domingo, 24 de outubro de 2010

Editoria Volta do Mundo, Mundo dá Volta

SÉRIE MÍDIA E ELEIÇÕES - SEGUNDO TURNO PRESIDENCIAL

Este novo artigo da Série Mídia e Eleições - segundo turno presidencial traz Mione Sales com um artigo instigante e reflexivo sobre os desafios do que significa SER ESQUERDA (gauche) na vida!

Ela manifesta seu voto critico em Dilma e diz que esse voto não é um cheque em branco. A esquerda fora do governo junto com os movimentos sociais vão investir na interlocução pela garantia e ampliação de direitos, mas restarão mobilizados e atentos à luta e à necessidade de ir para as ruas, se for preciso.

Um abraço,

Equipe Mídia e Questão Social
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Vai ser gauche na vida

sobre a necessidade de (re)inventar a democracia

« Quem sabe faz a hora
não espera acontecer ».
G. Vandré

Mione Sales*


Depois do artigo de Nalu Vaz ficou difícil dar mais um depoimento sobre por que votar na Dilma no segundo turno. Ela disse o essencial. Vou puxar, então, a brasa para a sardinha coletiva e contribuir com a parte final do seu artigo: o enfrentamento dos próprios monstros. Não falo de monstros individuais, mas daqueles sobre os quais vale a pena escrever como quem pensa alto: os « monstros » da esquerda. O intuito é avançar alguns elementos para contribuir com o debate não apenas conjuntural, mas dentro de uma interlocução mais ampla com a esquerda – da universidade ao bairro, aos acampamentos urbanos e rurais, e ao sindicato.

Na verdade, se soubermos seguir a pista poética do escritor moçambicano Mia Couto, veremos que o escuro está onde o colocamos. Ou seja, o medo (de enfrentá-los) é o que, de fato, produz e mantém vivos os nossos monstros. Tentemos descortinar alguns deles.


Primeiro monstro: o medo de escutar o outro

                                                   Detalhe da porta de um templo japonês do século XVII 


Sou carioca de coração, pelos muitos anos vividos na cidade do Rio de Janeiro, mas para quem não sabe sou cearense. As minhas memórias políticas ultrapassam, assim, a Central do Brasil, a Cinelândia e a Candelária, e se estendem até a Praça José de Alencar e a Praça do Ferreira em Fortaleza.

Nos anos 80, fiz movimento estudantil (ME), essa grande escola do aprendizado político, da descoberta das diversas « tendências » à escolha por uma delas, aos primeiros posicionamentos, ao pânico de falar em público e às primeiras polêmicas - ainda sem uma história e experiência de vida para dar substância à convicção de esquerda ali estalando de nova. Tive, então, as melhores impressões sobre a militância política, em especial sobre alguns dos seus pares, mas também as primeiras decepções e frustrações com o que cada « palavra », conceito ou categoria quer dizer na prática.


                Ato de artistas em frente ao Teatro José de Alencar e teatro de rua em Fortaleza


Uma das coisas, aliás, que me chamou atenção, quando começaram a aflorar as primeiras inquietações na relação entre o que se defendia e o que se era, de fato, foi a questão da escuta do outro. Causava-me mal-estar a maneira como criávamos, durante as reuniões de estudantes, uma espécie de bloqueio interno à escuta do que tinham a dizer os que pensavam diferente. Isso, infelizmente, não era privilégio de uma corrente apenas. Quase todas se valiam desse estratagema: o que importava era falar, com o fim de convencer os demais e os eventuais « independentes », e sobretudo ganhar a reunião. O que os demais tinham a dizer interessava somente na medida em que era preciso contestá-los e derrubar os seus argumentos. Na melhor das hipóteses, para se construir uma proposta mais avançada.

Claro que essa é uma « caricatura » de como as disputas políticas se processavam e ainda se processam desde os centros acadêmicos (CA) até o Congresso Nacional. No ME, uma dose de sectarismo pode até ser compreensível em razão da necessidade de autoafirmação da juventude na relação com os seus ideais. Afinal de contas, quanto mais se pensa - com o « auxílio luxuoso » de leituras, conferências, muito estudo etc. – e quanto mais se sabe a respeito do que os outros pensam, dá-se vazão ao grande « temor-monstro » do risco de flexibilizar as fronteiras das próprias convicções. No entanto, a liberdade não tem muros e, como o amor, não tem rede de segurança. Já prevenia Guimarães Rosa: “viver é muito perigoso”, donde a exigência de se saber escolher e de se tentar ser coerente vida afora com as opções feitas. No caso da política, são aprendizados coletivos, mas com uma dimensão pessoal intransferível e insubstituível.


