Jovens
negros continuam sendo as maiores vítimas da violência letal no Brasil
Documentário relata vida de uma destas vítimas
Em 2010 morreram 49.932
pessoas no Brasil por homicídio. 26,2 pessoas a cada 100 mil habitantes. 70,6%
delas eram negras. 53,5%, jovens entre 15 e 29 anos.
Estes, e outros dados,
foram colhidos do DataSUS (estatísticas desenvolvidas a partir das realidades
vivenciadas pelo Sistema Único de Saúde no país) e pelo Mapa da Violência 2011.
Contam de artigo produzido por Paulo Ramos, especialista em análise política e
mestrando em sociologia (a íntegra foi publicada pela Carta Capital e pode ser
consultada
em http://www.cartacapital.com.br/sociedade/a-violencia-contra-jovens-negros-no-brasil/).
Republicamos, abaixo,
entrevista sobre um documentário que retrata a vida de uma destas vítimas.
Sabotage, o "Maestro do Canão" (localizada na capital do Estado de
São Paulo), teve sua vida interrompida por quatro tiros em 2003. Para Ivan Vale
Ferreira (diretor do filme que será lançado em 2013), trata-se de uma perda do
porte das de Cássia Eller e Chico Science para a música brasileira.
Diferente do que se costuma
anunciar pela imprensa brasileira, as maiores vítimas da violência não são de
classe média. São pessoas pobres, negras, jovens - exatamente o mesmo perfil
que predomina no sistema prisional do país. Violência e desigualdade social
continuam andando juntas.
Brasil de Fato -
experiência alternativa de mídia
Como já denunciamos em
várias postagens de nosso blog, a mídia no Brasil continua concentrada nas mãos
de pouquíssimas famílias. Sempre vale voltar ao ótimo curta-metragem
"Levante sua voz!", do Intervozes, que denuncia com humor e qualidade
esta realidade.
Mais de 90% do que chega ao
nosso conhecimento é produzido - ou passa pelo crivo - de cerca de 11 famílias.
Mesmo o suposto "território livre" da internet tem como mais
acessados sites que pertencem a estes mesmos grupos.
Enquanto nos juntamos aos
movimentos sociais que já lutam pela democratização da comunicação no Brasil, a
partir desta postagem tentaremos socializar algumas produções de veículos de
comunicação alternativos. Eles não terão, necessariamente, conteúdo com que
todos concordemos (a pluralidade é uma característica de mídias efetivamente
livres). Mas demonstrarão que há outras formas de interpretar a vida social
além das que lemos nos grandes jornais e sites, que ouvimos pelas grandes
rádios ou que assistimos nas grandes emissoras de televisão.
O fato de republicarmos
matérias, entrevistas, artigos e outros destas produções não nos impede de
apoiar, efetivamente, sua existência. Assine publicações alternativas. Divulgue
seu conteúdo. Como afirma a equipe do próprio Brasil de Fato, é uma forma de
contribuir para "elevar o nível de consciência do povo, para que lute por
mudanças por uma sociedade justa".
A equipe do blog "Mídia e questão
social"
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A breve trajetória de Sabotage, o Maestro do Canão
Diretor de documentário fala da criatividade do rapper, que
morreu no auge da carreira, e hoje é considerado uma lenda no movimento Hip
Hop; versatilidade fez Sabotage ser comparado a grandes nomes da música
nacional
23/11/2012
José Francisco Neto
da Redação
da Redação
Na manhã do dia 24 de janeiro de 2003, uma das maiores vozes do
rap nacional era calada. Mauro Mateus dos Santos, o Sabotage, foi assassinado com
quatro tiros perto de casa no bairro da Saúde, Zona Sul de São Paulo. Neste
dia, o rapper iria cantar no Rio Grande do Sul.
O “maestro do Canão” – referência à favela em que morava –
entrou para a história como músico e ator. Considerado uma lenda no movimento
Hip Hop, Sabotage começou a carreira em 1988, quando se inscreveu em concursos
de rap. Num deles, no salão Zimbabwe, conheceu Mano Brown e Ice Blue, ambos do
Racionais MC's, que se impressionaram com a performance de palco dele. Mas foi
com o grupo RZO (Rapaziada Zona Oeste) que Sabotage viu seu trabalho repercutir
no rap nacional.
Na sequência, gravou o primeiro e único disco solo, intitulado
"Rap é Compromisso", gravado pelo selo Cosa Nostra, o mesmo que
lançou o disco "Sobrevivendo no Inferno", dos Racionais MC's.
Além de rapper, Sabotage também atuou no cinema. Participou do
filme “O Invasor”, de Beto Brant, e também de “Estação Carandiru”, de Hector
Babenco.
O rapper agora voltará à cena, no documentário “Sabotage, o
Maestro do Canão”, que será lançado no 1º semestre do ano que vem. Além do
circuito comercial, será exibido em mostras itinerantes nas periferias.
Dirigido por Ivan Vale Ferreira, da 13 Produções, o
documentário traz depoimentos de diversos músicos e pessoas ligadas a ele,
demonstrando a importância desse artista que misturou estilos e se tornou uma
lenda após sua morte.
Em entrevista ao Brasil de Fato, o
diretor do documentário fala da trajetória do rapper e da falta que ele faz
hoje no cenário musical.
Brasil de Fato - Como surgiu a ideia de
fazer o documentário sobre a vida do Sabotage?
