantor e músico Tom Zé em sua composição O Povo  Novo,  música feita para esse movimento de protesto diz: "O povo novo quer muito mais / Do que desfile da paz". Trata-se de uma expressão significativa de rejeição a algumas práticas reformistas, que desejam calar as vozes dos que superaram a alienação em fazer valer os direitos sociais. Já vimos muitas vezes, em momentos de tensão política, essa prática ser utilizada por quem tem o poder instituído, quando do exercício de representatividade conferido pelo voto.  Mas é preciso que se entenda que a escolha e legitimação desse poder se situam numa relação entre ética e política, e se estendem do mesmo modo na vida social e profissional de todos os sujeitos sociais.

No contrafluxo do poder, o povo se reveste do direito à rebeldia contra as práticas políticas impostas pelos que o governam. Suas ações contestatórias vão, assim, se espraiando em meio a um cenário de reivindicações e exigências “de um povo heroico”, com seu “brado retumbante”. Brasil, o “gigante deitado em berço esplêndido”, que acorda na primeira década da Nova Era e não quer mais deixar de ser partícipe das decisões da sua história, e luta por plenos direitos sociais e políticos.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Editoria Volta do Mundo, Mundo dá Volta

DIANE ARBUS e PAULA RÊGO -
HUMANAS, DEMASIADAMENTE HUMANAS
Fotografia e pintura numa sociedade saturada de imagens




Mione Sales*

      e
Maurílio Matos**
COLABORAÇÃO 


Aqui no Blog Mídia e Questão Social discutimos Comunicação e Cultura, com viés na política, na educação e também na arte. Profissionais da área social e jornalistas, interessamo-nos pela maneira como os sujeitos sociais, a mídia, grande e pequena, e nós próprios comunicamos nossos assuntos. Não basta, pois, apenas escrever. Não basta apenas fotografar. Não basta apenas divulgar. Não basta apenas difundir imagens. Deve haver atrás de cada gesto e iniciativa dessas uma reflexão, voltada a suscitar outras e a multiplicá-las, de acordo com os princípios que nos orientam.

Se pertencemos ao grande campo da esquerda, poderíamos estar todos de acordo, mas não. Temos diferenças justamente de olhar, de enfoque, de intensidade e também de radicalidade ao registrarmos nossas opiniões e manifestarmo-nos contra ou a favor de alguma medida governamental ou proposta dos diversos atores em disputa na sociedade civil. Podemos, por vezes, também estar de acordo no conteúdo, mas divergirmos na forma, o que pode parecer pouco, mas não é. Somos portadores e educadores de uma nova sensibilidade, ou se preferirmos de uma nova ética e utopia. Portanto, como dizemos e ilustramos integram batalhas discretas, embora fundamentais, de significado e de estratégia, travadas por vezes de maneira aberta e mais dura em outros campos da luta política.

Um dos debates polêmicos que integram historicamente os bastidores da comunicação e da política é o da instrumentalização da arte. Qual é o seu papel? Qual é o seu lugar? A arte se sobrepõe como linguagem à política, é dela autônoma ou deve servir apenas aos fins desta última? Há tantas opiniões a esse respeito como correntes artísticas e políticas, vocês devem imaginar. No entanto, nem por isso esse problema deve ser simplificado ou abstraído. Em tempos de luta mais aguerrida e revoluções, a relação entre arte e política é quase direta. Há belos registros históricos, inclusive no terreno da poesia e do teatro, em apoio à causa revolucionária, caso de Maiakovski e Bertolt Brecht. Noutros, belos cartazes que passado algum tempo mostraram-se como panfletos competentes de nossas ideologias, os quais sobreviveram inclusive a essas últimas. Lembramos especialmente de cartazes russos, cuja estética era, no fundo, mais interessante que a mensagem mecanicista que veiculavam a uma certa altura do estatismo stalinista. Nem o combalido realismo socialista foi capaz, porém, de apagar-lhe totalmente o brilho e a beleza.


 
Arte e questão social:
será possível escapar dos clichês?
Uma fotografia é um segredo de um segredo.
Quanto mais ela diz, menos se sabe ».
DIANE ARBUS

« Quanto mais somos precisos,
mais alcançamos o todo ».
LISETTE MODEL



Ao vivo ou virtualmente, tenho tido grandes conversas com amigos e companheiros de luta sobre a questão da arte. Há quem pense que devemos, sem meias palavras, chocar, surpreender o público. Outros pensam que a arte deve fazer pensar e portanto a mensagem nem sempre deve ser direta. Deve justamente requerer a participação de quem a vê para decifrá-la, entendê-la e senti-la. Tenho debatido ainda longamente com um amigo designer gráfico francês, Loïc Le Gall,  sobre como escapar das “armadilhas da facilidade » na hora de comunicar e criar. Diz ele com razão que temos uma responsabilidade em defender e lutar por aquilo que entendemos que deva ser a arte.