Foto: Frédéric Hugon  /  Arte: Mione Sales


O medo do outro, isto é, do debate e consequentemente da democracia e da liberdade assemelha-se ao medo do escuro de que fala Mia Couto, o que explica os desenhos ainda mais obscuros que produzimos para preenchê-lo. Talvez por isso seja proposto à esquerda o desafio de « endurecer », por vezes, infelizmente, sem qualquer espaço para a ternura.

Em tempo: flagrei-me ainda no ME e do alto da minha « indisciplina », tentando ouvir realmente o que cada um tinha a dizer no seio do grande bloco de esquerda da universidade e percebendo que, apesar das resistências recíprocas e da proposição de diferentes estratégias para atingir os objetivos, havia muito em comum entre todos eles.


Segundo monstro: da união ao dissenso




Descobriria, todavia, mais tarde, com o filósofo francês Jacques Rancière, que a política é um território propício muitas vezes ao desentendimento - não à briga propriamente, mas à não-compreensão mútua. Segundo ele, muitas vezes, alguém diz « branco » e o outro ouve « branco » à sua maneira, isto é, os dois não conseguem ouvir e ver o « mesmo branco ». Parece simples, mas não é. Basta colorirmos e preenchermos essa tese com significados mais densos, como « democracia », « socialismo », « liberdade de expressão », « distribuição de renda », « reforma agrária », « diversidade sexual », « multiculturalismo », « globalização » e, para retomar um dos temas candentes dessa campanha eleitoral, « aborto ».

Seria fácil se o mundo se dividisse apenas em burguesia e trabalhadores, ou se pensássemos apenas em termos de « Serra » e « Dilma ». No entanto, fazer política e pensar de maneira « complexa » e sob o signo da totalidade exige nuances. É, a esquerda não começa e nem acaba no PSTU (com todo o respeito que tenho por essa legenda e sua história), bem como a direita pode ser muito, muito pior do que o próprio Serra, muito embora este venha se superando em seu conservadorismo, estabelecendo alianças com ícones da ditadura militar, como a Tradição, Família e Propriedade (TFP).

Mas voltando a Rancière, tem-se como consequência do desentendimento (que não é apenas fruto da racionalidade ou do exercício lógico e cognitivo) o dissenso, ou seja, o ponto em que não há consenso. O dissenso pertence, pois, ao campo das divergências: em decorrência de interesses de classe e visões de mundo diferentes; experiências de trabalho e de vida, pertencimento social e escolhas ideológicas distintos, mas também de dificuldades de apreensão do debate, linguagem e terminologia políticas.

Não se consegue entrar num acordo, porque não se vê do mesmo modo, nem se sente na pele da mesma maneira e não se julga também que as propostas que os « outros » trazem como correspondendo aos interesses daqueles a quem se representa. Por isso, as prioridades de uns não são as de outros, justamente porque se vê diferente, se compreende diferente e se é diferente (como indivíduo e classe social). Da mesma maneira, pessoas que veem parecido e aspiram a coisas afins, associam-se, inclusive de forma transversal socialmente, contra os demais que pensam diferente deles. Por isso, luta-se, age-se e se combate.

Propostas e reações inconciliáveis frustram as expectativas mais ingênuas e idealistas que jazem escondidas dentro de nós, que nos sentiríamos mais confortáveis em preconizar a união de todos. No entanto, como diz o ditado, é pelo atrito com a areia que se forma a pérola. Por isso, não devemos temer o conflito. E é isso que alimenta a política e a luta pelos direitos contra os ataques e ameaças dos que defendem o status quo, as elites e o lucro desenfreado.


Terceiro monstro: o medo do consenso



Acordos e consensos, porém, também precisam ser encontrados, porque é a partir desse patamar que se dá a construção social. Senão, como erigir e desenvolver uma sociedade num mar de hostilidades e (in)diferenças mútuas?

