Do Meb à Web: a rádio na educação
Claudia Correia*
Este título é o do livro que será lançado na Escola de Teatro da UFBa, em Salvador, no próximo dia 1º de junho, organizado por Sandra Tosta (PUC-MG) e Nelson Pretto(UFBa).
Fiquei encantada com a iniciativa. Trata-se de um panorama do uso do rádio na educação em diversos países, feito por pesquisadores da Bahia, São Paulo e Rio, apoiados pelo Programa de Bolsas de Iniciação Científica (Fapesb e CNPq). O grupo congregou pesquisas de estudantes e professores de graduação, mestrado e doutorado que pensam o rádio de uma maneira mais ampla, valorizando o seu histórico papel na formação cultural brasileira.
Como fruto desses projetos na Bahia, contamos hoje com a Rádio Faced Web e a Rádio Ciberparque Anísio Teixeira, mantidos pela Faculdade de Educação da UFBa, além da Rádio Teatro Web, voltada para a radiodramaturgia, produzida pelo talentoso ator baiano Gideon Rosa.
Nelson Pretto lembra que a idéia do livro surgiu exatamente para resgatar a importante função social do rádio e valorizar o seu papel no mundo da cibercultura. É ele que nos faz viajar nas ondas deste veículo tão próximo de nosso cotidiano:
“O rádio está presente na vida dos brasileiros de forma intensa. São mais de 90% dos domicílios com rádio. Estes aparelhinhos encantam a todos, inclusive ao dramaturgo alemão Bertold Brecht que, na década de 20, já acreditava que se em cada residência existisse um aparelho de rádio capaz de enviar e receber mensagens, estariam dadas as condições para se instaurar uma esfera pública cidadã, sustentada pela infraestrutura técnica.”
O potencial do rádio é de fato enorme. Com a internet muitas rádios passaram a transmitir pela rede. Alguns grupos formaram suas webrádios, ampliando muito as possibilidades de uso particularmente para a educação e a cultura.
Sobre o jogo de palavras do título do livro, Preto explica:
“Na década de 60, antes do golpe militar,diversas organizações e governos atuavam para combater o analfabetismo que até hoje nos deixa perplexos pelos seus números assustadores. Em Pernambuco, governo por Miguel Arraes(1960-1964) começou um intenso movimento de educação que, nas palavras de José Marques de Melo, se constituiu numa revolução popular, usando a mídia como arma, tendo por alvo a escola e valendo-se da cultura popular como projétil. Tal experiência transcorreu de forma paralela e sintonizada com o Movimento de Educação de Base(MEB), baseado na obra de Paulo Freire.
Depois de uma conversa na reunião regional da SBPC em Teresina, conversando com o professor José Peixoto sobre suas experiências na época do MEB e minhas experiências com software livre na Faculdade de Educação da UFBa, veio à cabeça um movimento da letra M virando W e nasceu assim o título deste livro.”
Quero conferir de perto este lançamento e entender mais sobre as experiências de rádios na web inclusive as com um perfil mais comunitário. Precisamos de uma política de apoio às rádios comunitárias, tanto quanto democratizar o acesso às tecnologias que ampliam o raio de ação delas.
Na próxima segunda (24) será lançado outro livro na UFBa, Aqui ninguém é branco, da pesquisadora suíça radicada no Brasil Liv Sovik. Ela discute a identidade brasileira, a apropriação de valores afrodescendentes, o preconceito, a mestiçagem e mito da democracia racial. A música popular brasileira é a matéria prima de Liv para questionar a apropriação de valores afrobrasileiros pelos brancos e tentar desconstruir o mito da democracia racial. A crítica à obra e postura de celebridades baianas como Caetano Veloso e Daniela Mercury promete gerar muita polêmica. A publicação é da Editora Aeroplano e já foi lançada também em São Paulo e no Rio, onde a autora vive há anos e ensina hoje na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Incrível esta minha terra. Fértil de idéias criativas que pulsam nas ruas, nas Universidades, nos bares da vida e nas cabeças pensantes que não se conformam com rótulos medíocres como “terra do axé” e outras banalidades.
A chamada grande mídia não abre espaços para iniciativas acadêmicas que guardam um vínculo mais forte com movimentos sociais. Quase não há cobertura sobre trabalhos como estes, vende mais falar do filho de Ivete Sangalo, do rebolation e de outros subprodutos da indústria cultural baiana.
Enfim....daqui vamos tocando a vida e garimpando o que vem de bom de uma parte da vida inteligente que habita aqui.
Claudia Correia, assistente social, jornalista, profª da ESSUCSal, Mestre em Planejamento Urbano. Contato: ccorreia6@yahoo.com.br
Claudia, também tenho que deixar o meu encantamento e satisfação com essa iniciativa dos pesquisadores, de espraiarem cada vez mais a importância do rádio, como veículo de comunicação. Penso que ele assume um caráter muito especial, através do uso da internet, na perspectiva de rádios comunitárias e, também, como uma ferramenta na educação. Sou apaixonada pelo rádio e cada que tomo conhecimento de novas iniciativas ligadas a ele, como dizem os gaúchos, fico tri-alegre. (rs)Valeu pela informação desses dois lançamentos de livros.
ResponderExcluirQue bacana esses livros, Clau! De fato e que bom que a Bahia é muito maior e melhor que o fenômeno da "rebolation". abraços, Mi*
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