sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A questão da pobreza é cultural e histórica



Em minhas visitas a blogosfera, uma das paradas obrigatórias é no blog do Jornalista Sidney Rezende. Em março, mais precisamente no dia 18 de março, encontrei o seu post "Cenas do Cotidiano", que pontua o seu olhar sobre a “diferença entre ricos e pobres” em nosso país, e sua possível causa “nossa incompetência”.

Antes de prosseguir, quero fazer um parêntese sobre a gênese deste artigo – a pobreza -; que tem sido apontada em algumas ocasiões pelo jornalista e, que dá uma possibilidade de repensarmos o nosso paradigma sobre esta questão social, com um olhar antropológico, que como sinalizam alguns estudiosos do Serviço Social, nos possibilita maior clareza em nossos posicionamentos e ações profissionais. Olhar antropológico tem em sua base: a alteridade; o etnocentrismo e relativismo.

Não falarei em alteridade, pois teria de falar de cultura, da diferença como alguma coisa constituída do ser humano. Toda sociedade tem o seu “controle social”, regras sociais que devem ser seguidas de acordo com as tensões sociais que são por ela geradas, mas que podem ser transgredidas. Lidar com as diferenças nas sociedades em geral se traduz em dificuldade.

Também não me aprofundarei no etnocentrismo, que é uma visão que atravessa as diferenças de culturas, onde se tem uma compreensão de hierarquia – do melhor para o pior -; uma atitude etnocêntrica é ver o outro tomando a si mesmo com parâmetro social de humanidade. Essa visão hierárquica é recheada de sinais de +/-, sendo o + sempre a sua visão pessoal e o outro é visto sempre como o -, aproximando-o do que pode parecer consigo mesmo.

E quanto ao relativismo, que é um dos fundamentos antropológicos mais usados na contemporaneidade, pontuarei o que no meu entender seja mais importante, a possibilidade que nos proporciona de olhar o outro o aceitando como ele é; cada sujeito tem algo a dizer, que deve ser considerado importante como símbolo de pertencimento a uma mesma humanidade.

Diante destas primeiras reflexões, passo então a fazer meu ensaio sobre a mensagem do leitor, a qual gerou o “Cenas do Cotidiano”, um assistente social, morador do Humaitá, que foi assaltado por uma “menina” do Santa Marta que ressalta o seu reconhecimento quanto ao preconceito contra os “pobres”, ainda mais quando esses são moradores de favelas; a adjetivação de “favelados” ajuda a “perpetuar a falta de oportunidades”, conclui.

O viés para manifestar o seu olhar quanto a este preconceito incidiu sobre outro post do Sidney Rezende, que tratava da inclusão digital no Morro Santa Marta, cuja reação de alguns internautas quanto a esta inclusão social era traduzida por oposição.

Bem para finalizar as minhas reflexões, que continuam pululando na minha cabeça, gostaria que elas se expandissem através de outras mentes brilhantes sobre a questão da pobreza que é cultural e histórica, e tem um percurso de cinco séculos: de sua naturalização às formas organizadas de ajuda aos pobres; a institucionalização da assistência e a profissionalização dos seus agentes.

Sendo então recorrente nas sociedades antigas e nas modernas é importante discutirmos, independente de nossas ideologias político-partidárias, mas com um compromisso ético-político. Isso nos aproxima de uma proposta de superações das nossas “fronteiras pessoais”, desse modo temos de abandonar também, a idéia de que essa atitude de consenso seja uma utopia. A diminuição das desigualdades sociais se concretiza, então, por ações articuladas entre sociedade civil e o Estado.

O uso oportuno da informação de muito combateria e de modo eficaz, o uso muitas vezes assistencialista, e o populismo engendrado em algumas ações e serviços sócio-assistênciais por alguns gestores públicos.
Fico esperançosa quando observo uma disponibilidade de alguns jornalistas e demais profissionais da comunicação, com uma disponibilidade pública, de viabilizar espaços através de seus instrumentos de trabalho, as mídias: rádio, televisão, jornais, cinema e internet, para a discussão e publicização das questões sociais, dentre elas a mais aviltante: a extrema pobreza.

*Nelma Espíndola
Assistente Social.

Fonte: www.sidneyrezende.com/noticia/33456+cenas+do+cotidiano

2 comentários:

  1. Nel, eu ainda não tinha lido esse! Bem interessante. Tem tanto a se discutir a respeito: o preconceito, a perspectiva do "espelho", os muros invisiveis, enfim. Apenas a primeiro de outras reflexões afins, espero. Um grande abraço, Mi*

    ResponderExcluir
  2. Obrigada Mi. É verdade, precisamos mesmo discutir de um modo mais profundo e ilustrativo o que a gente vê e ouve no nosso cotidiano. Infelizmente.
    Um grande abraço, Nel.

    ResponderExcluir

Deixe seu comentário e/ou impressão...