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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Editoria Equipe Mídia e Questão Social

Vozes das favelas

Fiel, um dos idealizadores


Não existe uma nem duas vozes na favela. São milhões. Faz muito tempo, a esquerda e a intelectualidade crítica gostava de dizer que era preciso "dar voz" a esse povo. Como se eles dependessem de nós para dizer alguma coisa. O que faltava, e ainda falta, é a gente aprender a ouvir. Não os "pobres". Mas os diferentes.

De uma multiplicidade de vozes e realidades. Dos tantos sonhos, desejos, medos e crenças de que somos feitos, nós, seres humanos, nós habitantes do Rio de Janeiro, as notícias dos últimos dias parecem dar conta só de duas ou três vozes.

Estado, polícia e exército, em sua função de ordem e repressão.

Traficantes pobres, em sua função de bárbaros, desprovidos da palavra, a se expressarem pelas armas.

População das favelas, ontem cúmplice do crime, hoje ganhando o espaço de aliados da polícia.

Montado o enredo, as vozes dissonantes até podem aparecer nas notícias. Mas não em sua razão própria. Apenas como desvio. Então surge o desrespeito policial às casas na favela. Surge a milicia. Surge... sei lá mais o quê. Mas nada que possa mudar o rumo da prosa, que possa destoar o coro afinado da luta do bem contra o mal.

Ainda bem, as vozes verdadeiramente dissonantes continuam insistindo, obstinadamente, em se fazer ouvir.Uma delas é a do Mc Fiell, rapper e militante do morro Santa Marta, a primeira favela "pacificada" do Rio de Janeiro. Vale à pena ler o jornal do grupo dele, o Visão da Favela Brasil. O título é sugestivo: "Você também é Complexo do Alemão".



Um abraço,


Equipe Mídia e Questão Social

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Editoria Web@Tecno

                            
                                 Fotos Celular: Nelma Espíndola


“Da Janela Lateral”
De onde os bem-te-vis cantavam


Nelma Espíndola*


“Da janela lateral
Do quarto de dormir
Vejo uma igreja
Um sinal de glória
Vejo um muro branco
E um vôo, pássaro
Vejo uma grade
Um velho sinal...”

Fernando Brant/Lô Borges



A pré-invasão


Na última terça-feira (23), não acordei ao som dos bem-te-vis que cantam abaixo de minha janela, solenemente pela manhã. O sol não veio forte. Pus-me a sair da cama, sem a quentura que me cobre o corpo sempre que ele nasce com vigor lá no horizonte. Nada disso! O dia amanheceu silencioso, nublado e tive de fazer um esforço a mais para me levantar, pois tinha um compromisso de trabalho na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

No trajeto para lá, na Av. dos Democráticos, presenciei com certo temor, o que seria o início das incursões das polícias civil e militar no decorrer da semana; nesse dia a favela de Manguinhos estava tendo a “visita” da Polícia Civil. Homens com armas em punho, adentrando pelas vielas, mulheres e crianças saindo delas. Na Av. dos Democráticos, o trânsito correndo, as calçadas com pessoas nos pontos de ônibus, mas o que tornava aquele quadro mais triste eram os fogos estourando no céu. Os passageiros do ônibus em que eu estava mostravam caras de apreensão e medo. Da janela do coletivo, avistava os mais expostos de sempre, dormindo nas calçadas, com seus lençóis sujos, aglutinados: crianças, adolescentes, jovens... Alguns com o corpo em meio ao lixo... Será que dá para dizer que são mesmo “invisíveis”? São os habitantes da Cracolândia, que se estende até a entrada da Favela do Jacarezinho, o Point do Crack.


Meu retorno à tarde para casa foi tranquilo. Vim como todos os dias de trem, depois de ir da Estação da Mangueira até a Central do Brasil e de lá para a Penha, bairro que faz parte da minha história de vida. Local pelo qual tenho amor. Nesse trajeto, acompanhada de duas outras amigas assistentes sociais, falávamos sobre as desigualdades sociais, a má distribuição de renda e o esforço louco visto e vivido cotidianamente por “nós”, trabalhadores usuários dos trens, nas correias de ocupação de cada composição, para ir para casa sentados... Com um detalhe: os trens mais velhos e menos confortáveis são aqueles disponibilizados para os usuários da Baixada Fluminense!