Certamente, vocês hão de ponderar, vivemos numa sociedade de massas em que a instrumentalização das imagens alcança níveis inimagináveis. As imagens consolidaram-se, é um fato, como mercadorias sob o capitalismo, que as vampiriza e esvazia de significados, produzindo e reproduzindo contradições políticas, culturais e subjetivas, como o narcisismo exacerbado e certo niilismo. O corpo é uma das principais vítimas desse comércio perverso, que tem que se ajustar a padrões rígidos, e vai se distanciando progressivamente do naturalmente belo, se quisermos resgatar duas noções importantes nesse debate: natureza e beleza. Acrescentaria o meu amigo, ainda, a questão da necessidade. Nem tudo o que comunicamos ou como comunicamos, tem ele razão, é necessário. Donde fechamos o círculo e voltamos ao começo dessa conversa: quem, o que, por que e como comunica?

Nesse debate, fico com Jacques Rancière, filósofo francês, que defende que a imagem deve nos convidar a pensar, logo exige uma abordagem e estratégias de comunicação singulares que suscitem e atuem na direção da emancipação do espectador. Associo à sua ideia uma outra, a da ética das imagens, sobretudo quando da necessidade de abordar o tema das imagens intoleráveis: reportagens de guerra, genocídios, chacinas, violência e outros, mas também bem mais próximo de nós: representações visuais da pobreza.

Esse apelo e responsabilidade com a qualidade e o teor dos conteúdos por ocasião da veiculação de imagens cabem tanto nos marcos de uma exposição individual ou coletiva, mas também no contexto do fotojornalismo e ilustração de revistas, cartazes, folders e outros materiais (audio)visuais. Como diria o nosso blog-camarada, o quixote Leandro Rocha, não basta apenas a liberdade de expressão. Esta deve primar por alguns parâmetros, o que é bem diferente da censura. Não operamos, portanto, uma cisão entre o ético e o estético.

Neste debate, o humor constitui, porém, uma bela exceção – não em matéria de qualidade, bem entendido! -, mas porque é um rebelde nato. De características em geral ateias, libertárias e suprapartidárias, ele ataca praticamente a todos os que se puserem no seu caminho. Logo, é impensável opor-lhe qualquer tipo de amarras. Ao mesmo tempo, o riso, a ironia, o bufônico e o carnavalesco situam-se no âmbito de uma lógica que é a do exagero e do surreal. Ninguém é obrigado a acreditar. O objetivo principal é a crítica e o divertimento. Não obstante, recentemente, tem aumentado a quantidade de protestos a artistas e peças de teatro, quando a religião – as mais diversas – é objeto de ataque. O jornal Le Monde realizou uma excelente matéria a esse respeito recentemente (ver link abaixo).

Mas voltemos ao tema que mais de perto nos interessa: como escapar aos clichês sobre a questão social? Como conseguir comunicar quando tudo parece nesse terreno já ter sido dito? Trafegamos num espaço de imagens sociais saturadas? E nesse caso, como fugir à tentação do sensacionalismo que habita quase que permanentemente os grandes meios de comunicação? Um exemplo concreto do que qualifico como excesso sensacionalista foi-me apresentado pela fotógrafa e também designer gráfica carioca, Márcia Carnaval, em suas reflexões sobre imagem e cultura. Trata-se de uma matéria de capa da revista Times, com uma afegã sem nariz. Carnaval publicou recentemente um artigo sobre o assunto, apoiada em Georges Bataille. A questão é: em que o mundo e os carecimentos humanos se enriquecem a partir da visualização de tal imagem? Nem sempre a melhor foto, assim, ao nosso ver, é aquela que deve vir em primeira página. Ela pode ser muito boa do ponto de vista técnico, mas nem sempre o será do ponto de vista ético e educativo. Fotógrafos, jornalistas e profissionais da área social podem se ver, assim, momentanemente em lados opostos.

Como resguardar, portanto, a dimensão histórica dos fatos e sua relevância social e política, por meio da publicização, logo via registro fotográfico e audiovisual, sem que isso intensifique a espiral sensacionalista e aprofunde ainda mais a erosão da esperança? Que tipo de representações queremos fortalecer? Se, como dizem alguns, há sempre uma dimensão subjetiva em nossas escolhas profissionais, literárias, artísticas, ou seja, o real é e pode ser também em alguma medida como o tingimos ou reinventamos. Logo, podemos, desde já, acenar com práticas culturais e uma perspectiva comunicativa, que sejam, a um só tempo, informativas, mas também poéticas e utópicas, com vistas ao outro mundo possível que aspiramos.