Ao refletir sobre a esquerda, o que cabe no contexto eleitoral, mas também nas demais situações de troca, confronto e tentativa de construção de projetos em comum, costumo me valer do exemplo do desafio da convivência num «fusca »: se, por vezes, é difícil ou quase impossível os seus passageiros entrarem num acordo sobre o percurso, quem dirige e para onde se vai ou como se dividem as despesas de óleo, gasolina etc., imaginemos essas tensões, relativas a decisões partidárias ou da relação entre os movimentos sociais e o governo - decisões altamente complexas que envolvem recursos financeiros, o destino e os interesses de muitos!

No entanto, por vezes, a saída enxergada por alguns, quando se torna difícil coexistir no « fusca » não é procurar descobrir novas respostas coletivas, mas abrir a porta do carro e convidar os demais a descerem.


Quarto e decisivo monstro: a relação entre poder e democracia


 « Saturno devorando seus filhos », do pintor Goya


« Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado ».
Chico Buarque


A sensação de ficar para trás depois dos investimentos feitos na vida a dois ou no usufruto de um bem, um equipamento de uma associação, de uma torcida ou um time de futebol, é a mesma ou parecida com a aquela de lutar por um ideal coletivamente e ver depois os seus sonhos frustrados.

Eu assim como muitos camaradas e amigos experimentamos esse tipo de sensação no campo da esquerda na esfera local e também nacionalmente. O elemento desencadeador costuma ser justamente as vitórias eleitorais. Costuma haver, senão de um dia para o outro, na sequência do primeiro ano de mandato, a explicitação das diferenças, com possibilidades de « rachas políticos ». Muitas vezes, quem ganhou rompe com uma parte dos apoiadores e pretende dali para a frente dar sozinho as cartas do jogo. Todos os demais são, assim, total ou parcialmente excluídos do âmbito das decisões de poder, mesmo que prossigam atuando perifericamente em alguns projetos da gestão local ou nacional.

Esse tipo de « crise » sempre tem dois lados: o dos vitoriosos, que pensam apenas na liberdade de agir, sem o inconveniente de ter que discutir, partilhar e acatar opiniões divergentes relativas aos membros da mesma tendência e partido. Nesse momento, eles só enxergam o gozo do poder, o triunfo, a sensação de « bastarem a si mesmos », o « enfim sós » rumo ao socialismo (ôps!) !

Do outro lado, os circunstanciais perdedores - ou melhor, os que sofreram o « golpe », porque submetidos a um « racha» à revelia, despejados de um projeto em comum - sentem vergonha pelo desrespeito individual e coletivo que lhes foi infligido, mais um duro choque emocional pelo encurtamento abrupto das possibilidades imaginativas e prático-críticas. O sonho tão ao alcance da mão, de repente, vira pesadelo.

Como tudo tem o seu revés, esse tipo experiência não conduz necessariamente a vitórias maiores posteriores. Duas tendências mostram-se possíveis: * se se trata da defesa de ideias muito radicais e inconciliáveis com o restante da esquerda, este tipo de atitude pode conduzir ao isolamento e a derrotas eleitorais mais tarde, em contraste aos onipotentes desejos de poder inicialmente ostentados ; ** outra possibilidade é a da ampliação excessiva da base de apoio, com a flexibilização de certos princípios e valores históricos, o que contribui para o afastamento e ruptura com antigos militantes. A gestão adquire cores diversas, cada vez menos escolhidas na palheta da esquerda. O que é recorrente nessas experiências de choque de expectativas e autonomização de projetos coletivos é a questão do poder e da democracia.

Vale a pena recordar que o Partido dos Trabalhadores nasceu rompendo com problemas clássicos dos “partidos de esquerda”. O PT não veio do alto, pelo contrário nasceu das bases, lá no ABC paulista, pólo do operariado brasileiro. Sua experiência de luta e organização classista sugeriam uma nova maneira de fazer política e, portanto, uma espécie de reforma intelectual e moral. A partir dali, poder-se-ia refazer o valor das palavras, atentos aos princípios libertários da práxis política de esquerda; tudo nutrido cotidiana e dialeticamente com a substância das lutas e exigências democráticas dos movimentos sociais.

