segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Editoria Volta do Mundo, Mundo dá Volta

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SEGUE UM PRESENTE PARA TODOS VOCÊS...

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Contra a crítica roedora dos ratos

 abrindo o baú de poesia

Mione Sales*
(Texto e poemas)


Caros blog-leitores, vocês devem ter percebido o nosso silêncio pós-eleitoral… Investimos muito nos debates internos e externos, contribuímos todos explicitando os nossos posicionamentos e contando um pouco das nossas vidas… A trupe do blog ficou, afinal, conhecendo melhor a si mesma! Aprofundamos ainda mais os nossos laços de amizade e de camaradagem política. É… a verdadeira « festa da democracia » aconteceu bem aqui! Não foi privê, porque contamos com os vossos olhares e comentários, mas foi coisa de festinha discreta, festa de « apê », quase uma tertúlia política.

Bom, passada a onda verde, azul e vermelha que tomou conta do país, retomamos as nossas atividades mundanas que tinham ficado, senão paradas, em disfarçado segundo plano. Pois é… no entanto, lá se vão alguns dias que o forno de informações e inspirações do Mídia & Questão Social não é acionado, ou melhor, até vem sendo. Um começa aqui outro ali a escrevinhar um próximo artigo, mas ainda nenhum talvez esteja ainda no « ponto » de ir para a mesa e servir.
 

« Enquanto isso na sala de justiça », arrumando minhas coisas, essa tarde, dei de cara com uma pasta, onde guardo secretamente umas poesias minhas, dos tempos lá do Ceará. Fui sempre muito implacável com as minhas tentativas poéticas… Ao longo da vida, fui constatando, porém, que havia sido realmente implacável com os meus dezessete anos. Afoguei praticamente na banheira os meus sonhos de poeta, mas sobraram uns escritos. Como meu lado de « editora » quase sempre esteve de acordo com Karl Marx, que salvou A Ideologia Alemã da crítica roedora dos ratos, arrisco-me a compartilhar, em meio ao silêncio que se abateu no blog, quase clandestinamente alguns dos meus poemas, que vieram ao mundo em 1983, exceto o derradeiro em homenagem à minha fase carioca.


Palavra com temperatura, palavra *

O que escrevo

Palavras simples, palavras livres.

Cheias de significação,

Fora de limites ou regras,

Assim é meu poema.

Expesso o meu pensamento,

O que me vai por dentro

E o que sufoca meu peito em chamas.



É só um canto

Que grita em nome dos sentimentos

E brada pela verdade.

- Não ! Não quero que agrade,

Mas que sacie toda essa vontade,

Todo esse desejo de vazão. 

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Tempo


Passa o tempo, passa.

Passa rápido o tempo.

Voa o tempo, voa.

Voa tão rápido o tempo!

Passa, passa e voa para longe.

O tempo não volta,

Só passa e voa.

Viva-se todo e qualquer momento

De um jeito intenso,

Nunca à toa.

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Fim de estação


Perdido no passo

o pensamento.

Esquecido o laço, o endereço.

Virado ao avesso, disperso.

Outros ares, outra idade e identidade.

Cheirando a mudança,

A algo que passou.

Na estrada uma cancela:

divisão do que é e o que se foi.

Poeira, água barrenta,

Sede, cansaço, suor.

Roupa nova, barba feita,

Água de colônia, cheiro de fulô.


Tudo opaco, translúcido, transparente.

Questão de momento.

Seres que outrora pares,

agora ímpares, extremos.

Oriente, Ocidente.

Polo Sul, Polo Norte.

Seca, enchente.

Criança, adulto.

Além do horizonte.

É fim de estação.

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Pingos de chuva
(A Beethoven)



O ar…

Gotas de água no ar:

Orvalho.

Entre pingos de chuva,

As notas musicais:

sonata.

Uma elegia à natureza.

Só o olhar e a sensibilidade

percebendo o encantamento

e a magia do chover.

Para os demais

De infinitas gerações:

o prazer

De ouvir, sentir e admirar

Tamanha obra.

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É suicídio


O álcool,

O armamento,

A buzina,

A caça à baleia,

O chiclete,

A cifra,

O cigarro,

A coca-cola,

A cocaína,

O desmatamento,

A guerra fria ou mundial,

A máquina,

O marginal,

O petróleo,

A poluição,

A seca,

A superpopulação

E a violência.


É suicídio

Dividir desigualmente,

Haver fronteiras,

Isolar-se,

Não crer em nada,

Não pensar em nada,

Não ser nada,

Não ter nada

e omitir-se diante de tantos fatos.

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Siesta carioca


O Rio

à tarde

se perde

em meio

ao fastio

da burocracia da velha capital

e aos chopps

sedentos

nos infinitibares

entre a montanha

e o mar.


O Rio

arde

em monotonia

e manha.

Entre um tiro

e outro.

Entre a decadência

e o charme

de sua fama.

(1993)
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Mione Sales – é assistente social, doutora em Sociologia (USP) e professora do Depto de Políticas Sociais (FSS/Uerj). Contato: mioneecia@hotmail.com

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* Frase-homenagem ao poema « Uma palavra » de Chico Buarque.
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Links

http://www.youtube.com/watch?v=je-RTYbzoEk
(« Paciência », de Lenine)

http://www.youtube.com/watch?v=OC3ky2pGuLA&feature=player_embedded
(« Uma palavra », de Chico Buarque)

http://www.youtube.com/watch?v=Ddw6IvKVeg4&feature=related
(« Moonlight sonata », de Beethoven)

3 comentários:

  1. Mimi,
    A emoção toma conta de mim a cada nova revelação que rola entre nós... É tão lindo saber de cada particularidade e talento que cada um traz dentro de si e nos dá de presente(Isto sem contar toda a obra apresentada em cada artigo).

    Peço-lhe, também ao Léo e ao Jeff, assim:

    De forma rapidinha

    Vou-lhes solicitar de forma rapidinha
    Todas as revelações postas nessas linhas...
    Da poesia que corre nas veias
    Aqui e acolá vão formando teias...
    Não parem suas criações
    Pois elas saciam muitos corações
    De muitas almas que só querem
    Viver outras vidas vividas e só!

    Caso contrário "Passa o tempo, passa./Passa rápido o tempo(...)" Viajei com esta sua poesia "Tempo" Linda!! Meus Parabéns!!

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  2. Nel querida, hoje ouvi que "a vida se alimenta da vida"! Tudo a ver... Essa corrente pulsa forte no blog e em todas as redes e pessoas às quais ele está conectado! Obrigada pelo comentário e pelo carinho sempre. Mi*

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  3. Achei "Fim de estaçäo" ótimo.

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