Alargar consciências pressupõe, sem dúvida, um cuidado com o que mostramos e como o mostramos. Dar a ver o mundo pela arte requer em geral projetos. Para tanto, quero ilustrar essa conversa com o trabalho de duas mulheres, ambas com distintos, embora igualmente densos, projetos de captação de momentos da vida de homens e mulheres. Uma é a fotógrafa americana Diane Arbus. A outra é a artista plástica portuguesa Paula Rêgo. A ideia é mostrar em que elas acrescentaram ao mundo, em matéria de crítica e humanismo, a partir de seu olhar; em que medida contribuíram para desalienar nossas mentes, ainda que por momentos tenham nos desafiado a ver o real e as pessoas diferentemente, isto é, por ângulos tão ásperos quanto inéditos.

O professor e assistente social Maurílio Matos, que me apresentou a artista Paula Rêgo, é nosso convidado e contribui com um pequeno texto, em que fala da importância da obra dessa artista na interrelação com temas candentes ligados à questão social.



Diane Arbus: a estranheza é uma forma de beleza



Passeio de domingo no Brooklin (1966)


« A primeira vez que eu vi Teresa
A cara dela parecia uma perna… »
MANUEL BANDEIRA


Está em cartaz no Museu Jeu de Paume (Paris), uma excelente exposição sobre a arte fotográfica contemporânea de Diane Arbus (1923-1971). É a sua primeira grande retrospectiva na França. Olhos mais atentos, sem dúvida, vão se dar conta de já terem, em algum momento, pousado, ainda que rapidamente, sobre algum de seus principais trabalhos. Fui apresentada a ela, insisto, primeiramente pelas mãos de Jacques Rancière, num de seus livros, em que propunha uma leitura sobre a dimensão reflexiva das imagens fotográficas.

A primeira vista, as fotos de Arbus parecem fruto do puro investimento estético, pois, clicadas em preto e branco, transbordam bom gosto. Se olhadas em conjunto, porém, no quadro de uma exposição, logo nos damos conta de que a sensação de desvelo estético está ligada ao momento histórico em que foram tiradas: entre os anos 50 e começo dos anos 70. Aquelas décadas nos Estados Unidos fizeram história em matéria de vestuário e novos hábitos das classes médias urbanas, com seus padrões de consumo de massa.


Duas jovens em trajes de banho iguais (1967)



Diane Arbus, poder-se-ia dizer, segue ao pé da letra a filosofia de Caetano Veloso, quando diz que « de perto ninguém é normal ». Sua obra caracteriza-se de modo geral por retratos de pessoas, que ela vai flagrando nas ruas e bairros americanos, assim como em comunidades marginais e símbolos da contracultura: profissionais de circo, pessoas com transtornos mentais, grupos de nudistas, entre outros. O foco está no contraste, tendo como pressuposto uma ruptura com os lugares comuns em matéria de expectativas imagéticas americanas. Empenhada em dar visibilidade às mitologias do cotidiano, quase sempre algum detalhe mais bizarro ressalta nos rostos fotografados. Há, pois, algo na forma dos retratados que instaura um desconforto naquele que vê: um olhar, uma boca, um nariz, para não falar da disposição dos corpos. Tudo comunica e, ao mesmo tempo, provoca certo mal-estar, que no fundo não procede da imagem vista propriamente dita, mas da situação ou estado da alma da(s) pessoa(s) fotografadas. São silêncios entre casais, corpos nus displicente e naturalmente desajeitados, artistas travestis, a solidão das pessoas, entre outros. Como diz Judith Butler, a câmera fotográfica de Arbus não participa do jogo voyeurista e invasivo dos corpos em voga na sociedade contemporânea. Suas fotos mostram inclusive uma relação de tensão e resistência à captura da imagem : « ela(s) nos permite(m) um modo de compreender como o corpo algumas vezes só se torna resolvido em sua impermeabilidade, objetividade, superfície e solidão ». [she gives us a way of understanding how the body only sometimes becomes resolved into its impermeability, its objectness, its surface, and its solitude].


Homem de bob (1966)


Libertária, ousada e avançada para o seu tempo, as suas inúmeras fotos de homossexuais presentes no mundo do circo e do espetáculo servem de termômetro e indicador do seu vanguardismo cultural. Eles foram clicados em geral em camarins, acentuando ainda mais a perturbadora e assaz enevoada passagem entre a identidade sexual desejada e o aspecto camaleônico de todo artista, ao se maquiar e se fantasiar.