No Rio de Janeiro, tornei-me « petista » na prática e no coração. Ademais, supri minha paixão pela militância por meio do engajamento no Conjunto CFESS/ CRESS, espaço de organização política da categoria dos assistentes sociais. Ali, participei desde o âmbito da fiscalização do exercício profissional ao da ética do Serviço Social, às bases de uma política de comunicação para o Conjunto até a esfera das políticas sociais e da lutas por direitos de crianças e adolescentes.

Fique claro que não havia nem há expectativas, nem de minha parte nem dos meus colegas, de que a militância nesse espaço profissional opere uma substituição das necessidades do partido, mas acredito que dali é possível, sim, contribuir para transformações e conquistas na relação com o Estado, a sociedade civil e a própria categoria.

Se não me filiei a uma nova corrente especificamente, foi porque mesmo aquela com a qual flertei em terras cariocas, também reproduzia velhos erros, que não somente eu e meus antigos camaradas cearenses já criticávamos, mas como diz a poeta Adélia Prado, « sua raiz vai ao meu mil avô ». Não gostaria, assim, de endossá-los nas relações entre companheiros, espécie de avant-première do socialismo. Resta, aliás, saber se certos problemas não são estruturais à esquerda e não somente a esta ou àquela « tendência ». O que nos leva a concluir que o tema da democracia ou da « reinvenção democrática », para ampliar a categoria do intelectual francês Claude Leffort, permanece como um desafio da esquerda brasileira.

Inovar e agir diferentemente não parecem nada simples e em muitos casos talvez sequer constituam uma tentação ou um problema que inquiete certos tipos de militantes mais apegados aos dogmas ou seduzidos pelos ganhos materiais que emanam do poder e da burocracia partidária.


Tudo é uma questão de produzir uma convivialidade democrática e libertária


Foto: Mione Sales - “Monumento à Paz”, em Berlim


« O medo de amar é o medo de ser / livre para o que der e vier
livre para sempre estar / onde o justo estiver
(…) é o medo de ter / de a todo momento escolher
com acerto e precisão / a melhor direção
(…) medo de (…) não arriscar / esperando que façam por nós
o que é nosso dever - recusar o poder »
Beto Guedes e Fernando Brant


A democracia burguesa pode ser insuficiente, mas uma esquerda desatenta ou indiferente às exigências da democracia não deve ser o seu contraponto. Fala-se em socialismo, mas muitos não têm noção ou subestimam (d)a imensa complexidade do que significa reinventar as regras de uma convivialidade efetivamente democrática e libertária. Desde a Grécia clássica, vimos potencializando essa categoria como forma de diminuir os vícios do poder e ampliar os direitos da maioria à representação. O que soma, por exemplo, com o « direito de fala » ou direito de expressão. Por isso, muitos morreram e lutaram.

A tese de Carlos Nelson Coutinho sobre a « democracia como valor universal » revela-se, assim, cada vez mais de uma extrema atualidade no Brasil e no mundo, enquanto princípio do qual não se pode abrir mão, pois é antídoto contra todas as formas de casuísmo, fisiologismo, totalitarismo, fascismo, terrorismo, entre muitos outros desvios à direita e à esquerda do espectro político.

Assim, com o passar dos anos, quanto mais observo gente e a esquerda em particular – objeto aqui da nossa reflexão -, mais me convenço da necessidade da « democracia », reinventada, porque não se satisfaz com a formalidade da mera igualdade jurídica. Há felizmente em curso alguns exemplos desse tipo de reinvenção coletiva da democracia, mas não sem contradições evidentemente: os acampamentos do movimento dos trabalhadores sem-terra (MST) no Brasil e a criativa experiência zapatista em Chiapas no México.

Quando falamos em democracia, vale a pena recorrer à definição presente no Código de Ética dos Assistentes Sociais: « democracia como ampliação da participação política, mas também como socialização da riqueza socialmente produzida ». Nesse tocante, é importante incorporar nessa utopia as conquistas da modernidade e do desenvolvimento das forças produtivas, como condição da felicidade de todos e não mais como privilégio de poucos. Essa é, aliás, a doce utopia da juventude: direitos, rock n’roll, rap, funk e tecnologia.

A democracia é, portanto, salvaguarda de qualquer projeto coletivo, partidário e societário. Ela depende fundamentalmente de cada um de nós, das nossas reflexões no meio da luta e da nossa capacidade em oferecer resistência às injustiças e ao papel destruidor da sociabilidade representado pelas mais diversas formas de autoritarismo e personalismo. A democracia não é algo que vem apenas de fora ou de cima, somos nós que a alimentamos cotidianamente e a construímos individual e coletivamente.


