segunda-feira, 17 de maio de 2010

Editoria Caleidoscópio Baiano

Debates marcam o Dia do Assistente Social na Bahia


Claudia Correia*


Fortalecer o projeto ético-político-profissional, contribuir para ampliar os direitos sociais, combater todas as formas de preconceito e lutar pela inserção do assistente social na Política Pública de educação. Essas foram as palavras de ordem que marcaram as comemorações do 15 de maio- Dia do Assistente Social em Salvador.

Muitas atividades foram programadas até o final do mês e a participação de estudantes e profissionais, inclusive do interior do estado, é significativa este ano.

Como no resto do país, na Bahia assistimos uma “explosão” de novas Faculdades e pulamos de um para onze cursos de Serviço Social num espaço de 7 anos. A pioneira Escola de Serviço Social da Universidade Católica do Salvador- ESSUCSal completa 66 anos. Hoje temos ainda duas públicas (UFBA e Universidade Federal do Recôncavo) e oito privadas, além de uns quatros cursos na modalidade ensino à distância - Ead.

Os efeitos desse processo são : precarização dos vínculos empregatícios dos professores, escassez de estágio e a conseqüente disputa/rivalidade entre os estudantes, pouco investimento em pesquisa/extensão e baixa qualidade de alguns projetos pedagógicos.

Um panorama geral do que rolou por aqui nesta semana:

Participei no dia 08, do Seminário da Campanha “Serviço Social nas escolas já” promovido pelo vereador Orlando Palhinha(PSB) no Centro de Cultura da Câmara. O evento reuniu 550 pessoas. Alguns diretores de escolas públicas deram depoimentos sobre a complexidade da questão social expressa no contexto escolar e a importância de incluir o assistente social na equipe interdisciplinar. O vereador é autor de dois projetos de indicação aos governos municipal e estadual para a criação do “Serviço Social escolar” e deverá entregar um abaixo assinado ao governador e ao prefeito em apoio às propostas. Tramita na Assembléia Legislativa, desde 2003, um projeto de lei do deputado Javier Alfaya(PCdoB) sobre a mesma matéria. Fiquei muito bem impressionada com o relato da experiência da colega Luciene Santos que atua há oito anos na Escola Parque, uma escola modelo de há de 50 anos, criada pelo conceituado educador Anísio Teixeira.

Campanha pela inclusão do Serviço Social na Educação ganha força na Bahia


Diretora de escola no subúrbio de Salvador adere a campanha

Dia 10 fui à audiência pública da Frente Parlamentar Estadual em defesa da Assistência Social, no Ministério Público. A Frente é presidida pelo deputado Yulo Oiticica (PT) que tem mobilizado outros deputados para a implementação do SUAS – Sistema Único de Assistência Social na Bahia, cujo processo apresenta entraves pelos reduzidos recursos e insuficiência de pessoal técnico. A luta por concurso público, aprovação dos projetos de leis fixando a jornada de trabalho em 30horas e determinado o piso salarial dominaram os debates. Os avanços conquistados através da SEDES-Secretaria de Desenvolvimento Social para revertermos os péssimos indicadores sociais do estado ainda soam tímidos na minha avaliação. A assessora da Frente Nacional em defesa da Assistência Social deu informes sobre as lutas travadas na Câmara Federal e o andamento dos projetos de lei de interesse da categoria.

De 11 a 13, aconteceu no Centro de Convenções, o II Congresso Estadual de Assistentes Social, promovido pelo CRESS-Ba Conselho Regional de Serviço Social. Os colegas do interior marcaram uma bela presença. Com o tema “Organização política dos/as assistentes sociais em tempos neoliberais”, o evento trouxe à Salvador Ivanete Boschet , Presidente do CFESS, Elaine Behring, Presidente da ABEPSS,Socorro Cabral, Ex-Secretária Geral da ANAS e Sãmia Ramos, Coordenadora Nacional de graduação da ABEPSS para a Mesa de abertura sobre as lutas coletivas X a crise capitalista.

Apenas seis trabalhos e dois posters foram apresentados no evento, o que nos desafia a sistematizar mais nossas experiências. Aproveitei para compartilhar com os colegas das minhas reflexões a partir do Projeto Escola Cidadã, que iniciei agora no Centro Digital de Cidadania da Câmara Municipal de Salvador.


Público lotou o Centro de Cultura da Câmara Municipal
As Plenárias Temáticas abordaram: o Serviço Social na Seguridade, a formação profissional e Serviço Social e Meio Ambiente.

Para mim o ponto alto do Congresso foi a Mesa redonda : “Consolidação do projeto ético-político profissional e a luta em defesa das políticas afirmativas” com as brilhantes exposições de Magali Almeida (UERJ) e Cristina Brites (UFF). A conferência final ficou a cargo de Elaine Behring sobre ; “O mundo do trabalho e a resistência dos trabalhadores: embates e desafios da atual conjuntura”.

Dia 14, na Assembléia Legislativa, uma sessão especial da Frente Estadual Parlamentar, foi realizada para homenagear os 66 anos da ESSUCSal e destacar com um pequeno troféu, o trabalho de 15 colegas pela efetivação da política de Assistência Social na Bahia, dentre elas , eu. Acredito que tudo que temos conquistado deve-se a nossa capacidade de articulação política através dos conselhos municipal e estadual de assistência social, mas, ainda há muito o que avançar. A Bahia é o único estado cuja lei que cria o Conselho estadual de Assistência Social estabelece como “presidente nato”, o secretário da SEDES.

O grande saldo que sempre temos destes eventos é a troca de afetos, conhecimento e informações para traçarmos juntos, como fazemos há anos, estratégias de enfrentamento coletivo. Vivemos tempos difíceis no cenário econômico e político, que exigem nossa lucidez e ação competente tanto na dimensão técnica-operativa como ético-política. O combate às desigualdades sociais no país ainda requer investimento alto das políticas públicas. Nossa participação política precisa ser renovada com ousadia e criatividade. A formação profissional de qualidade é ameaçada pelo formato do ensino à distância e pela precariedade de alguns cursos presenciais. A ampliação de nossos espaços sócio-ocupacionais é necessária mas, numa perspectiva intersetorial e de garantia de acesso à direitos e não numa luta restrita ao corporativismo.

Fiquei muito motivada com algumas propostas debatidas nos eventos que participei como a criação de um fórum de supervisores acadêmicos e de campo e o fortalecimento das comissões temáticas do CRESS.

Mais uma vez, tive a certeza que só coletivamente somos capazes de interpretar cenários adversos como o nosso e descobrir novas formas de organização para fazer valer nossos direitos como trabalhadores sociais e o protagonismo da população usuária dos serviços e dos movimentos sociais.

Por enquanto fico por aqui. Mando mais notícias de outras atividades que ainda virão.Vou organizar um material que colhi com uma colega que atua hoje em Angola e que passou por Salvador este mês. Um olhar interessante sobre a questão social neste país.

Parabéns a todos os colegas assistentes sociais por levar à frente, no cotidiano, a nossa utopia por uma sociedade plural, democrática e justa.



Claudia Correia, assistente social, jornalista, profª da ESSUCSal, Mestre em Planejamento Urbano. Contato: ccorreia6@yahoo.com.br.

Um comentário:

  1. Claudia, parabéns pela matéria, retrata aspectos importantes das discussões que foram travadas na Bahia no mês de maio.

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