Agora o ponto alto da exposição é, ao meu ver, a série que ela dedicou a algumas mulheres e adolescentes, atingidas por síndrome de Down, clicados num contexto de uma colônia de férias no campo. Tal é o seu sentimento de respeito pelas pessoas que Arbus consegue uma verdadeira façanha: a uma determinada altura, ela  inverte a lógica do senso comum. Depois de vermos por tanto tempo pessoas ditas normais com suas estranhezas e tristezas - embora, como diz o poeta Vinícius de Moraes, com « uma esperança de um dia não ser mais  triste, não » -, ao olharmos as fotos do grupo de pacientes com deficiências intelectuais, vemo-las mais alegres e festivas que doentes. Perturbadora essa linha entre a dita « normalidade » e a   « anormalidade ».





A foto mais surpreendente e bela, na exposição, é justamente a de uma adolescente com síndrome de Down num campo a sorrir e a segurar uma flor. Tudo nela sugere graça, feminilidade e beleza desabrochando, não fosse o nosso olho treinado constatar paralelamente que ela apresenta o dito transtorno. Mesmo se tudo isso é revestido de intencionalidade, pois há um projeto, uma tese em desenvolvimento no momento dos registros fotográficos, há também a interferência do acaso e da beleza flagrada em sua espontaneidade. A condição humana é exibida assim em suas múltiplas e desconcertantes faces – « personagens singulares que aparecem como metáforas, autores e heróis de um sonho real » (D.A.) -, as quais nem mesmo o glamour do show business é capaz de ocultar.


O corpo tem muitos cotovelos
ou mulheres, prazer e dor, segundo Paula Rêgo


O amor (1995)

Se a obra de Diane Arbus transmite uma certa frieza e mostra as pessoas como que aprisionadas em uma fixidez melancólica, os quadros, desenhos e esculturas de Paula Rêgo (1935-…), mesmo tratando de temas humanos e sociais difíceis, é puro calor e cor. Como diria o poeta Fernando Pessoa, « eu sou à esquerda de quem entra ». Também essas artistas o são. Mostram a vida por seus recantos menos evidentes. Diane Arbus fotografa as pessoas na rua, ao ar livre ou sob a mira de luzes nos camarins. Paula Rêgo explora outra ordem da privacidade, menos a tristeza e mais a dor, menos as paixões e mais as taras humanas, menos a liberdade e mais a exposição à violência. Tudo isso se passa, porém, em ambientes fechados: casas, quartos, colégios e orfanatos.


Anjo (1998)


Na maior parte das suas telas e desenhos, ela retrata as contradições humanas, seu desnorteamento frente à falta de soluções, mas também o desejo concupiscente de pessoas idosas, a androginia que desmistifica anjos. O desejo está lá. O corpo está lá. Inegáveis, por mais pesadelos que se sofra e crimes que se cometa por eles.

Trata-se de uma leitura crítica, que propõe que aspectos impiedosos do privado sejam objeto de uma apreciação social e pública, mas ao mesmo tempo esses quadros e instalações não julgam. Deixam esse trabalho para o espectador, que, desavisado, pode muito bem imaginar meras cenas íntimas familiares e entre homens e mulheres. Paula Rêgo, porém, juntamente com as pesquisas mais recentes sobre violência doméstica e sexual, alerta a todos para o fato de que o perigo, por vezes, mora literalmente ao lado. Casas de família são também alcovas e nem mesmo a diferença de gerações basta para proteger crianças e mulheres. Ela não opera nenhum julgamento direto, mas mostra, graças ao belo traço de seus pincéis e sem nenhum disfarce, a vida como ela é. Nos anos 90, seu trabalho vai adquirir força e expressividade, veiculando doravante temas relativos à complexidade da natureza humana, que vão particularizar o seu estilo e consagrar o seu nome internacionalmente.

Sua obra dialoga com livros de Eça de Queiroz e Júlio Ribeiro, autores naturalistas respectivamente de Portugal e Brasil. A atmosfera naturalista está lá na denúncia, mas ao mesmo tempo Paula Rêgo não deixa de prover sua obra com a beleza plástica. O onírico mostra-se numa linguagem pictórica que remete às fábulas, com presença lendária de animais e faunos. Ora percebe-se a influência das « Pinturas Negras » de Goya em suas gravuras. Ora seus quadros coloridos fazem-nos lembrar de Gauguin: nele a leveza taitiana, nela a densidade portuguesa. As casas e famílias, ao que parece, podem ser território de outros tipos de colonização e dominação.