Sem medo de ser feliz
votar em Dilma não é passar um cheque em branco


                Fotos: Cynthia Studart – « Onda vermelha », campanha eleitoral 2010, em Fortaleza

Quem fala em dissenso diz, portanto, muitas vezes, discordâncias e fundo ou inconciliáveis tanto no que se refere às candidaturas majoritárias quanto também no seio da própria esquerda, do que resultam, nesse momento, leituras e posicionamentos políticos distintos: voto crítico na candidata Dilma ou voto nulo.

No primeiro turno, votei no Plínio, um nome legitimado nacional e internacionalmente, construído junto aos movimentos sociais. Votar no Plínio foi um posicionamento contra todo e qualquer tipo de golpismo da esquerda, de « tapetão », contra todas as formas de « nepotismo », isto é, aqueles que tiram proveito material ou almejam fazê-lo em qualquer parte da administração federal, estadual e municipal escudados na legenda do PT (ou também de outras legendas de esquerda que ocupem cargos e estejam à frente de gestões de governo), contra os que tiram proveito pessoal ou empresarial do Lulismo, contra a não escuta dos antigos companheiros do PT e do atual « bloco de esquerda » na definição dos projetos de governo, contra a escuta privilegiada, muitas vezes, dos que representam o capital e as velhas oligarquias no Brasil. Esse é, inclusive, o meu ponto de consenso com o também colega de blog, Ricardo Pereira.

No entanto, felizmente, o governo Lula não é somente isso. Por isso, vou votar criticamente na Dilma no segundo turno, para fortalecer o apelo à efetivação de uma pauta de governo, em que haja uma presença cada vez maior de estratégias de inclusão dos pobres, com participação também deles na definição das prioridades e nos rumos das políticas sociais. A esperança é que a preservação de valores humanistas na condução do país contribua para o « processo de libertação dos invisíveis » por suas próprias mãos; esperança que não é somente minha, mas também dos que metem a mão na massa, porque desenvolvem trabalhos e fertilizam os talentos em potencial das periferias, por meio de uma sensível escuta às suas demandas e ideias. Essa chama encontra-se acesa e forte hoje, por exemplo, em Fortaleza entre assistentes sociais, artistas e militantes, como Preto Zezé, retrato do inconformismo, aliado à reinvenção prático-crítica e criativa da utopia, « sem medo de ser feliz ».

Fazer diferente, vale repetir, começa por nós mesmos. O socialismo expressa-se, portanto, nos gestos e escolhas de cada um, no poder ou não. O socialismo, pois, não é apenas uma confortável e distante utopia, para a qual devo dar provas de caráter e de coragem somente daqui a 10, 50 anos ou, quiçá, nunca. Essa é a diferença – da perspectiva libertária, emancipadora e autônoma - dos que defendem a construção de um projeto democrático popular desde baixo, « desde bajo »: o futuro começa hoje.

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Mione Sales – é assistente social, doutora em Sociologia (USP) e professora do Depto de Políticas Sociais (FSS/Uerj). Contato: mioneecia@hotmail.com

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Links
(Bloco na Rua)
(Pra não dizer que não falei das flores)
(O medo de amar é o medo de ser livre)
(Os sonhadores, de B. Bertollucci)
(Zapatistas)

2 comentários:

  1. Querida Mione,
    A conjuntura política de nosso país nos fez rever posições e penso, trouxe um novo momento e oportunidade de construirmos uma "Frente Ampla" brasileira!!!! Sua reflexão é mais que oportuna, é corajosa e lúcida. Compartilho com você.
    Daqui mando um grande abraço.
    Bjs,
    Esther

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  2. Obrigada pela visita e pelo seu recado, Esther, que estendo aos demais blog-leitores, pois compartilho também desse sentimento e avaliação. Quem diz "Frente" diz diversidade, heterogeneidade, mas com abertura e possibilidade, esperamos!!!, de mais "escuta" da esquerda e dos movimentos sociais. Disso, não devemos abrir mão, dentro de um projeto de contra-hegemonia mais amplo e geral no Brasil. Um grande abraço saudoso, Mione*

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