sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Editoria Volta do Mundo, Mundo dá Volta

Ya basta! –
25 DE NOVEMBRO - DIA MUNDIAL DE LUTA CONTRA A VIOLENCIA FEITA AS MULHERES





Mione Sales*

Todos os anos, desde 1999, comemora-se em 25 de novembro o dia mundial de luta contra a violência feita às mulheres. Esta é uma ocasião em que as entidades feministas dos mais diversos pontos do globo tentar dar visibilidade às consequências dramáticas da violência sexista. Procuram interpelar os governos e atrair a sensibilidade e atenção da população.

Para não tingir ainda mais de vermelho as nossas páginas com dados de mortes, espancamentos e torturas feitas a meninas, adolescentes, mulheres e idosas, preferi pôr em evidência aquele momento que precede a coragem da denúncia. A poeta, Cecília Meireles, fala disso. Sabemos todas que basta dar um passo e não se está mais no mesmo lugar. Façamos!

Em memória de todas a mulheres que não chegaram a dar esse passo e pereceram tristemente em vão.

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Tu tens um medo

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Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
Não ames como os homens amam.
Não ames com amor.
Ama sem amor.
Ama sem querer.
Ama sem sentir.
Ama como se fosses outro.
Como se fosses amar.
Sem esperar.


"Ophélie et Hamlet"
Tão separado do que ama, em ti,
Que não te inquiete
Se o amor leva à felicidade,
Se leva à morte,
Se leva a algum destino.
Se te leva.
E se vai, ele mesmo...
Não faças de ti
Um sonho a realizar.
Vai.
Sem caminho marcado.
Tu és o de todos os caminhos.
Sê apenas uma presença.
Invisível presença silenciosa.
Todas as coisas esperam a luz,
Sem dizerem que a esperam.
Sem saberem que existe.
Todas as coisas esperarão por ti,
Sem te falarem.
Sem lhes falares.
Sê o que renuncia
Altamente:
Sem tristeza da tua renúncia!
Sem orgulho da tua renúncia!
Abre as tuas mãos sobre o infinito.
E não deixes ficar de ti
Nem esse último gesto!
O que tu viste amargo,
Doloroso,
Difícil,
O que tu viste inútil
Foi o que viram os teus olhos
Humanos,
Esquecidos...
Enganados...

"La Victoire"
No momento da tua renúncia
Estende sobre a vida
Os teus olhos
E tu verás o que vias:
Mas tu verás melhor...
... E tudo que era efêmero
se desfez.
E ficaste só tu, que é eterna.

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[Fonte: MEIRELES, Cecilia. « Cântico VI ». Cânticos: oferenda. SP, Moderna, 1990.]

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Mione Sales – é assistente social, doutora em Sociologia (USP) e professora de Serviço Social (FSS/Uerj).

CECILIA MEIRELES


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