Entre mulheres (1997)


Para concluir essa breve introdução à arte de Paula Rêgo, gostaria de sugerir aos blog-leitores a visita ao seu museu em Cascais, o belo e moderno espaço Casa das Histórias Paula Rêgo, inaugurado em 2009. Pela obra, pela arquitetura, pelo verde do lugar e também pela orla que nos conduz e nos devolve à Lisboa, vale a ida até lá. Depois de Vieira da Silva, Paula Rêgo é uma das artistas plásticas portuguesas que conquista notoriedade internacional. A semelhança não acaba aí. Seu marido, Victor Willing, era igualmente pintor como o de Vieira da Silva, Arpad Szenes. O mais curioso é que a obra dessas mulheres é dotada de uma força que sobrepuja largamente a delicadeza dos homens artistas que as acompanharam pela vida.

Mais que isso, Paula Rêgo é autora de uma das obras mais eróticas e criativas que há tempos não via: a gravura « Rapariga engolindo um pássaro » (1996).

Com a palavra agora, Maurílio Matos, que nos apresenta a obra de Paula Rêgo, por um ângulo raro e assaz reflexivo do ponto de vista do humano e do feminino, a partir de um extrato de seu livro A criminalização do aborto em questão, publicado pela editora Almedina em 2010. A arte vem somar, assim, com os versos da canção brasileira, O Bêbado e o Equilibrista: « uma dor assim pungente não há de ser inutilmente ».


Série “Sem título”, de Paula Rego




Maurílio Matos**


A artista lusitana Paula Rego, mesmo radicada em Londres, possui uma relação visceral com seu país. Seus quadros tratam de valores e assuntos universais a partir da particularidade dos temas em Portugal. Paula Rego também junta a isso sua preocupação, ou “necessidade”, de abordar as mulheres e suas questões, numa perspectiva de questionamento do papel que tradicionalmente lhes cabe.

As mulheres representadas nos quadros de Paula Rego permanecem dentro de casa, mas a pintora transforma a casa num autêntico campo de batalha (Cabral e Rodrigues, 2009:05).

Após o plebiscito de 1998, em Portugal, sobre a descriminalização do aborto – que teve um grande índice de abstenção e no qual o “não” saiu vitorioso – a artista pintou uma série de quadros sobre o aborto, expostos em 1999. Sobre essa série de quadros, intitulada “Sem título”, já disse a artista:

Arte é arte, mas nem sempre se vê o que se passa nela. Um quadro não é apenas cores e formas, mas história. Essa série surgiu da minha indignação. Fiquei triste com o que se passou em torno da questão do aborto. Houve vergonha. As pessoas não foram votar por desleixo. A Assembléia tinha tido a palavra final, nem sequer havia que realizar o referendo. Há anos, em Portugal, é evidente o sofrimento das mulheres: as ricas vão abortar ao estrangeiro, as pobres não podem. É inacreditável considerar criminosas mulheres que praticam aborto. Isto faz-me lembrar coisas do passado (Diário de Notícias, 23/01/2008).

A série de quadros retrata mulheres sozinhas vivendo as agruras de um aborto clandestino. São mulheres jovens e maduras que passam extrema força nos seus olhares. Concordamos com Macedo (2001) que essa série foi um gesto da artista de tornar público aquilo que se quer privado e silenciado, ou melhor, “as vergonhas privadas”.

Dessa série, o quadro mais divulgado é o “Sem título número 08”, que retrata uma mulher sentada em uma cama com uma toalha em baixo de si, uma tigela ao seu lado e há, também, uma bacia abaixo da cama. Nesse quadro a mulher nos olha diretamente. Inevitavelmente nos inquire sobre a necessidade de passar por aquilo. Esse olhar é de dor, mas também de determinação.





Essas mulheres, retratadas por Paula Rego, chamam atenção para o sofrimento de um aborto clandestino, mas não há penúria nos seus rostos. Há, como diz a própria artista, em algumas mulheres retratadas “uma expressão de desafio”, uma vez que elas “tomam conta do seu próprio destino”. Afinal, como disse a artista nesta mesma entrevista:

As mulheres que abortam sofrem, mas o espírito pode sobreviver à dor. Não suporto a idéia de culpabilização em relação ao acto. Já basta o que cada uma sofre por ter de o praticar (Diário de Notícias, 23/01/2008).

A série de quadros de Paula Rego aqui tratada é bela – como só uma obra de arte pode ser – mas também educativa, pois nos possibilita refletir sobre a importância da descriminalização do aborto. Vale a pena ser vista e refletida.

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Mione Salesé doutora em Sociologia (USP), professora da FSS/Uerj e tem M1 em Literatura Comparada (Paris 3 Sorbonne).

