sábado, 10 de setembro de 2011

Editoria Jornalismo na Correnteza

Doação de Sangue urgente!


Imagem: Google


Ana Lucia Vaz*

Giamiliane de Oliveira, 26 anos, está internada no Hospital Gaffrée e Guinle desde o dia 2 de agosto, quando chegou para dar à luz a Willam Gabriel. Uma infecção por bactéria desconhecida que lhe corrói o abdômen mobilizou a equipe médica do Hospital e ameaça sua vida.

No dia 8, finalmente, conseguiram identificar a bactéria, mas Giamiliane precisa de nova cirurgia e, para isso, depende de sangue que a faça recuperar-se rapidamente da anemia provocada pela infecção. Sua chance de sobrevivência depende disso.

Mas o Hemorio, banco de sangue do Estado, não tem estoque para atender todas as demandas. Giamiliane entrou numa fila de espera.


Bem perto de nós

A tragédia da Região Serrana provocou um movimento de solidariedade que lotou os estoques do Hemorio, na época. É mais fácil mobilizar nossa solidariedade quando enxergamos o ser humano que está do outro lado, pedindo ajuda.

Pois Giamiliane é, de certa forma, nossa conhecida. Foi uma das desabrigadas pelas chuvas no Borel. Sua irmã, Gisa, ou Gislaine de Oliveira, a personagem principal da reportagem que publicamos neste blog no dia 13 de abril de 2010, com o título “Tragédia no Rio de Janeiro: quem escolhe correr risco?” [clique no título indicado para ler a reportagem]

 

  Foto Arquivo: Gisa, sobre a lage de sua casa não consegue disfarçar a tristeza


Gisa foi minha guia dentro do Borel. Algum tempo depois, junto com os outros desabrigados, participou do protesto que fechou o CIEP por um dia. Um ato de desespero das famílias que eram pressionadas para deixar a escola, sem terem para onde ir. Ajudei a articular a mídia. O ato teve repercussão e conseguiu acelerar o pagamento dos aluguéis sociais.

Meses depois, Gisa me ligou: “A gente só procura para dar má notícia, né? Achei que devia ligar também para dar uma boa notícia.” Estava morando na Pavuna, num lugar que era ótimo, segundo ela. Os filhos estavam muito felizes, porque tinham muito espaço para andar de bicicleta e não queriam nem saber de voltar para o Borel. Também já estavam na escola. O resto da família tinha alugado casas no Borel.

Este talvez seja o melhor prêmio de um jornalismo de escuta. Novas relações, novos afetos.

Há duas semanas, Gisa ligou de novo. Desta vez, para pedir ajuda. Com a irmã entre a vida e a morte, e o sentimento de impotência a lhe perturbar, lembrou do desespero dos tempos de desabrigados. “Naquela época você me ajudou, então pensei...”

Como sou jornalista, ela tentou achar um caminho por essas bandas. Tinha, como eu, ótimas referências do Gaffrée e Guinle. “Tive meus dois filhos aqui! Foi ótimo! Mas o pessoal que trabalha lá, pelos corredores, diz que depois da reforma não é mais o mesmo hospital.”

Comecei a sondar.

- Mas eles não estão se empenhando? Sua irmã não está bem cuidada?

- Está. Eles estão fazendo tudo o que podem. Mas não conseguem identificar a bactéria. Dizem que é resistente aos antibióticos.

- Está havendo negligência?

- De jeito nenhum. Tem, inclusive, uma médica totalmente dedicada...


O serviço público que não aparece na Globo

Não fiz nenhuma apuração jornalística, de fato. Minha única fonte é a Gisa, internada no hospital há pelo menos uma semana, para cuidar da irmã na área de isolamento. Mas, seja o olhar consciente da própria Gisa que, em pleno desespero não busca levianamente culpados para sua dor; seja o relato da dedicação de profissionais em busca de solução, sugere imagens típicas do serviço público de saúde. A saúde que ainda não virou mercadoria. Que não interessa aos veículos comerciais noticiar. Os planos privados de saúde agradecem.


Jornalismo por inteiro


Foto: Google – Frente do Hospital Universitário Gaffrée Guinle, na Tijuca – RJ.

As necessidades e dores humanas vão muito além das tão limitadas forças de ação jornalística. Talvez este seja o maior desafio de fazer jornalismo de escuta. Se não somos assépticos ou neutros, o mundo nos envolve para valer e não tem como fugir.

Finalmente, identificaram a bactéria que está consumindo Giamiliane, mas agora ela depende de doadores, com urgência.

Por isso, embora a situação me leve a refletir sobre sentidos e compromissos do jornalismo, isso não é uma reportagem, nem chega a ser um artigo. É um pedido de ajuda. O jornalismo em que acredito me aproxima, não das grandes políticas (indispensáveis), nem das grandes questões sociais (tão determinantes), mas de seres humanos de carne e osso, cada um com sua história única dentro dos tais grandes contextos. A Gisa não é mais uma desabrigada das chuvas de abril de 2010, é alguém que aprendi a admirar, com quem assumi compromissos.

Quem puder e quiser entrar na correnteza deste jornalismo repleto de alegrias, dores e sustos, por favor vá até o Hemorio doar sangue em nome de Giamiliane, internada no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle. Peça o papel comprovando a doação e leve-o até o Gaffrée e Guinle. Serve qualquer tipo de sangue.

Mas, claro, qualquer doação, a qualquer tempo, será bem vinda, para ajudar a salvar a vida, não só da Giamiliane, mas de tantas pessoas, com suas ricas histórias.



Imagem: Google





















*Ana Lucia Vaz, jornalista, mestre em Jornalismo (USP), membro da Rede Nacional de Jornalistas Populares (http://www.renajorp.net) , professora de jornalismo e terapeuta craniossacral.

3 comentários:

  1. Queridos amigos e seguidores,
    estou comentándo minha própria postagem para contar que Giamiliane de Oliveira já foi operada e se recupera bem, em casa.
    Falei rapidamente com a Gisa, sua irmã, que tinha a voz de uma criança em dia de Natal. Gisa me disse, que sua irmã disse, que as enfermeiras disseram, que chegou muito sangue, muito rápido para ela.
    Enfim, esta não é uma apuração jornalística. Apenas uma felicidade a ser compartilhada e agadecida. Gisa me prometeu, em breve, um texto a ser compartilhado aqui. Aguardamos!
    Abraços
    Ana Lucia

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  2. Parabéns.
    Na contramão da abordagem geral em que o particular desaparece no número de desabrigados, de desatendidos ou de outra categoria qualquer, você mostra o particular e muito mais.
    Dizem que é possível ver o universo num grão de areia. Mas é preciso saber olhar muito bem o grão.

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  3. Que pena que você não se identificou, "Anônimo", ou esqueceu. O seu comentário é bastante pertinente. Daria para falar de teoria, metodologia e etc a partir dele, mas quero apenas reforçar - e mais uma vez cumprimentar a minha colega de blog, Nalu Vaz - a importância da humanização em qualquer forma de trabalho profissional (Jornalismo, Serviço Social, Enfermagem etc.) ou militância. O todo é importante, mas tanto quanto cada sujeito singular.

    Ficamos todos bem felizes pela melhora da irmã da Gisa.

    Um abraço,

    Mione Sales*
    (editoria Volta do Mundo, Blog M&QS)

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