Esse projeto começou em 2002. Ele é fruto de outro projeto que
eu já realizei, um documentário que se chama “Favela no ar”. Nesse documentário
chegaram dois gringos aqui no Brasil, e eles fazem um trabalho bem legal de
viajar o mundo pegando cultura underground dos lugares. Na pauta deles estava o
Brasil. Eles vieram pra cá e, em São Paulo, precisavam de alguém para ajudá-los
na produção. Na época indicaram meu sócio, o Tiago Bambine, que me chamou para
fazer o projeto com ele. A gente foi produzir entrevistas com alguns artistas
do cenário mais underground do rap naquela época. A gente entrevistou o RZO, o
509-E, o Kl Jay, o Xis, entrevistamos uma galera e o Sabotage também pra fazer
esse trampo. O início foi em junho, época da Copa do Mundo. Aí passaram-se seis
meses e o Sabotage foi assassinado, isso em janeiro de 2003. Esse material todo
que a gente tinha filmado estava lá com os gringos, eles iam ver o que iam
fazer ainda. Mas ia demorar o processo. Aí eu liguei pros caras e disse “bicho,
o Sabota morreu, eu queria que vocês mandassem o material da entrevista que a
gente fez com ele, porque eu tô querendo fazer um trampo aqui em homenagem a
ele”.
Aí
surgiu o primeiro documentário que se chama “Sabotage”, que na
verdade é uma entrevista que a gente fez com ele. Nesse documentário, ele fala
sobre diversos assuntos. Já passou na MTV e em vários festivais. De 2003 pra
cá, sempre que eu tenho um tempo livre, eu vou entrevistar algumas pessoas que
tem a ver com a história do Sabotage, porque na época eu decidi fazer outro
filme sobre ele, mas com as pessoas falando sobre ele. Desde então eu venho
fazendo isso. Venho filmando uma galera e comecei a sentir que isso tinha um
potencial muito grande. Quanto mais os anos se passavam, mais falta o Sabota ia
fazendo e mais histórias eu ia descobrindo dele.
Qual o objetivo principal do
documentário? O que você pretende apresentar ao público com ele?
A ideia do filme, na verdade, é resgatar realmente histórias
sobre ele, pois teve um tempo curto de sucesso. Não deu tempo exatamente para
as pessoas saberem quem ele era, as dificuldades que ele passou em vida, as
escolhas que ele fez, tanto as certas como as erradas. A gente não quer
romantizar a coisa sabe. Não to querendo fazer um filme pra sentir saudades do
cara. Eu quero fazer um filme para as pessoas entenderem a importância dele.
Tanto é que a gente entrevistou Héctor Babenco, Beto Brant, Paulo Miklos, são
pessoas que participaram desse momento em que ele chegou ao cinema nacional.
Uma coisa que é difícil e não é comum. Um músico, principalmente do Hip Hop,
ter essa atenção que ele teve. Não que ele tenha sido um ator de Oscar, mas ele
deixou uma sementinha ali, que todo mundo reconhece. Por outro lado, é a
questão da família, que passa necessidade até hoje. Ele tinha condições de com
a música dar uma vida melhor pra família dele. Ele estava chegando nesse nível,
mas não conseguiu por conta do tempo. A ideia do filme também é conseguir
levantar uma verba pra família. Metade do lucro que o filme gerar vai ser
repassado pra família dele.
Você teve contato com ele seis meses antes
de sua morte. Como que foi esse encontro e como que ele era?
Eu não convivi muito com ele, a gente passou um dia com ele e
depois fomos a alguns shows dele. Não foi uma relação de amizade, não tive essa
relação de intimidade pra te dizer como que ele era. Mas nessa minha pesquisa
eu conversei com os principais amigos dele. A gente chegou nele quando
estávamos produzindo o documentário, e falamos que tinha contato com os gringos
e que ia pra fora. Ele se mostrou super feliz em participar. Ele queria falar.
A gente fazia uma pergunta pra ele e ele respondia dez. Recebeu a gente bem e
ao mesmo tempo parecia que ele estava querendo usar aquilo a seu favor, tipo
uma oportunidade que ele tinha pra dizer o que pensava. Era um cara muito
comunicativo. Ele tinha esse poder de sorrir. Muita gente do rap foge disso.
Ele era um cara que olhava pra você, e não só te cumprimentava assim de longe,
mas te abraçava. Isso já quebra um monte de barreiras desse afrouxo inicial que
tem com o entrevistado.
Que falta que faz o Sabotage hoje para o rap nacional?
Que falta que faz o Sabotage hoje para o rap nacional?
Da esquerda p/ direita: Wanderson, Ivan e Paulo Miklos
O rap perdeu, pra mim, o seu principal ícone. Tem o Mano Brown que é um puta ícone, não tem como negar, mas o Sabota pro rap era a diferença. Eu acompanho muito as batalhas de MC´s nos saraus que a gente faz. É incrível como todo mundo cita ele. A molecada nova, qualquer rima que faz emenda que “o rap é compromisso, não é viagem”, “um bom lugar”, ele deixou frases que para sempre vão ser citadas. Mas além do rap, a música brasileira perdeu muito. Pra mim é como se ele fosse Cássia Eller, Chico Science, pessoas que morreram no auge da carreira, no auge do processo criativo e que tinham muito para doar pra história da música brasileira. Ele tinha um perfil parecido de conceito musical, de ser aberto e amplo. Eu acho que mais a música nacional perdeu do que o rap. O rap perdeu muito, mas acho que ele hoje teria uma importância fora do rap muito grande. Essa talvez seja a maior falta que ele faz, em ter pensado muito em fazer coisas diferentes e não ter tido tempo suficiente pra realizar. A música nacional foi quem mais perdeu.
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