Maurílio Matos – é professor Doutor da Faculdade de Serviço Social da UERJ e assistente social do SUS / Sistema Único de Saúde em Duque de Caxias.
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Referências Bibliográficas

BUTLER, Judith. Diane Arbus: Surface Tensions. Artforum, fevereiro 2004. Disponível em: http://www.americansuburbx.com/2010/11/theory-surface-tensions-judith-butler.html
CARNAVAL, Marcia. A face humana em Georges Bataille e a afegã sem nariz da 'Time Magazine’. Comunicação oral durante o 18° Encontro  PPGAV /UFRJ, novembro 2011.
GATTINONI, Christian e VIGOUROUX, Yannick. La Photographie (1839-1960). Paris, Editions Scala, 2001.
LAROUSSE. Dictionnaire de la photo. Paris, Larousse, 1966.
MATOS, Maurílio. Aborto: População não quer ver a mulher presa por isso. Entrevista 5 dedos de prosa, Blog Mídia e Questão Social, 14/10/2010. Pode ser consultado no link:
http://midiaequestaosocial.blogspot.com/2010/10/cinco-dedos-de-prosa.html
_____.  A criminalização do aborto em questão. Lisboa, Almedina, 2010.
RANCIÈRE, Jacques. Le spectateur émancipé. Paris, La Fabrique, 2008.
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LINKS

[Quinze imagens que chocaram Deus, artigo no jornal Le Monde]

[O Bêbado e o Equilibrista, Elis Regina]

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Editoria Volta do Mundo, Mundo dá Volta

Estou aqui de passagem*
Os sem-domicílio fixo (SDF) na região parisiense

                                           Foto de divulgação do filme Os Amantes da Pont Neuf


“vazio agudo
ando meio
cheio de tudo”


PAULO LEMINSKI

 
Mione Sales*


Acaba de ser divulgada uma pesquisa sobre a população de rua na Île de France, que engloba a região parisiense. Ela vem confirmar e desmentir alguns clichês sobre as ditas pessoas sem-domicílio fixo (SDF). Uma informação que chamaria atenção de um leitor brasileiro é o fato de não ter crianças na rua, salvo excepcionalmente em grupos de famílias ciganas, mas que circulam esporadicamente sobretudo em trens e metrôs para pedir esmola. Por vezes, pais ou mães de origem árabe também pedem esmola nas escadarias internas do metrô com uma criança ao colo. Na verdade, eles não pedem, apenas estendem as mãos em atitude de súplica. Pela presença da criança ou pela postura corporal submissa e destituída de direitos, pois são forçosamente imigrantes ilegais, essa imagem choca.

No entanto, nos meus sete anos de Paris, fui me habituando a ver muitos idosos, pessoas alcoolizadas, homens e mulheres negros, africanos ou das Antilhas, com distúrbios psiquiátricos, e também uma expressiva massa de homens imigrantes do Leste Europeu e de outros países em conflito. Nas ruas, encontramos ainda punks e seus cães, um fenômeno mais cultural que social, mas que se integra à paisagem de bancos de praças, jardins públicos, calçadas e caniveau (sarjeta).

Ao longo desses anos, a crise social e econômica se intensificou, o que repercutiu duramente sobre o financiamento das políticas sociais e sobre as ajudas sociais às associações célebres na ajuda aos sem-abrigo, como o Restaurante do Coração e a Fundação Abbé Pierre.

Dois filmes franceses contribuem para que se tenha uma ideia do que significa morar na rua numa metrópole como Paris: um lendário é Os Amantes da Ponte Neuf (1988), filme com Juliette Binoche, tão duro quanto lindo. Como se trata de uma película do final do anos 80, encontra-se um pouco defasado, no entanto vale a pena ser visto pelo ângulo complexo, trágico e amoroso dos casais que compartilham a rua e que nem sempre as pudicas pesquisas demográficas enxergam em sua contagem individual. Um mais recente, La Faute à Voltaire (2001), do diretor franco-tunisiano Abdellatif Kechiche, na verdade, fala dos trabalhadores de rua, no caso vendedores de rosas, muitos dos quais imigrantes ilegais, mas que têm acesso aos abrigos da prefeitura. Ele oferece um painel bem atualizado desta modalidade de alojamento social e suas contradições, por meio de seus personagens de origem tunisiana.

Traduzimos abaixo uma pequena matéria publicada no Jornal Metro Paris, da última quinta-feira, 27 de outubro, especialmente para os nossos blog-leitores. Vale a pena depois comparar os dados da pesquisa francesa com as questões apresentadas pela assistente social Hilda Corrêa Oliveira, em entrevista a este blog, na sessão 5 Dedos de Prosa (24/08/2011), sobre a população em situação de rua fluminense.

