sábado, 16 de julho de 2011

Editoria Fazendo Arte e Educação

SERVIDORES PÚBLICOS ESTADUAIS
Nunca tivemos tantas razões para lutar



Ricardo Pereira*


Se fizéssemos largo uso de adjetivos e acusações, qual o Governo Sérgio Cabral, poderíamos arriscar metaforicamente dizer que o executivo estadual comanda uma das maiores quadrilhas de pilhagem dos recursos públicos da história fluminense. Sob a fumaça da propaganda de modernidade e eficiência alardeadas, a população do Rio de Janeiro sente-se, na prática, saqueada, por meio de uma sucessão de negociatas, farsas e tramas nos bastidores. Collor e José Roberto Arruda (Distrito Federal) por muito menos sofreram o impeachment.

O trágico acidente que vitimou a noiva do filho de Sérgio Cabral não pode ocultar o fato de que o governador estava na Bahia, em estreito convívio com a direção da construtora que mais fatura no governo federal, estadual e municipal, a Delta Construções. Em 2010, a Delta faturou mais de R$ 750 milhões junto ao governo federal. Clique aqui e conheça a extensa lista de obras públicas da empresa no Rio de Janeiro, onde tem a sua sede.

Trecho de matéria publicada em maio passado pela Veja. Íntegra aqui.

Enquanto isso os servidores públicos do estado do Rio de Janeiro, em luta por reajustes e contra os piores salários pagos no País, mais terríveis condições de trabalho, paralisaram suas atividades, após meses de tentativas de negociação, sem nenhuma resposta do governo Sérgio Cabral.




Com contracheques mensais de apenas R$950,00, os bombeiros na luta por melhores salários passaram a ser tratados como vândalos - tendo 439 companheiros presos. Esta é a triste retribuição a quem arrisca a sua própria vida, todos os dias, para salvar uma infinidade de outras.

Já os professores e médicos são chamados de vagabundos. Desconhecem o governador e seus assessores seguramente a maratona diária feita por esses profissionais, que se desdobram para conseguir atingir uma soma mais respeitosa no final do mês. Para dar uma ideia da realidade fluminense, vale dizer que os professores, verdadeiros heróis da educação, ganham, em início de carreira, apenas R$610,00.

Este quadro merece, sem dúvida, uma reflexão sobre os fatos e, principalmente, sobre o péssimo hábito do governo estadual de desqualificar publicamente os seus servidores. Será esta mais uma estratégia para esconder o nível dos serviços prestados à população? Ou uma forma de desfocar a responsabilidade do Governo Sérgio Cabral frente ao pagamento de salários aviltantes ao funcionalismo estadual?



Enquanto isso nas salas de aula...



Como o cinismo do governo pode ser tão grande, a ponto dele propor uma equiparação na GLP? Para quem não sabe, GLP* [Gratificação por Lotação Prioritária] é a dobra feita por muitos professores, porque o salário não dá para pagar as contas, apenas com o valor relativo ao salário base. Isso é aventado como se fosse um ganho real! Na verdade, os professores precisam é diminuir sua carga horária, já que muitos deles têm sido acometidos de doenças em função do alto índice de estresse e excesso de trabalho.

Por que será que os jornais do nosso estado não anunciam, para todos os seus leitores, que a média gasta pelo governo Sergio Cabral é de apenas de R$40,00 por mês com um estudante da Rede estadual? O governo gasta uma banana por estudante/aula. Não acredita? Então vamos às contas:

Você sabia que um professor ou professora, que ingressa na educação do estado do Rio de Janeiro, recebe uma média de R$0,56 por estudante/aula. Isto, considerando que a sala de aula tenha vinte e cinco alunos. Esta conta é muito simples. O docente que ingressa no magistério recebe R$680,00 para trabalhar 16horas por semana. Dessas 16h, 4h são para planejamento (não preciso nem dizer que 4 horas para planejar é fictício, pois a maioria gasta muito mais horas). Portanto, o docente deve ministrar 12h de aula. Isto significa quem em um mês, o docente trabalha 48h/aula. Se dividirmos o valor do salário por este total de horas, teremos o investimento numa hora/aula de R$14,16. Imaginemos uma sala de aula com 25 estudantes, se dividirmos a hora/aula por 25, chegamos ao valor de R$0,56.

Cabe aqui o seguinte adendo: a política de “enxugamento” da Secretaria de Educação, isto é, de diminuição do número de turmas, tem provocado o aumento abusivo de estudantes em sala de aula. Por vezes, elas têm comportado até 55 estudantes. Consideremos, assim, uma turma com quarenta e cinco alunos, o valor da hora aula por estudante passa a ser, então, de R$0,31.

Logo, chegamos à estimativa de que o estado do Rio de Janeiro gasta, por semana, uma média de R$9,85 com a educação de um aluno. Ou seja, mais ou menos R$40,00 por mês com cada estudante. Os filhos dos trabalhadores, ou mesmo, os próprios trabalhadores que precisam estudar estão destinados a um investimento pífio com a sua educação.

Desse jeito, como podemos acreditar que a educação está recebendo investimentos ou que esteja havendo algum esforço para mudar a situação atual?

Quando os profissionais de educação chegam ao ponto de fazerem paralisações ou greves, é porque a situação está insustentável.

Ninguém quer parar as atividades apenas por um bel prazer. Quem permanece trabalhando nestas condições é porque acredita muito no que faz. E vamos e venhamos, será que, também, não faz parte da dignidade humana trabalhar naquilo que escolhemos livremente? Isso é democracia, certo? Isso também é direito humano, não é?

Sou professor, porque gosto e acredito. Esta é a minha escolha. Não me vejo fazendo outra coisa, embora muitas vezes pense em mudar para algo que pague melhor. Mas, a cada aula dada na escola pública percebo que a transformação também vem desse espaço. E não vou deixar, sem luta, que um governo descompromissado com os valores democráticos e públicos destrua o que passei anos construindo.




*GPL – Gratificação por Lotação Prioritária significa hora extra dos professores do estado do Rio de Janeiro. A cada matrícula (12 tempos em sala de aula) que um professor do Estado tem na Secretaria de Educação do Estado, ele pode pegar até duas GLP’s (24 tempos em sala de aula); totalizando 36 tempos em sala. No caso de duas matrículas, o professor só poderá pegar uma GLP de cada uma delas, totalizando 48 tempos em sala de aula. O acesso a essa gratificação é feita numa negociação com a direção da escola.
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Ricardo Pereira – é professor Docente da disciplina de Artes da rede estadual. Contato: e-mail: ricardoploc80@globo.com


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2 comentários:

  1. Vagando nessas tantas ruas virtuais, encontrei tua porta de amante das Letras aberta - e entrei. Devo anunciar-me como um desses que diz "Oi, de casa! Trago aqui em minhas mãos a chave para dias melhores: escrevo e vendo livros!". Assim, venho te convidar para visitar o meu blog e conhecer as sinopses de meus romances, a forma de adquiri-los e, posteriormente, discuti-los. Três deles estão disponíveis inclusive para serem baixados “de grátis”, em formato PDF.
    Um grande abraço literário,

    João Bosco Maia

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  2. Essa é nova, até os blogs agora vivem de utilizar o Arruda para justificar problemas no país...

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