Caros Blog-leitores,
Faz uns dois anos que tive a oportunidade de ler e assistir de viva voz a pesquisa de Nathalie Paton, durante reunião, em Paris, do Centro de Análise e de Intervenção Sociológicas (CADIS-EHESS). Desde o primeiro momento, o seu trabalho pareceu-me original e vindo responder a questões que o decorrer dos anos e outros massacres fora dos EUA confirmariam a amplitude e importância. Depois do episódio de Realengo, não tive dúvida em convidá-la a contribuir com um flash de sua análise especialmente para o leitores do Blog Mídia e Questão Social.
A violência é, assim, segundo ela, menos estrangeira às relações sociais e à cultura do que parece. Seu texto abaixo não vem, portanto, repetir os argumentos, mobilizados à exaustão pela mídia, da desqualificação e desmoralização anteriores do agressor promovida pela experiência de bulliyng - menos incomum do que imaginávamos até então. Nathalie Paton, ao discorrer sobre o episódio de Virginia Tech (EUA, 2007), prefere colocar acento sobre o papel dos media na construção do sujeito na contemporaneidade. Se uma relação necessariamente se estabelece entre as novas tecnologias e a violência, Paton, com o apoio das lentes sociológicas, afirma que, num primeiro plano, trata-se de uma relação passiva e sem grande impacto. Os autores de tiroteios, porém, desenvolvem uma estratégia de resgate da sua virilidade e auto-estima, por meio de uma operação violenta, em que a mídia, coprodutora do evento midiático, não se recusa a promover a visibilidade de tal banquete trágico e seus despojos. E é aí que ações isoladas ganham significado e materialidade.
Mione Sales*
(Editoria Volta do Mundo, Mundo dá Volta)
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Um pouco de luz sobre os autores de tiroteios em escolas e seu público
- Um estudo da experiência social da violência através da mídia -