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Um basta nos clichês sobre os sem-abrigo


PESQUISA   Segundo um estudo, a maioria dos sem-domicílio fixo da Île de France não apresenta problemas psiquiátricos graves. Esquizofrenia e depressões severas são, todavia, sobrerepresentadas.

                                                 Foto: Mione Sales


O estereótipo do sem-abrigo alcoolizado e louco é antigo. No entanto, um estudo sem precedente apresentado quarta-feira pelo INSERM (Instituto Nacional da Saúde e da Pesquisa Médica) e pelo Observatório do SAMU Social de Paris obriga a rever certos preconceitos. O documento é o resultado de uma enquete de grande fôlego sobre a saúde mental de 859 sem-abrigos da região Ile de France, entre fevereiro e abril de 2009.

É verdade que 21.176 pessoas, ou seja, um terço desta população da Região, estão afetadas por problemas psiquiátricos graves. Uma porcentagem três ou cinco vezes mais alta que aquela observada na população total. Os problemas psicóticos (13%, dentre os quais 8% de esquizofrênicos), os distúrbios de ansiedade (12%) e as depressões graves (7%) são as principais incidências. «Nestes casos, a doença constitui um elemento anterior à perda de alojamento», indica Pierre Chauvin, epidemiologista do Inserm.  Segundo Marie-Jeanne Guedj, psiquiatra do centro hospitalar Sainte-Anne, «a esquizofrenia é dez vezes mais presente entre os sem-domicílio fixo» e gera uma espécie de «aposentadoria social», o que acelera a passagem para a rua. Além do mais, um terço dos sem-abrigos consome regularmente substâncias psicoativas, essencialmente tabaco (53%), álcool (21%) e maconha (16%).

Mas dois terços dos SDF, ou seja, a maioria distingue-se muito pouco da população em geral. Contrariamente aos sem-abrigo que sofrem de problemas psiquiátricos graves, esta maioria não conheceu muitas experiências de fugas, violências sexuais, conflitos entre pais e problemas de alojamento na sua juventude. « Neste caso, os problemas depressivos e as adicções são essencialmente consequência de uma vida sem-domicílio fixo », conclui Pierre Chauvin.

O estudo precisa ainda que, entre os sem-abrigos de 18 a 25 anos, as mulheres são maioria, 91%  têm pelo menos um nível de escolaridade secundário, e mais de dois terços nasceram na França. Entre esses jovens,  aproximadamente 40% apresentam problemas psiquiátricos graves, um entre cinco sofrem de dependência ao álcool, e um quarto consome maconha regularmente.

[Fonte : Michelon, Vincent. http://www.metrofrance.com/]
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Mione Sales – é professora e pesquisadora de Serviço Social (FSS/Uerj). Doutora em Sociologia (USP), têm diálogos fecundos com a Comunicação, Antropologia, Filosofia e Literatura. Contato: mionesales@ gmail.com


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  • Verso da canção  « Eu não sou da sua rua », de Arnaldo Antunes e Branco Mello,  mais conhecida na voz de Marisa Monte.
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Links
[Resto du cœur]

http://www.fondation-abbe-pierre.fr/
[Fundação Abbé Pierre]

[Site do Instituto Nacional da Saúde e da Pesquisa Médica]

[Site do SAMU Social de Paris]

[Matéria no jornal Le Monde sobre a pesquisa do INSERM]

[clip 1 dos Amantes da Ponte Neuf]

[clip 2 dos Amantes da Ponte Neuf]

[Rita Mitsouko, da trilha sonora dos Amantes da Ponte Neuf]

[Trailer 1  de Faute à Voltaire]

[Trailer 2  de Faute à Voltaire]

sábado, 10 de setembro de 2011

Editoria Jornalismo na Correnteza

Doação de Sangue urgente!


Imagem: Google


Ana Lucia Vaz*

Giamiliane de Oliveira, 26 anos, está internada no Hospital Gaffrée e Guinle desde o dia 2 de agosto, quando chegou para dar à luz a Willam Gabriel. Uma infecção por bactéria desconhecida que lhe corrói o abdômen mobilizou a equipe médica do Hospital e ameaça sua vida.

No dia 8, finalmente, conseguiram identificar a bactéria, mas Giamiliane precisa de nova cirurgia e, para isso, depende de sangue que a faça recuperar-se rapidamente da anemia provocada pela infecção. Sua chance de sobrevivência depende disso.

Mas o Hemorio, banco de sangue do Estado, não tem estoque para atender todas as demandas. Giamiliane entrou numa fila de espera.


Bem perto de nós

A tragédia da Região Serrana provocou um movimento de solidariedade que lotou os estoques do Hemorio, na época. É mais fácil mobilizar nossa solidariedade quando enxergamos o ser humano que está do outro lado, pedindo ajuda.

Pois Giamiliane é, de certa forma, nossa conhecida. Foi uma das desabrigadas pelas chuvas no Borel. Sua irmã, Gisa, ou Gislaine de Oliveira, a personagem principal da reportagem que publicamos neste blog no dia 13 de abril de 2010, com o título “Tragédia no Rio de Janeiro: quem escolhe correr risco?” [clique no título indicado para ler a reportagem]

 

  Foto Arquivo: Gisa, sobre a lage de sua casa não consegue disfarçar a tristeza


Gisa foi minha guia dentro do Borel. Algum tempo depois, junto com os outros desabrigados, participou do protesto que fechou o CIEP por um dia. Um ato de desespero das famílias que eram pressionadas para deixar a escola, sem terem para onde ir. Ajudei a articular a mídia. O ato teve repercussão e conseguiu acelerar o pagamento dos aluguéis sociais.

Meses depois, Gisa me ligou: “A gente só procura para dar má notícia, né? Achei que devia ligar também para dar uma boa notícia.” Estava morando na Pavuna, num lugar que era ótimo, segundo ela. Os filhos estavam muito felizes, porque tinham muito espaço para andar de bicicleta e não queriam nem saber de voltar para o Borel. Também já estavam na escola. O resto da família tinha alugado casas no Borel.

Este talvez seja o melhor prêmio de um jornalismo de escuta. Novas relações, novos afetos.

Há duas semanas, Gisa ligou de novo. Desta vez, para pedir ajuda. Com a irmã entre a vida e a morte, e o sentimento de impotência a lhe perturbar, lembrou do desespero dos tempos de desabrigados. “Naquela época você me ajudou, então pensei...”

Como sou jornalista, ela tentou achar um caminho por essas bandas. Tinha, como eu, ótimas referências do Gaffrée e Guinle. “Tive meus dois filhos aqui! Foi ótimo! Mas o pessoal que trabalha lá, pelos corredores, diz que depois da reforma não é mais o mesmo hospital.”

Comecei a sondar.

- Mas eles não estão se empenhando? Sua irmã não está bem cuidada?

- Está. Eles estão fazendo tudo o que podem. Mas não conseguem identificar a bactéria. Dizem que é resistente aos antibióticos.

- Está havendo negligência?

- De jeito nenhum. Tem, inclusive, uma médica totalmente dedicada...


O serviço público que não aparece na Globo

Não fiz nenhuma apuração jornalística, de fato. Minha única fonte é a Gisa, internada no hospital há pelo menos uma semana, para cuidar da irmã na área de isolamento. Mas, seja o olhar consciente da própria Gisa que, em pleno desespero não busca levianamente culpados para sua dor; seja o relato da dedicação de profissionais em busca de solução, sugere imagens típicas do serviço público de saúde. A saúde que ainda não virou mercadoria. Que não interessa aos veículos comerciais noticiar. Os planos privados de saúde agradecem.


Jornalismo por inteiro


Foto: Google – Frente do Hospital Universitário Gaffrée Guinle, na Tijuca – RJ.

As necessidades e dores humanas vão muito além das tão limitadas forças de ação jornalística. Talvez este seja o maior desafio de fazer jornalismo de escuta. Se não somos assépticos ou neutros, o mundo nos envolve para valer e não tem como fugir.

Finalmente, identificaram a bactéria que está consumindo Giamiliane, mas agora ela depende de doadores, com urgência.

Por isso, embora a situação me leve a refletir sobre sentidos e compromissos do jornalismo, isso não é uma reportagem, nem chega a ser um artigo. É um pedido de ajuda. O jornalismo em que acredito me aproxima, não das grandes políticas (indispensáveis), nem das grandes questões sociais (tão determinantes), mas de seres humanos de carne e osso, cada um com sua história única dentro dos tais grandes contextos. A Gisa não é mais uma desabrigada das chuvas de abril de 2010, é alguém que aprendi a admirar, com quem assumi compromissos.

Quem puder e quiser entrar na correnteza deste jornalismo repleto de alegrias, dores e sustos, por favor vá até o Hemorio doar sangue em nome de Giamiliane, internada no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle. Peça o papel comprovando a doação e leve-o até o Gaffrée e Guinle. Serve qualquer tipo de sangue.

Mas, claro, qualquer doação, a qualquer tempo, será bem vinda, para ajudar a salvar a vida, não só da Giamiliane, mas de tantas pessoas, com suas ricas histórias.



Imagem: Google





















*Ana Lucia Vaz, jornalista, mestre em Jornalismo (USP), membro da Rede Nacional de Jornalistas Populares (http://www.renajorp.net) , professora de jornalismo e terapeuta craniossacral.